Quatro perplexidades sobre o show judicial da semana

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 16/11/2018)

Daniel

Daniel Oliveira

(Continua a bandalheira da mediatização, até à náusea, de actos processuais com o patrocínio/conivência da nossa Justiça.
Para aumentar as audiências, só falta aos senhores magistrados exigirem que os espectáculos com as prisões e/ou interrogatórios a arguidos também só paguem 6% de IVA!

Comentário da Estátua, 16/11/2018)


Qualquer pessoa que tenha acompanhado o que escrevo sabe o que penso sobre o último mandato de Bruno de Carvalho. E sabe o que penso das suas responsabilidades, mesmo que não criminais, em relação ao que se passou em Alcochete. E sabe o que penso sobre o que ele disse depois de Alcochete. E sabe o que penso das claques e do seu comportamento, agravado pelo facto de a Juventude Leonina ter publicado esta semana, na sua página oficial, um cartaz de solidariedade com alguém que é suspeito de participação num ato criminoso de enorme gravidade (“Musta, tens um exército a teu lado”, pode ler-se na página de Facebook da claque).

No que toca ao que o Sporting tem de fazer, espero que finalize rapidamente o processo disciplinar contra Bruno de Carvalho e ponha na ordem quem julga que pertencer a uma claque de um clube lhe garante impunidade legal e moral. Sobre tudo isto escrevi na segunda-feira. E sobre a Justiça, disse na altura: “À hora a que escrevo não é clara a razão da detenção, a um domingo, de alguém que se tinha apresentado voluntariamente. Nem a razão para se terem feito as buscas à casa da Juventude Leonina e a detenção do seu líder minutos antes do início de um jogo do Sporting.”

Com a libertação de Bruno de Carvalho e Nuno Mendes (“Mustafá”), já se podem dizer algumas coisas sobre o espetáculo a que assistimos no último fim de semana. E quase nenhuma deixa a Justiça bem vista.

Já nem vou perder tempo com as trapalhadas que nos revelam como está a funcionar a Justiça – desde um juiz que se esquece de avisar os advogados do pedido de especial complexidade de investigação a uma greve há muito marcada que atrasa o anúncio das medidas de coação, passando pela incapacidade de localizar Jorge Jesus, que toda a gente sabe onde está. Fico-me apenas por quatro perplexidades mais imediatas.

Primeira: porque se escolheu fazer uma busca na “casinha” da Juventude Leonina e a detenção do seu líder durante um jogo do Sporting, contribuindo para acicatar paixões clubísticas em vez de favorecer a serenidade deste processo? Parece que o Ministério Público continua a ter uma atração insuportável pelos holofotes. Que corresponde, como não podia deixar de ser, ao striptease, quase em direto, de toda a investigação. Estou à espera das transmissões áudio (ou mesmo vídeo) do interrogatório a Bruno de Carvalho.

Porque se escolheu fazer uma busca e detenção durante um jogo do Sporting? O que esperava a GNR encontrar na sede da claque e na casa do seu líder quase meio ano depois dos acontecimentos? Porque foram Bruno de Carvalho e Nuno Mendes detidos a um domingo, para serem ouvidos quatro dias depois? Faz algum sentido a acusação de terrorismo?

Segunda: o que esperava a GNR encontrar, na sede da claque e na casa do seu líder, quase meio ano depois dos acontecimentos? Imagino que a descoberta de 20 gramas de cocaína e algum haxixe justificam tamanho aparato policial e mediático, mas duvido seriamente que contribua para descobrir o que aconteceu em Alcochete. Nem os membros das claques são tão burros que guardem alguma prova do seu envolvimento no caso durante tanto tempo.

Terceira: porque foram Bruno de Carvalho e Nuno Mendes detidos a um domingo, quando não poderiam ser ouvidos pelo tribunal? Não havendo qualquer risco de fuga – Bruno de Carvalho já se tinha apresentado antes para depor e, como se viu, a medida de coação foi a menos gravosa de todas –, para que raio se mantêm detidos dois inocentes (é isso que são até prova em contrário) durante quatro dias? Para alimentar o espetáculo mediático?

Quarta: à luz de tudo o que sabemos sobre o caso, faz algum sentido a acusação de terrorismo? Neste assunto tenho de ser mais benevolente com a Justiça do que com o legislador. Como a lei inclui no terrorismo tudo o que corresponda a um grupo organizado para intimidar certas pessoas ou grupos de pessoas através de crimes contra a integridade física e contra a liberdade, cabe lá imensa coisa. Incluindo o que obviamente não é terrorismo. Mas o Ministério Público não deve esticar a corda para conseguir bons títulos e nenhuma condenação. O bom senso também é preciso na aplicação da lei.

Muita gente não compreende a exigência do Estado de Direito e confunde-a com cumplicidade com o crime. Ou só a compreende quando lhe dá jeito. Defendi a destituição de Bruno de Carvalho depois de Alcochete e também por causa de Alcochete. Considero que o perfil do líder da Juventude Leonina corresponde a quase tudo o que está errado nas claques e no futebol. E acho que, a serem culpados, conspiraram contra o meu clube, provocando-lhe um enorme prejuízo moral e financeiro. Espero, aliás, que o Sporting se constitua como assistente neste processo. Como fez no processo e-toupeira, mas aqui com redobradas razões. Mas nada me fará abandonar a exigência de uma Justiça eficaz, que respeite os direitos liberdade e garantias dos cidadãos e que trabalhe menos para os holofotes e mais para o cumprimento da lei. Já cansa tanto espetáculo.

 

4 pensamentos sobre “Quatro perplexidades sobre o show judicial da semana

  1. Manuel G, acho que não estou equivocado mas a “bandalheira da mediatização, até à náusea” de que falas, tratando-se deste e doutros artigos sobre o Sporting assinados pelo Daniel Oliveira (e parto do princípio de que o leste e entendeste, olha lá!), reside é na cabecinha dele. E na tua, solidariamente.

    Aliás, não deixa de ser impressionante que o blogue publique, sem mais, um post inenarrável do sôtor Bruno Preto que, anteriormente, tinha sido gozado no Expresso online e cuja prosa começa por agradecer, imagine-se, ao Arnaldo Matos do… MRPP. E mais: acredita que me estou nas tintas para aprofundar o assunto, mas este último post parece que vem unir as pontas de uma meada enleada, com algum tempo já, em que entrou, nomeadamente, a tal canelada à filha do Garcia Pereira ex-MRPP num dos posts antigos do Joseph Praetorius (lembras-te?)… ela que teve, sabe-se, um papel destacado na comissão de gestão que conduziu à AG do Sporting e que, finalmente, permitiu aos sócios que varressem o Bruno de Carvalho com o resto do lixo. E que disse coisas corajosas, se quiseres quentes e boas pois estamos na época das castanhas, sobre a sanidade mental, o vil metal, a moral (ou a falta dela) e as idiossincrasias capitalistas do antigo… Grande Educador da Classe Operária.

    Em conclusão, de facto, o que se pode dizer é que estes kotas Têm os Apêndices-de-Creta Todos Queimados (livro de instruções, chave: TosCTF). Mas siga o baile, qu’A Estátua de Sal nos contempla e gosta bué.

    ______

    «Primeira: porque se escolheu fazer uma busca na “casinha” da Juventude Leonina e a detenção do seu líder durante um jogo do Sporting, …?», porra.

    Ó Daniel Oliveira voltamos a esta conversa? Isso pode ser sintoma de uma coisa feia que se escreve com bê, cuidado.

    @Sporting_CP

    RFC diz:
    Novembro 12, 2018 às 10:12 pm
    «À hora que escrevo não é clara a razão da detenção, a um domingo, de alguém que se tinha apresentado voluntariamente. Nem a razão para se terem feito as buscas à casa da Juventude Leonina e detenção do seu líder minutos antes do início de um jogo do Sporting.», enfim.

    Nota, 4ele. Prometo que vou ler o artigo de enfiada, a seguir, mas assinalo que esta malta do Sporting é mesmo engraçada (não sei o que é que vai naquelas cabeças para escreverem cada palavra do parágrafo em epígrafe, não sei mesmo). O líder da Juve Leo está acusado de tráfico de droga, diz-se, pelo que as buscas num dia de jogo quando a clientela está reunida tiveram estrategicamente toda a lógica (embora, caro Daniel, o uso de substâncias orgânicas ou químicas sirva como atenuante para que os tipos da vossa claque passem duas ou três horas a puxar pelo clube do Campo Grande…). Sobre o Bruno de Carvalho, de quem o Daniel foi também um dos destacados membros da Comissão de Honra da última candidatura, está aqui um rascunho do que pode vir a ser o seu cadastro ao vivo e a cores.

    • Adenda, em tempo (que este assunto está online, mas para digestivo há melhor).

      […]

      Tu, que me tratavas por filhota, tiveste a ousadia de escrever três textos que puseste o teu tapete, aka Carlos Paisana, a assinar, no qual pretendes que o meu pai escolha entre vocês e a família. (Talvez porque vês o mundo à tua – pequena – semelhança e tudo o que sabes da noção de família desde que a Albertina morreu é o que tens: uma filha doente e outro com quem não falas).emelhança e tudo o que sabes da noção de família desde que a Albertina morreu é o que tens: uma filha doente e outro com quem não falas).

      Tu, que te arvoras num grande exemplo, aliás no único exemplo, és aquele que, em pleno restaurante do aeroporto da Madeira, te recusaste a aceitar um guardanapo de papel e gritaste ao empregado: “isso nem me serve para limpar o cú”. Grande Educador, Arnaldo. Grande protector da classe operária.

      Tu, que te arvoras num grande exemplo, aliás no único exemplo, és aquele que maltratas sistematicamente os trabalhadores que, contigo, se cruzam, por exemplo no Aeroporto do Funchal, quando se vêem obrigados a explicar-te que és um passageiro como os outros. Grande Educador, Arnaldo. Grande protector da classe operária.
      Tu, que te reclamas o direito de por e dispor de um partido, és aquele que ficaste anos fechado em casa, à espera que te levassem os cigarros e os jornais. E eu sei. Sabes porquê? Porque, aos domingos, tinha de esperar dentro do carro do meu pai que acabasse a sessão de beija mão para ir, finalmente, buscar os meus irmãos.

      Aqui, qu’estes kotas Têm os Apêndices-de-Creta Todos Queimados (livro de instruções, chave: TosCTF): http://pravdailheu.blogspot.com/2015/12/rita-garcia-pereira-defende-o-pai.html , free.

      • RFC, tu ainda não percebeste uma coisa. Quando critico ou publico alguém que critica a forma como a Justiça anda a actuar, arrasando todos os formalismos e procedimentos a que está obrigada, tal não implica que eu defenda os arguidos ou candidatos a arguidos, chamem-se eles Bruno de Carvalho, José Sócrates, ou zé dos Anzóis, ok? Espero que não seja preciso fazer um desenho. 🙂

        • Manuel G., o que eu acho é que deves admitir que não percebes nada sobre como se faz a arte da investigação criminal (nem sobre a arte dos bandidos do MP, que felizmente por aqui não há outra).

          Ora, não pode vir nem tu nem o senhor Daniel Oliveira que há um longo-longo tempo terá sido jornalista (ou o Magalhães e Silva na SIC, qu’é advogado de barra que eu saiba, pois vi-o ali ou na SIC N) dizerem que não sabem o porqu’é que as coisas foram feitas assim pelo MP, e não assado nem cozido ou, ainda, seguindo uma dieta Vegan.

          Ora, tentemos ao menos e dediquemos uns breves minutos a alinhar uma ou duas ou três ideias mas com pés e cabeça (1+1+1 igual a três).

          1. A rusga à tenda do Mustafá onde se vende haxixe, do bom?, e cocaína funciona nos dias dos jogos em Alvalade, aparentemente. Os zuns-zuns de que ele é o dealer encontram-se por exemplo, imagine-se!, numas destrambelhadas declarações do skin Mário Machado quando, em 2017 ou já em 2018, anunciou que seria candidato a líder de uma das claques daquele fantástico clube de camisolas às riscas de nome Juve Leo. É googlar, easy.

          2. Se a acusação do MP ia, como foi, no sentido de que o dealer sempre obedeceu a ordens do Bruno de Carvalho, uma tese óbvia para mim (eu o disse, aqui há tempos e n’A Estátua de Sal: que ali ambos se alimentavam mutuamente…), o antigamente endeusado pelo Daniel Oliveira de nome Bruno teria de ser detido, exactamente, ao mesmo tempo (evitando tudo o que se possa imaginar, nem que fosse uma fuga até ao café no outro quarteirão, ou, sei lá, umas férias nostálgicas até Moçambique, despejar algo pela sanita, etc.) E assim surgiram as 17h30, claro como água apesar do sôtor José Preto ficar a espernear um pouco mais.

          3. Outrossim, o que a confusão neuronal do Daniel Oliveira permite explicar é que a Justiça tem para exibir, sopremos um balão e repara só na Jus-ti-ça!, são alegadas «trapalhadas que nos revelam como está a funcionar a Justiça – desde um juiz que se esquece de avisar os advogados do pedido de especial complexidade de investigação a uma greve há muito marcada que atrasa o anúncio das medidas de coação, passando pela incapacidade de localizar Jorge Jesus, que toda a gente sabe onde está.». E pronto, imagine-se só: o Jorge Jesus seria convocado para depor através da conta no FB da mulher, ou do filho?; se o Juiz lixou qualquer coisa, e parece que sim, foram nomeadamente os prazos de investigação do MP (especial complexidade, lembram-se?); e a greve, ai as greves!, terá sido culpa da magistrada do DIAP que manda mais no tribunal do Barreiro do que o… Arménio Carlos e a CGTP todos juntos (o Daniel deve ser do tempo em que o PCP sabia tudo, na hora, o que se passava nos tribunais e aquelas bandeirinhas agitadas, por estes dias, pelo menos para mim significou que algo se mantém… ainda). Né, Daniel?

          Quanto ao resto, o facto de estarem 38 tipos em preventiva há seis-6-seis meses (entre os quais o Fernando Mendes, o outro, da extrema-direita e das suásticas é verdade) e que, assim, permanecerão até ao dia do julgamento, nomeadamente chavalos com 18 ou 19 anos para quem isto é uma excelente maneira de os lixar para o resto da vida, a tua proclamação de uma gravidez contra o «arraso [de] todos os formalismos e procedimentos a que está obrigada», nem uma linha nem antes, nem durante, nem depois.

          E do arrependido, salvo seja, que neste processo terá feito, pelo menos, uma IVG e que se anuncia, agora, como o portador de uma nova e feliz gravidez no que às coisas do Sporting Cube de Portugal diz respeito, chamado Daniel Oliveira, aguém sabe se pensa sobre o assunto importante alguma coisa?

          #Tangómetro™, pois, um-dois experiência três-quatro-e-cinco.

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