Lula livre

(Isabel Moreira, in Expresso Diário, 15/12/2018)

ISA_MOR

Em 2016, quando me desloquei ao Brasil em solidariedade com Dilma Rousseff, fui avisada de que o pior estava para vir. Consumado o golpe parlamentar, os golpistas sabiam que não podiam ficar por ali. Temer nunca teve qualquer apoio popular e Lula Inácio da Silva era, sem margem para dúvidas, o homem que a larga maioria do povo brasileiro queria na presidência.

Qualquer pessoa de boa fé que tenha tido acesso à acusação produzida contra Lula tem de concluir que no Brasil a judicialização da política é um facto. Sérgio Mouro, o juiz que libertou escutas telefónicas ilegais e selecionadas de Lula durante o processo eleitoral e que a partir de Lisboa tratou de impedir a libertação de Lula, contra o decidido no recurso interposto para a ONU, é hoje Ministro da Justiça, confirmando à saciedade que Lula é um preso político. De resto, há várias promoções anunciadas por Bolsonaro de gente que ajudou a assegurar que Lula não ameaçasse o plano eleitoral da extrema-direita.

Na celebração dos setenta anos da DUDH, estive no sindicato metalúrgico ABC. No local histórico onde Lula foi operário e depois preso.

A democracia moderna tem pouco mais do que duzentos anos. Houve muita luta. Luta por direitos civis, sociais e ambientais. Bolsonaro ameaça todas essas lutas, como a equipa que escolheu o comprova. Ameaça conceitos básicos construídos ao longo de duzentos anos, como o direito a uma educação laica, sem preconceitos em relação à liberdade religiosa, mas baseada na ciência, respeitando etnias, género e orientação sexual.

A equipa de Bolsonaro – que não existiria sem uma campanha violentíssima de fake news a uma escala de milhões via whatssapp – põe em risco pobres, negros, indígenas, mulheres e a população LGBT.

Essa investida bárbara em curso precisa de Lula preso. Porque Lula é um símbolo demasiado grande para andar por aí enquanto Bolsonaro desfaz o Brasil social e abraça, de mãos dadas com o fim da laicidade do Estado, um feroz programa neoliberal num país em que a desigualdade tem um significante grande de mais para daqui se falar de boca.

É por isso que a luta contra a barbárie é também a luta por um processo justo para Lula. É uma luta que se insere na caminhada de milhares de democratas que não aceitam o que aconteceu, que sabem que o voto não democratiza um fascista e que querem que Lula não esteja preso, porque não há qualquer sentença transitada em julgado.

Bem sei que há quem não consiga perdoar que Lula tenha tomado medidas como levar água canalisada a quem não a tinha, ou eletricidade, que tenha retirado da pobreza extrema milhões de pessoas, como se negro entrar na Universidade ou empregados sem direitos finalmente empoderados fosse uma afronta para a classe média e alta, branca, feliz com a criada escrava e com a segregação. Na verdade, quem conhece bem o Brasil, percebe que a classe alta despersonalizou os pobres. Os pobres são “os outros”, não entram no estatuto da humanidade.

Há oito meses, Lula estava onde eu estive, cercado de solidariedade, cercado de gente que não se conformava com a sua prisão arbitrária.

Lula foi condenado “por ato de ofício indeterminado”, ou seja, por nada, como o próprio afirmou na carta corajosa que escreveu e que Haddad leu para uma multidão emocionada.

Lula deveria, hoje, ser o Presidente do Brasil. Goste-se ou não se goste dele. É por isso, e só por isso que está preso. Mesmo preso, ele, que disse ser apenas uma ideia, tem tanta força, que estão em curso esforços para o transferirem para uma prisão militar.

O que se passa no Brasil é insuportável. Prender uma pessoa para assegurar um plano eleitoral maquiavélico e premiando o juiz conivente no final deveria unir todas e todos os democratas.

Eu faço do grito “Lula livre” uma das exigências da civilização.

8 pensamentos sobre “Lula livre

  1. «Bem sei que há quem não consiga perdoar que Lula tenha tomado medidas como levar água canalisada a quem não a tinha, ou eletricidade, que tenha retirado da pobreza extrema milhões de pessoas, como se negro entrar na Universidade ou empregados sem direitos finalmente empoderados fosse uma afronta para a classe média e alta, branca, feliz com a criada escrava e com a segregação. Na verdade, quem conhece bem o Brasil, percebe que a classe alta despersonalizou os pobres. Os pobres são “os outros”, não entram no estatuto da humanidade.», como se diz no Brasil isto tem a sofisticação intelectual dos quadrinhos (nem modernaço é).

    Nota. Esta mocinha nasceu nos trópicos, leu os livrinhos da turma da Mónica na infância, imagino que brincou aos médicos, casou-se e divorciou-se, arrependeu-se de quase tudo, foi alcandorada a deputada do PS na quota da Fernanda Câncio pelo ex-ex-e-ex-PS, e na actualidade, ó Manuel G., consegue perceber-se que tem tanto de carne a envolver-lhe os ossos como são incontáveis as ligações inteligentes e sofisticadas que pululam nos seus neurónios.

    http://1.bp.blogspot.com/-wB4yGwOwwVY/ViEfz4L1NUI/AAAAAAAAPBs/7uSCK9eUIuw/s1600/_CB_46_ECA.jpg

      • Porque se o “merda seca” fundasse um blog, ninguém lá ia! Assim, vai cuspindo maledicência e porcaria nos blogs alheios, única maneira de alguns incautos lerem a trampa que lá vai deixando.

      • Ó Manuel G., perante a qualidade literária dos teus MC’s, a sua grandeza política, de uns e dos outros-que-aí-vêm, e a pura inteligência, de uns-que-são-os-anteriores e da generalidade dos comentaristas d’A estátua de Sal, atingindo-se o fim da picada com algumas personagens um bocado peçonhentas cujo comportamento serve, quase sempre, para serem analisados em cativeiro, dizia, acho que os tipos como deveriam ser a toda a hora cheios de miminhos por tentarem transformar este, no caso, num… “blog da boa língua-com-acento-que-sempre-é-mais-giro”! 🙂

        Personagens principais: Mônica; Cebolinha; Magali; Cascão; Bidu; (entre outros).
        Mónica, ela a Isabelinha.
        Cascão? Ou Cebolinhas, tu?

        Nota. Uns dos humilhados (este era o cão nocturno) voltou, aparentemente.

        • Ó Manuel G., o que está a acontecer por aqui n’A Estátua de Sal ainda é mais ridiculo do que habitualmente. Então não é que um trombolho-cujos-métodos-de-roubar-são-bastante-conhecidos da bófia anda por a fazer publicidade a um artigo do Rui Vieira Nery, excelente este tipo!, despejando-o no meio de uns posts que são normalmente abaixo de cão? Desculpa-me, o Deus!

          Nota, Estás a ver iisto bem, pá? Então, imaginemos que, o Nery vale normalmente vinte e, por aqui dia após dia,vão-se dando um trambolhão atrás de tambolhão e, quando chegas aos cinco, sempre a descer!,, começas a passar pelo Carlos Esperança, pela Isabelinha, Vassalo, Dieter Dellinger até chegares ao nível do menos e, então, começas a ler as patetices dos trambolhos que abancam no Aspirina B, «atingindo-se o fim da picada com algumas personagens um bocado peçonhentas cujo comportamento serve, quase sempre, para serem analisados em cativeiro», olará!, que nem conseguem perceber o quão ridícula é a figura a que se prestam?

          Epá, sai um gajo de casa e pensa que vai encontrar um sitio tão asseado como o seu Twitter e vê isto? Esta é mais uma partir o coco, eheheh!

    • no brasil há muitos rfc. conheci na altura das eleições brasileiras, aqui em Portugal um casal de brasileiros prof’s universitários, apoiantes do bolsado e a dada altura da conversa diz-me ele com cara de parvo, “deram uma facada no bolsonaro você soube” ao que Eu respondi: e deram dois tiros na cabeça da outra, o silencio foi tal a partir daí que se ouviam as chamas a sair-lhes por todos os buracos do corpo poros incluídos.

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