Coisas de família

(Por José Gabriel, 23/03/2019)

Paulo Rangel


Paulo Rangel, com aquela perspicácia que Deus lhe deu, detectou o grande problema que aflige a democracia portuguesa, que “constitui um atentado gravíssimo ao princípio republicano”, qual seja o da presença de um excesso de relações familiares no governo, uma overdose delas, por assim dizer.

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Com a voz tremente de quem aborda um tema decisivo para a subsistência da própria Pátria, Rangel constrói um discurso que, no tom e no estilo, parece retirado de uma telenovela mexicana.

Apela ao Presidente da República – que, valha a verdade, foi quem deu posse aos sortidos familiares -, acusa-o de não dar a importância ao facto e exige que este seja o tema do discurso da sessão solene do 25 de Abril – ó João Miguel Tavares, isto parece uma ordem…- tal a gravidade da coisa.

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Vamos lá, tem de se admitir que esta reiterada prática por parte do Governo não é muito sensata. Não fere a lei, é verdade. Não fere a ética republicana – embora não deixe de lhe poder provocar um eritema breve, uma alergia comichosa. Mas fere o bom senso. E ainda mais a prudência política – e, se é verdade que a família é um conjunto que se defende em bloco -, não raro se ataca em particular.

Rangel não vê assim. Ele vê uma tragédia, vê uma ameaça fatal à Democracia e espanta-se: “Que as pessoas em Portugal não rasguem as vestes e não se escandalizem com isto é sinal de uma certa doença e de um adormecimento da democracia”.

E aí eu digo: alto e pára o baile! Sabe o deputado o preço da camisa que tenho agora vestida? Já imaginou o prejuízo que, por esse país fora, o seu apelo provocaria? – embora, admito que, ao ouvir tais palavras, receei que o deputado Rangel, logo ali, desse o exemplo. O espectáculo não seria bonito de se ver e podia haver crianças na sala.

5 pensamentos sobre “Coisas de família

  1. Não é um grande argumento de campanha eleitoral uma pessoa candidatar-se a deputado em Bruxelas e ao mesmo tempo a comissário europeu. Pedro Marques foi escolhido para cabeça de lista do PS ao Parlamento Europeu para ocupar o cargo de deputado europeu ou como trampolim para candidato a comissário? A confusão não ameaça ser favorável à campanha do PS ao Parlamento Europeu. Vamos aguardar se o resultado se Pedro Marques não é poucochinho. – Ana Sá Lopes, hoje.

    Fonte: P., 25.3.2019, p. 4.

    Nota. Coisas da famiglia, outras, ou Fun Family Things To Do In Lisbon, Strasbourg And Brussels.

    • Da série “Fun Family Things To Do In #Lisbon, #Strasbourg And #Brussels”

      Secretário de Estado nomeia filho de deputado do PS para assessor, no Expresso online.

      26.03.2019 às 8h13

      Num momento em que as críticas ao Governo de António Costa têm vindo a aumentar devido às nomeações polémicas de familiares para cargos executivos, o “Correio da Manhã” revela esta terça-feira mais um caso: Duarte Cordeiro, secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, nomeou a 11 de março Pedro Anastácio, filho do deputado do PS Fernando Anastácio, para seu adjunto.

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