Será que a Vinci quer mesmo Montijo?

(Dieter Dellinger, 12/01/2019)

montijo

Foto: Aeroporto Humberto Delgado como quer a Vinci.

Quem vai fazer o estudo de impacto ambiental é a própria Vinci (ANA) que já fez um que foi chumbado.

Um amigo que é administrador da ANA disse-me que a Vinci está preocupada em ressarcir-se dos 3 mil milhões de euros investidos no monopólio das concessões aeroportuárias em Portugal, até porque tem um “cashflow” muito baixo da ordem dos 200 milhões de euros e está a investir muito no aeroporto Sá Carneiro, cuja capacidade atual é equivalente à que iria ter o aeroporto de Montijo. Além disso, as ações da Vinci SA caíram 15,87% no ano passado.

António Costa disse que se o estudo de impacto ambiental for chumbado não haverá aeroporto complementar em Montijo nem Plano B. Na verdade, o PSD amarrou a Pátria à Vinci por 50 anos, pelo que ninguém de fora pode assumir o compromisso de investir num aeroporto novo.

A meu ver, a Vinci quer apenas alargar o Aeroporto Humberto Delgado para chegar dos atuais 29 milhões de passageiros aos quase 40 milhões com utilização durante a madrugada que é algo que a CML não quer.

A Vinci não quer investir mais de mil milhões de euros em Montijo e o Estado não está para isso.

Contudo, um aeroporto em Montijo aumentará os lucros do grupo Vinci que é proprietário de 40% do monopólio Lusoponte das duas travessias do Tejo, principalmente da Ponte Vasco da Gama que foi construída para mais de 130 mil carros por dia e ronda atualmente metade desse número.

O PSD fez contratos inimagináveis com a Vinci e a Ascendi francesa das autoestradas que detém 41% da Lusoponte. Assim, a Lusoponte só é responsável pelo piso dos tabuleiros e não pelas infraestruturas, mas mete ao bolso todo o valor das portagens. Sérgio Monteiro do PSD até contratualizou com as duas francesas da Lusoponte que o Estado se encarregaria de cobrir qualquer alteração dos impostos a pagar pela Lusoponte como o IRC e IVA.

É curioso como o Aníbal deu a construção da Ponte Vasco da Gama a uma empresa inglesa de vão de escada pertença da sua amiga Thatcher e do marido e que foi acusada pelos tablóides de ser um escritório de comissões corruptas a receber, encaixar e pagar aos clientes de material de guerra inglês e de grandes contratos.

Logo que ganhou o concurso, essa empresa fechou as portas depois de passar a construção a um consórcio em que a Vinci Highways SAS detinha a direção da obra e escolha dos construtores especializados e acabou por ser a segunda maior acionista das duas pontes sobre o Tejo.

A Vinci gostaria que o segundo aeroporto fosse feito como a Ponte Vasco da Gama que custou o equivalente a 897 milhões de euros, dos quais 319 milhões vieram do Fundo de Coesão da União Europeia, 299 milhões de um empréstimo do Banco Europeu de Investimentos e 50 milhões deveriam ter origem nas receitas da Ponte 25 de Abril que há muitos anos passou dos 40 milhões por ano sem encargos.

Enfim, a generosidade do Aníbal Silva não tinha limites.

 

5 pensamentos sobre “Será que a Vinci quer mesmo Montijo?

  1. Muito interessante. Dias atrás divulguei por aí isto (não na Estátua… que prefere transpor as tretas dos plumitivos do regime)
    O PROJETO AEROPORTUÁRIO DOS GANGS
    1 – Em regra qualquer projeto lançado pelos governos envolve bestialidade e “negócios”; é regra do capitalismo em geral a simbiose entre classe política, finança e grandes empórios globais como a Vinci;
    2 – Em 50 anos após o primeiro equacionamento da construção de um novo aeroporto, aí vem a decisão (até ver) final – maior capacidade para o Aeroporto de Lisboa, um anexo no Montijo e, mais distanciado o tempo, um novo aeroporto, de raiz;
    3 – Tanta fartura de capacidade aeroportuária tem subjacente a continuidade (se não mesmo um maior volume) da enorme bolha turística-imobiliária ainda em curso o que permite a “criação de postos de trabalho”, chavão… por acaso… sempre omisso quanto a qualificações e salários de quantos os irão preencher
    4 – Não há bolhas que não rebentem como se viu recentemente no descalabro da banca portuguesa; e, como se viu e ainda se vê, quem está a pagar (via dívida pública); Quando as redes mundiais do turismo inventarem um novo destino de moda, como será?
    5 – Para favorecer e cumprir os deveres da velha mancebia governo-empresas de obras públicas programam-se investimentos enormes e de valor entre o ignoto e o duvidoso. A Vinci através da ANA terá sempre o investimento assegurado; satisfazem os interesses dos seus acionistas e delegarão aos governos de turno a apresentação da fatura aos indígenas;
    6 – Depois da transformação do território da paróquia lusa, na área europeia com mais quilómetros de autoestradas por km2 e ad criação das famosas parcerias público-privadas para garantir lucros a amigos e conhecidos (da obra pública e da área financeira) é preciso inventar um novo surto de negócios;
    7 – Depois do abandono da via ferroviária para um mini-operador na área dos passageiros (Fertagus) e da carga (a uma transnacional), a saloia governança de serviço borrifa-se no TGV e numa ligação decente até Madrid e para poder aceder à Europa transpirenaica; para não falar na descapitalização da CP (Xi Jiping irá em breve tomar conta do resto que seja rentável?);
    8 – Em termos de aeroportos já existe um mono em Beja, ao qual nunca deram serventia decente; como também não se percebe a existência de tantas bases aéreas militares (incluindo ou não a do Montijo);
    9 – Por coincidência o negócio foi apresentado por um ente – Pedro Marques – natural do Montijo e que se celebrizou anos atrás ao preparar a imposição do factor de sustentabilidade para a entrada na reforma; e que roubou milhares de anos de tempo de reforma aos trabalhadores portugueses.
    Feios, porcos e maus…

    A ponte Vasco da Gama foi muito polémica. Como integrante da equipa que fez o então PROTAML recordo que se defendia a ponte rodo-ferroviária a partir de Chelas, para ligação à linha férrea na margem sul. Era ministro do Aníbal um célebre colecionador de mapas antigos, Ferreira do Amaral (Joaquim) que apontava apenas para uma ponte rodoviária por cima das salinas de Alcochete. A ferrovia no Barreiro, integraria os portos de Lisboa e Setúbal e certamente essa ponte rodo-ferroviária a prazo sairia mais barata que a construção de uma terceira ponte ou “upgrading” da Vasco da Gama. Continuamos com uma ligação ferroviária limitada na Ponte 25 de Abril e outra no … Setil

  2. Nota. A arte literária do Dieter n’A Estátua de Sal é inclassificável* (e inqualificável**), pá.

    #lixo, as excepções existem (alguns maduros como eu).

    Asterisco, um, adjetivo:
    Que não se pode classificar.
    Confuso, desordenado.

    Asterisco, dois, adjetivo:
    Que não se consegue qualificar; que não pode ser alvo de qualificação.
    Que não se consegue qualificar por ser excessivamente abominável: delito inqualificável; comportamento inqualificável.

  3. Não esquecer os agradecimentos ao “catedrático” de Massamá e ao Silva do Poço de Boliqueime por um negócio mais do que ruinoso para o País.

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