Tancos trouxe de volta o velho Marcelo. E não é desse que o país precisa

(Martim Silva, in Expresso Diário, 05/11/2018)

martim

(Queres ver que o Célinho deu um tiro no pé? Estas juras de ignorância sobre o suposto “encobrimento” do caso de Tancos, com indirectas ao Governo, e com a retribuição florentina de António Costa a mandar Marcelo tomar calmantes para baixar a ansiedade, cada vez mais me faz lembrar dois ditos populares que passo a enunciar:

  1. Chama-lhe puta antes que te chamem a ti;
  2. Zangam-se as comadres descobrem-se as verdades.

Declaração de interesses: a Estátua jura, por todos os anjos e arcanjos, que não sabe, ela sim, de coisa nenhuma sobre armas, roubos, devoluções, inventários e conspirações, sejam ocorridos em Tancos, sejam ocorridos em Freixo de Espada à Cinta. 🙂

Comentário da Estátua, 05/11/2018)


Durante muitos anos, Portugal teve uma figura, podemos dar-lhe genericamente o nome de Marcelo Rebelo de Sousa, que se notabilizou, no jornalismo como na política como no comentário político, por ser o verdadeiro criador dos factos políticos. Alguém que dominava de tal forma os mecanismos do jornalismo político e do espaço mediático, que os usava e moldava a seu bel-prazer. A célebre história da vichyssoise com Paulo Portas é um de muitos exemplos que mostravam uma faceta de alguém genial, manipulador, maquiavélico e pouco confiável.

Entretanto, foi eleita Presidente da República, em 2016, uma figura moderada, sensata, interventiva, com sentido de Estado, próxima dos portugueses e da sua realidade e das suas expectativas e anseios. A essa figura podemos dar genericamente o nome de Marcelo Rebelo de Sousa.

Em comum, as duas figuras nada tinham.

O que se perdeu em animação nos bastidores político-mediáticos ganhou-se num Presidente da República de mão cheia, apoiado dois anos e meio depois de eleito por uma esmagadora percentagem de apoio popular à sua atuação.

Nas últimas semanas, Marcelo Rebelo de Sousa teve de vir a público várias vezes para, de forma recuada e defensiva, falar do caso do roubo de material militar de Tancos. Garantiu, repetiu e voltou a repetir que nada sabia, procurando afastar qualquer névoa de suspeita que pudesse pairar sobre o conhecimento da Presidência do episódio de encobrimento da recuperação das armas.

Com Tancos, o Marcelo Rebelo de Sousa das últimas semanas não é o Marcelo Presidente, é o Marcelo criador de factos políticos, que de tanto fazer cenários por vezes parecer dar nós em si próprio

A dado momento, Marcelo Rebelo de Sousa, para desviar atenções e criar um facto político, lembrou-se de numa inócua iniciativa à volta da Web Summit lançar uma espécie de pré-candidatura presidencial em 2021: “Não dormi muito, como é habitual. E pensei: há alguma vantagem adicional para a minha vida de ter dez anos da Web Summit em Portugal? E eu disse: bom, há algo que pode tornar-se um efeito colateral, não necessariamente muito positivo, que é ter a responsabilidade de me candidatar novamente à Presidência”.

A frase parece bizarra, não parece? Mas foi dita desta forma. Isto permitiria, terá pensado Marcelo, voltar a controlar o tempo e o espaço político e mediático. Mas fê-lo de uma forma de tal maneira tosca que a seguir veio garantir que se tinha tratado afinal de uma brincadeirinha.

A recandidatura de Marcelo é uma espécie de segredo de polichinelo e não é propriamente o tipo de notícia que se possa considerar surpreendente. Mas, ainda assim, há formas e formas do chefe de Estado dizer publicamente que pretende lutar por ficar mais cinco anos em Belém, quando antes prometera não abordar para já o tema.

O problema, verdadeiramente, não é o anúncio tosco de uma recandidatura. Porque isso pode acontecer. O problema disto é que o Marcelo Rebelo de Sousa das últimas semanas não é o Marcelo Presidente, é o Marcelo criador de factos políticos que de tanto fazer cenários por vezes parecer dar nós em si próprio. E não é esse Marcelo que o país precisa para chefe do Estado.

13 pensamentos sobre “Tancos trouxe de volta o velho Marcelo. E não é desse que o país precisa

  1. Epá, Manuel G., que delicadeza que vai nesse linguajar erudito (para não me referir ao quadradismo momentâneo de que se são capazes tais produções neuronais).

    _____

    Off.

    Já agora, que estamos numa onda de ditados populares, apresso-me a contribuir com um outro (mas de uma série melhorzinha, acho). Esta minha pressa pretende ultrapassar, por uns segundos que seja, aquelas coisas desmioladas de péssima propaganda ao PS que o Dieter Dellinger deposita na selva do FB e, graças a ti, por aqui n’A Estátua de Sal.

    Nota, importante. Imagina que desta vez mete os chinamarqueses comunistas e capitalistas, o inimigo n.º 1 da civilização ocidental segundo a prosa poderosa do Dieter; imagina, portanto, a confusão que para ali vai naquela cabeça e a pilha de nervos com que o senhor estará (e os imprompérios luso-germânicos com que deve ter enchido os ouvidos dos tipos desgraçados que militam no PS com quem e cruzou, apostamos?).

    Partido Socialista no Twitter, há bocado.
    Portugal e China vão criar em 2019 um laboratório tecnológico direcionado para a construção de microssatélites e observação dos oceanos, um investimento público-privado de 50 milhões de euros a cinco anos.

    Vá, uma ajudinha na tradução.

    Ou seja, a construção de microssatélites é com a #China, já quanto à observação dos oceanos é com #Portugal.

    Nota, @govpt, qu’isto é cultural, histórico e foi encontrado nas profundezas da nossa melhor tradição de portugueses.

    https://pbs.twimg.com/media/DrUonVKWwAA0ROL.png

    • Adenda, em tempo.

      Tancos também é fogo posto
      6 NOVEMBRO 2018 ÀS 14:23 POR PENÉLOPE

      […]

      Nota, outra. Entretanto, o estilo literário do Dieter Dellinger, uma certa beleza e sentido iconoclasta nos seus títulos e a sua capacidade política e intelectual, que até agora se revelavam inultrapassáveis, aparentemente tem um/a concorrente menor, onde poderia ser?, no blogue que acolhe a fauna exótica e dependentes alcoólicos, que ali se encostam ao balcão todo o santo dia, e que responde pelo nome de Aspirina B. Poderia ser a personagem Valupiana, mas não e eu perderia algum tempo a explicar os porquês, mas é nem mais nem menos a fformosa e famosíssima… Penélope.

      Que caraças, o que é isto? Sabes, alguém diz?

      • Do alto da sua cagança de erudito da treta, o merda seca volta a atacar, fazendo aquilo que sabe e gosta, ou seja, marrar com tudo o que é escrito por outros, sem ser capaz de, ele próprio, apresentar algo de útil e construtivo.
        Vais bonito , vais….

        • … «no blogue que acolhe a fauna exótica e dependentes alcoólicos, que ali se encostam ao balcão todo o santo dia, e que responde pelo nome de Aspirina B.», falas do quê (e em nome de quem) exactamente?

          Nota. E corrida sabe-se que é a senhora tua mãezinha, ó pá.

          • tendo em conta que és o dependente alcoólico que mais tempo consome a desgastar a pedra do balcão, Eu te invisto a partir desta data bastonário da ordem do balcão.🎓🍷🍾

            • Jovem Sexagenário, como és reconhecidamente um dos tipos qu’ainda se exibe «no blogue que acolhe a fauna exótica e dependentes alcoólicos, que ali se encostam ao balcão todo o santo dia, e que responde pelo nome de Aspirina B.», deixa-me fazer-te um desenho para perceberes alguma coisa disto.

              Quem vos vê de fora e de relance, que é o meu caso, não consegue deixar de dar razão ao tipo d’O Ouriquense, a quem são devidos os direitos pela chancela, de que hoje, no Aspirina B, o que vocês procuram é um lugar para fazerem quotidianamente… terapia de grupo. Baratinho, sem crédito científico, porém, e um bocado perigoso mas, aparente e cumulativamente, sem recurso a consultas especializadas do Serviço Nacional de Saúde.

              Se a esta linha de pensamento, felicíssima, juntares o meu humilde contributo filosófico de que, passados largos meses ou anos depois da prisão, enfermidade e suicídio de José Sócrates (suicídio político, ou mesmo cívico…), compreenderás que eu considere, portanto, que o que vosotros fazem o não é, obviamente, velarem ainda um cadáver, usarem sempre a mesma farpela enlutada já puída ou controlarem o trauma, antes é, acho, alimentarem uma cirrose crónica…

              Assim sendo, em conclusão, será relativamente fácil compreenderes o uso da expressão dependência alcoólica: somas 1+1 que é igual a 2 pelo que te aconselho, amigavelmente, a pensares um bocadinho nestas e noutras cenas simples (e de futuro, quem sabe?, tentares saber qual o teu papel no universo).

              Fica com uma photographia, free.

              Na rua do Duque, 13, está, há tempo, estabelecido, com venda de bebidas, Valupi, a quem nunca se percebera qualquer desarranjo mental. Há dias, porém, o taberneiro chamou dois moços de fretes, um conhecido pelo «Pau Preto» e outro de nome Jovem Sexagenário, e, entregando-lhes picaretas, ordenou-lhes que, numa das dependências do estabelecimento, abrissem um poço. Lançando-se ao trabalho, os dois homens abriram uma cavidade enorme, sem suspeitar[em] de que o proprietário da locanda perdera o uso da razão; mas, a certa altura, lembraram-se de lhe perguntar para que servia aquele poço, obtendo como resposta que para ligar a casa com a Ericeira, a fim de obter peixe de graça!

              É assim, clic!, e isto exageradamente não é bonito de se ver.

  2. “Mandar Marcelo tomar calmantes, para baixar a ansiedade”, foi coisa que A. Costa nunca disse ou insinuou, sequer.
    Aqui, a Estátua de Sal, com grande espanto meu a repetir as capas calhordas do CM e do Público. Enfim, ninguém resiste. Segue-se um trecho do snr Martim Silva -olha quem- a arrasar o Presidente da República.
    Que vos faça muito bom proveito o arrasoado. O Povo Livre não faria melhor.

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