O “novo” Bloco de Esquerda

(Pacheco Pereira, in Sábado, 18/11/2018)

JPP

Pacheco Pereira

A arrogância política do Bloco de Esquerda é um dos limites naturais ao seu crescimento, porque inquina as suas posições e as torna sempre demasiado ofegantes e self-righteous, logo excessivas. A esta arrogância política acresce a arrogância moral que encalhou com sérios estragos no caso Robles. Mas o Bloco tem um papel na vida política portuguesa que é ser o PS de esquerda, o equivalente ao antigo PSU em França e ao PSIUP em Itália, o que torna essa fronteira entre o Bloco e o PS uma linha da frente de todas as batalhas.

Como se vê o Bloco é muito mais agressivo verbalmente com o PS do que o PCP, embora a fractura entre o PCP e o PS seja muito maior. PS e PCP vêem-se, como sempre se viram, como entidades distintas, que se aproximam e se afastam em função dos interesses de um e de outro sem se misturarem. Com o Bloco não é assim, estão demasiado perto, comem à mesma mesa, dormem na mesma cama.

A comunicação social, toda colada uma à outra partilhando a mesma “narrativa” sem diferenciação, diz -nos que o Bloco mudou, está preparado para ir para o governo, “amadureceu”, aburguesou-se”, des-radicalizou-se. Na verdade, esta mudança já se deu há muitos anos, e o que se passa agora é o desenvolvimento natural de algo que está na génese do Bloco e na hegemonia dos trotskistas no seu seio. Se há coisa parecida com o que é o Bloco é com o PSR.

Para isso ter acontecido deu -se uma perda de influência significativa da UDP entre os grupos fundadores, mais numeroso que os militantes que vieram do PSR, mas que, do ponto de vista táctico e estratégico, nunca “mandaram” no Bloco. Enquanto os herdeiros da UDP tinham ligações com o mundo sindical e operário, os do PSR tinham com os intelectuais e a juventude “radical chic”.

Enquanto os primeiros voltavam a sua atenção para a competição com o PCP e com a CGTP, os segundos interessavam-se, na velha tradição do trotskismo francês, pelo PS. Os primeiros tinham passado de moda, os segundos estavam na moda e conseguiram todas as cumplicidades necessárias, em particular na comunicação social.
É por isso que não há mudança, mas sim evolução na continuidade.


 O CV de Portas
Esta é uma versão divulgada por uma empresa que vende os seus serviços (dele) do currículo de Paulo Portas:

Paulo Portas é Vice-Presidente da Confederação de Comércio e Indústria de Portugal, para além de Presidente do Conselho Estratégico da Mota Engil para a América Latina. Desempenha também cargos de administração no board internacional de Petroleos de Mexico (Pemex) e faz ainda consultoria estratégica internacional de negócios, sendo para efeito founding partner da Vinciamo Consulting. Dá aulas de mestrado Geo Economics and International Relations na Universidade Nova e na Emirates Diplomatic Academy; dirige seminários sobre internacionalização e risco político para quadros de companhias multinacionais e é ainda presença frequente na televisão em comentários de política internacional e speaker da Thinking Heads em conferências. Foi ministro da Defesa, ministro dos Negócios Estrangeiros e Vice-Primeiro Ministro de Portugal.

Na verdade, o currículo devia começar no fim: foi pelos cargos políticos que teve em Portugal que Portas tem os vários empregos de lobista que elenca por todo o lado, do México a Angola, passando por Portugal. Se tivesse de fazer uma declaração de interesses, mesmo para presidente de uma Junta de Freguesia, e este fosse um País a sério nestas matérias, ele não podia ter nenhum cargo político em qualquer lugar da hierarquia de um Estado. Se fosse um estado a sério seria assim, mas suspeito que a carreira política de Portas esteja acabada. Ele entrará, voltará e sairá, o que é fundamental para um lobista, para refrescar os seus contactos e as suas informações.

Portas, como acontece com outros lobistas, não tem especial preparação para estas funções, se elas fossem definidas pelos seus títulos pomposos. Mas tem os contactos, e tem a informação que anos de governação em áreas sensíveis lhe deram. Aliás, como se viu no Ministério da Defesa, não a terá só na cabeça, mas no papel, visto que está por esclarecer o que aconteceu aos milhares de fotocópias que teria levado para a casa, em violação da lei. Mas nestas matérias, o País também não se toma a sério. Hoje bastava uma pen, é mais discreto.

Um homem que hoje se sente bem fazendo isto agora, já o fez antes, ou pelo menos posicionou-se para as poder fazer, depois de “sair da política”. Não é caso único. Mas é um caso dos mais sérios de promiscuidade entre a política e os negócios e os bolsos dele.

5 pensamentos sobre “O “novo” Bloco de Esquerda

  1. «o que aconteceu aos milhares de fotocópias que teria levado para a casa»
    Quer-se dizer, devia ter sido chamado a explicar-se. Contudo, em Portugal no pasa nada.
    Para o MDN seguinte, PS, nada de estranho, está-lhes na genética centralbox.
    « nós somos púnicos, parecemo-nos com os mercenários de Amílcar e todos esses matreiros do mediterrâneo. Nós somos girinos»
    “O quinto império”
    Dominique de Roux (1977, Paris)

  2. Bem, já que se dá ao gosto de publicar “um largo pequeno excerto” do CV de lobista de PP, ficamos à espera da publicação do “excerto do pico” do CV lobista mais elevado da UE que foi PM de portugal e Presidente da UE chamado Durão Barroso.
    Para tanto não lhe faltarão dados e saber uma vez que foi seu amigo e apoiante de todas as suas ignóbeis farsas.

  3. Diz Pacheco Pereira que o BE é o “PS de Esquerda”, que quer comer, não criancinhas ao pequeno-almoço mas, o eleitorado descontente com o Centrismo do PS. Um eleitorado que, diz ele, estes partidos partilham.

    Diz Pacheco Pereira que a “des-radicalização” do BE só é aparente, que só cai nela TODA a imprensa, e só se livra de cair o único atento em Portugal, o caro Pacheco pois claro.

    Diz Pacheco Pereira que o BE foi feito de UDP com cheiro a colarinho-azul, mas está a ser transformado em PSR de colarinho branco “chique”. E que isso devia ser um alerta para quem, insinua ele, votará BE ao engano.

    Pois digo eu, desde já decidido eleitor do BE em 2019, que o BE não é o “PS de Esquerda”, mas sim uma alternativa ao PS em tudo, quer ideologicamente, quer nos hábitos. Com o BE no poder, dificilmente veríamos poucas-vergonhas como a repetição da votação nas rendas da energia, ou a falta de transparência na questão das touradas. O BE não disputa o mesmo eleitorado do PS, disputa o eleitorado que nunca na vida votaria PS (ou decidiu não voltar a votar), não por ser partido de Centro, mas por ser casa de “formação” de Sócrates, Jorge Coelho, Carlos César, e companhia… por ser o partido que aumenta a função pública e ignoras os escravos do sector privado… por ser o partido que era de António Arnaut, o pai do SNS, mas agora passou a ser de Maria de Belém, a cangalheira do SNS!

    Também digo eu, que o BE já deixou de facto de ser um partido de Esquerda-Radical, caso contrário nunca poderia ter aceite apoiar um governo de Centro. Seria paradoxal. No que o BE é radical, é na forma radicalmente diferente como se distingue do Euro-fanatismo do PS, na forma radicalmente diferente como critica a ordem Ordoliberal que nos é imposta por Bruxelas e Berlim (a que o PS se curva em troca de um ou dois lugares neste ou naquele banco ou grupo). O BE já não é Radical, mas continua a ser radicalmente diferente do PS.

    E finalmente digo eu, que se há força por trás do crescimento do BE, é o eleitorado de colarinho azul que tanto tem sofrido às mãos do PS. Veja-se o caso dos trabalhadores do Porto de Setúbal que fazem contratos diários à jorna, há décadas, e graças às anteriores e atuais leis laborais made in PS+PSD/CDS, não têm direito a mais nada, a não ser serem escravos do século XXI, carne para canhão do capitalismo selvagem, a cujos atropelos partidos do Centro como o PS fecham os olhos por toda a Europa, exceção feita ao Labor de Corbyn.

    Sim, por trás até pode haver, e há, uma base sólida de pensamento de elites de Esquerda, mas esse pensamento é em favor dos de colarinho-azul. O inverso do PS, que só veste a camisa casual em tempo eleitoral, para depois, quando tem o poder na mão, ir vestir o fato e gravata e fazer pouco diferente do PSD do caro Pacheco Pereira, esse sim um antro de “juventude radical chic”, daquele que se acha no direito, de berço, de ser superior, impedir a mistura de classes, e espezinhar quem trabalha. Enfim, o resultado de muitas “universidades” de Verão PSD, esse sim RADICAL, de onde já saíu o “professor catedrático” Passos e sua entourage Observadora…

    O caro Pacheco diz-se Social-Democrata, no sentido não conspurcado pelo partido laranja, ou “tutti-futti” ou lá como é que a PJ lhe chamou… Portanto diz-se de Esquerda. Mas assim que pode, morde na mão do único partido em Portugal que tem vontade de defender algo que se assemelhe a essa ideologia dentro do espaço Europeu. Exatamente porque é um partido que percebe, ao contrário do PS, que para poder servir o eleitorado dessa forma, não há espaço dentro da moeda única.
    Não é um paradoxo. É o único futuro digno possível, sem nem mais nenhuma troika, armada em “salva-vidas” perante a nossa impossibilidade de imprimir moeda.

    Ora, que tipo de eleitorado é que podem partilhar partidos assim tão diferentes? Ou melhor, porque é que Pacheco Pereira, que tantas vezes acerta em cheio, usa agora o seu espaço público para errar tão clamorosamente? Eu respondo: leiam o texto dele outra vez, mas substituam BE por PSD… É isso que está em causa: PSD é o “PS de Direita” um partido em tudo semelhante aos Rosas, na política e nos casos, des-radicalizou-se com Rui Rio (que Pacheco apoia desde início), é um partido por quem, aqui sim, TODA a imprensa cai de ilusões, a tal ponto que quase nem sobra tempo de antena para os restantes.

    E é um partido, o PSD, de vários blocos, em que a maioria social das bases (moderada, e tendencialmente centrista) está nas mãos da minoria das “elites” do partido (radicais NeoLiberais).
    Enquanto os primeiros passaram de moda, os segundos são quem dita o discurso (ou melhor, quem repete em Portugal o que lhe mandaram dizer nas reuniões do PPE), e conseguiram todas com cumplicidades necessárias, em particular no grande capital, não necessariamente nacional.
    É por isso que, mesmo com Rui Rio, não há mudança. Apenas continuidade na mediocridade e vacuidade de alternativa.

    Perante isso, e perante a consequente descida nas sondagens, resta-lhes atiçar o BE contra o PS, e vice versa, como o tipo da CIP fez, e aqui o Pacheco faz, a ver se a Geringonça se desfaz. Se não for com zanga entre as Esquerdas que “disputam o mesmo eleitorado”, então ao menos que seja com a maioria absoluta do PS, que como todos sabemos, equivale a voltar a ter o PSD do caro Pacheco Pereira no poder, mesmo não estando lá…

Deixar uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.