O porque tinha que ser…(e a coligação negativa)!

(Joaquim Vassalo Abreu, 01/12/2018)

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A todos aqueles que concluem pelo que já escrevi que eu sou veementemente contra os Professores, tal como o Governo Socialista – como afirmou o Prof. Francisco Anacleto Louçã-, como serei contra os Enfermeiros e suas lutas, e que os odeio mesmo, eu quero dizer que a GRACIETE, a minha saudosa esposa, era Professora, mas Professora em toda a extensão da palavra e sempre foi muitíssimo bem tratada nos seus tempos de doença, tanto no S. João como em casa.

Mas uma Professora que era sindicalizada, e na Fremprof, que fazia as greves pontuais que achava dever fazer, mas que nos tempos finais do Sócrates, mesmo nunca nele tendo votado, não cedeu à tentação de marchar sobre Lisboa, numa pretensa luta, esta sim, do ódio: do ódio contra a pessoa e contra as avaliações… Não, não marchou! E não marchou por duas simples razões: a primeira é que não o odiava e a segunda porque nunca teve medo de qualquer avaliação! Como qualquer funcionário sério e cumpridor não tem que ter…E ainda pela “coligação negativa” aí formada!

Eu, que nunca fui Funcionário Público, nunca de qualquer avaliação tive medo. Tanto directas como subjectivas. Mas o Público é o Público e o Privado é o Privado!

Mas naqueles tempos do Cavaco, nos surreais dez anos entre 1985 e 1995, aí sim ela fez aquela célebre greve de oito dias. Greve que nos custou um mais difícil mês porque, ao contrário dos Enfermeiros de agora, o Sindicato não possuía fundo de reserva para compensar os Professores grevistas. Mas os Sindicatos dos Professores ainda não são uma Ordem, não é verdade? Nem são “patrocinados”, não é verdade também?

E nesse tempo, longínquo tempo, já aí se confirmava ser o PSD o Partido amigo dos Professores! É que, depois dessa greve, a minha esposa viu melhorado o seu escalão e o seu salário aumentado em cerca de 40% (quarenta por cento)! QUEM É AMIGO, quem é?

Diz-se, no entanto, que aí houve uma atenuante: é que o Ministro, que até era do CDS, o Roberto Carneiro, tinha uma dúzia de filhos e a esposa, que seria também Professora, lhe disse que tinha que ter um significativo aumento para alimentar e educar tamanha prole. E o Roberto lá conseguiu convencer o mãos largas do Cavaco…

Vem, portanto, de longe esta estreita amizade entre o PSD e os Professores. E desde aí os Professores foram ficando tão pacíficos e tão cooperantes que só nos finais do Sócrates, esse cavalheiro que além de os querer avaliar, também lhes parou a contagem dos anos de serviço, a sério se manifestaram. E aí com total apoio do Amigo PSD! Os seus apoiantes marcharam todos sobre Lisboa, juntamente com todos os do PCP e do BE! A tal “coligação negativa” que desembocou no chumbo do PEC4 e na entrada impante da Direita na governação.

Uma familiar minha, que também fazia, tal como a minha esposa greves pontuais e também fez aquela célebre de oito dias, de que os/as que não a fizeram também beneficiaram, e que também não marchou para aquele vazio cheio de gente, perguntava às colegas de Escola: então vocês que nunca fizeram uma greve, nem aquelas dos tempos do Cavaco, agora marcharam todas? AH, agora tinha que ser…

Só que depois, nos tempos “pafiosos” do Coelho e da Troika e do seu governo, não mais marcharam, nem mais quaisquer greves fizeram, nem quando esse governo lhes cortou subsídios, cortou salários, criou sobretaxas ao IRS etc, tudo acataram. QUE TINHA QUE SER…

Mas agora que este Governo lhes devolveu tudo o que o anterior lhes tinha tirado (roubado), Porque tinha que ser, não é?, voltaram às greves e os seus representantes partidários do PSD e do CDS voltaram também a apoiá-los…Porque tinha que ser…aliando-se aqui ao “porque tinha que ser” do PCP e do BE porque, como disse o Professor Francisco Anacleto Louça, o tal que ainda fala de uma “Coligação Negativa” contra os Professores”!!!, o Governo os detesta!

Mas tem que ser o quê? Utilizar a nossa reincidente Esquerda, agora apoiante parlamentar do Governo Socialista ainda por cima, os Sindicatos, as Ordens, o celebérrimo Mário Nogueira novamente e ainda a nova “passionária” do PSD, a tal que afirma que as operações adiadas jamais se farão e que os Enfermeiros, depois do seu horário ter sido reduzido para as 35 horas semanais, são uns “escravos” que trabalham o dobro das horas legais de trabalho, para além de quererem a reforma aos 57 anos…para desgastar esse “monhé” metido a besta, esse usurpador, esse das contas certas…

Professor Francisco Anacleto Louçã: Quem é Amigo, quem é?

Senhor Professor: A Coligação negativa não é contra os Professores, é contra o Governo!

2 pensamentos sobre “O porque tinha que ser…(e a coligação negativa)!

  1. Olá sr. Vassalo!

    Respeitando a sua opinião, queria apenas corrigir algo que insinua no artigo por clara desinformação.

    O fundo que refere, é um fundo para o qual todos os enfermeiros que quiseram, sindicalizados ou não, contribuíram nos ultimos meses. Isto para que os nossos colegas do bloco operatório pudessem participar na greve.

    Sabe, não me considero escravo, mas durante muitos anos, trabalhei mais de 50 horas por semana por falta de meios humanos nos serviços.

    Horas extra? nem vê-las. Era para banco de horas quando desse jeito ao serviço.
    Mas olhe, deram bastante jeito essas horas, estava a usá-las quando uma colega minha apanhou tuberculose de um paciente…

    Podemos não ter um salário que nos compense o trabalho por turnos, podemos não ter um salário que contemple o risco da profissão, mas ao menos temos um salário de acordo com os outros licenciados do estado. Ou se calhar não, é melhor ir rever os números antes de estar aqui a dizer asneiras.

    Sabe, nem todos estamos nesse jogo dos sindicatos e partidos. Somos apenas enfermeiros com bom senso.

    Nem todas reivindicações dos sindicatos, são as reivindicações de todos os enfermeiros, mas estamos juntos na luta.

    Não queremos amigos no governo, só queremos que governem com bom senso e sem autismos.

  2. “Mas agora que este Governo lhes devolveu tudo o que o anterior lhes tinha tirado (roubado)” Isto NÃO é verdade! O “roubo” no caso dos professores e para usar as palavras do autor começou nos tempos de Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues com o congelamento da progressão na carreira, ao mesmo tempo que se aumentava o horário de 22 horas para 26 a 27, sendo estas horas a mais, para trabalho na escola, em aulas de substituição de colegas em falta ou apoios aos alunos, horas que obviamente não se traduziram num aumento do salário. Também no tempo de MLR se impôs uma avaliação que é subjectiva, altamente burocrática, que não avalia todas as vertentes do trabalho de um professor, sujeita a quotas aplicadas pelas direcções das escolas e onde se pretendeu apenas criar na carreira vários entraves à progressão até ao topo. Topo que calculo muito respeitosamente a esposa do autor tendo mais idade certamente tenha atingido, os mais “novos” já não o conseguirão. O estatuto da carreira docente também foi alterado por MLR mudando-se os escalões e criando-se mais um escalão para onde ninguém foi, a não ser agora, 10 anos depois e diminuindo-se o salário pago em cada um desses escalões. Todos os professores nessa altura desceram do escalão onde estavam para um mais baixo, com esta “nova carreira” e tiveram de cumprir mais tempo em cada escalão do que o inicialmente definido. Todas estes aspectos negativos estiveram em jogo nas manifestações do tempo de Sócrates e na revolta dos professores.
    Continuando a falar de roubos, em 2010 os professores progrediram após terem realizado avaliação, mas o consequente aumento salarial só durou um ano, pois em 2011 foi retirado com um dos PEC do Sócrates, tendo também voltado o congelamento da carreira pela mão de Sócrates. Veio o governo PAF e cortou ainda mais e ao contrário do que diz houve manifestações de professores e até greves. Com o governo da gerigonça de facto descongelou-se a progressão e acabou-se com a sobretaxa ao fim de um ano ou dois. Mas o IRS continua a ser tão alto que o salário de cada escalão é inferior a 2010 e o que se paga pela ADSE continua também a ser alto como nos tempos pafiosos. Os anos de congelamento foram muitos e o que se recebe em cada escalão é mais baixo. Assim se o tempo nunca vier a ser contabilizado a grande maioria dos professores nunca estará num escalão actualizado com o seu tempo de serviço, e quem está agora com 20 a 25 anos de serviço, está apenas nos escalões de início devido aos congelamentos e sem perspectivas de chegar ao topo ou perto!! E atente-se que não há promoções na carreira dos professores, nem se progride por pontos, como em outras carreiras da função pública, o que conta mesmo e sempre contou foi o tempo de serviço, quer para concursos, quer para progressão a juntar à avaliação que volto a dizer é decidida pelas direcções das escolas o que é altamente subjectivo!! O PS deveria já ter pensado em contabilizar mais tempo de serviço, mesmo que de forma faseada nem que fosse em 10 anos! Creio que muitos professores aceitariam isto. Agora propor só 2 anos, com regras que causam ultrapassagens entre os professores, cuja a maioria tem salários baixos e acima de tudo parecer que basicamente se anda a querer empurrar este problema com a barriga até à próxima legislatura para aí voltar a mudar o estatuto da carreira docente ou acabar com ele isto é inaceitável num governo de esquerda! Os professores não são parvos e sentem-se enganados por um governo que ajudaram a eleger. Neste momento têm uma carreira estrangulada e condições de trabalho muito diferentes daquelas que tinham quando há mais de 20 anos (meu caso) começaram a trabalhar nesta profissão. Os horários são sobrecarregados e a proclamada autonomia não existe ou então está sempre limitada por questões financeiras! As constantes alterações legislativas no modelo de ensino, feitas em cima do joelho e impostas à pressa também não ajudam e causam descrédito numa classe que estando no terreno e tendo a experiência é sempre desconsiderada a favor de académicos que não dão aulas há muito ou ministros que não sabem o que é ser professor! É por tudo isto e muito mais que nos manifestamos!

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