Nobel Morre na Miséria

(Dieter Dellinger, 15/10/2018)

liderman

Aos 96 anos de idade morreu, no passado dia 3, Leon Lederman, um dos pais dos Neutrinos, nomeadamente do Myon-Neutrino e também um dos construtores da teoria das partículas elementares.

Ledermann era americano de origem russa e judaica, nascido em Manhattan depois dos pais terem fugido ao bolchevismo russo.

Foi Prémio Nobel em 1988 e morreu com demência senil na miséria.

O seguro de doença não cobria já as despesas médicas nem a estadia numa casa para pessoas com a sua doença. Por sua vez, a reforma privada como a de quase todos os americanos sofreu uma forte erosão por via da queda das taxas de juro e, talvez, com a falência de alguns bancos ou seguradoras de reformas..

Ledermann teve de vender a sua medalha do Prémio Nobel, adquirida por favor pela sua universidade por 765.000 dólares e foi com essa quantia que se manteve nos últimos dez anos de vida com despesas médicas gigantescas como são as americanas.

Enfim, é o segundo Prémio Nobel da Física que morre nos EUA na miséria por via dos sistemas privados de saúde e reforma.

Saliente-se que isto é conhecido por se tratar de um cientista laureado com o Nobel, porque, ao mesmo tempo, morrem milhares ou milhões de americanos brilhantes ou apenas de classe média ou baixa na indigência porque as entidades privadas que tudo prometem pouco ou nada pagam quando é mesmo necessário e, por vezes, não existem mais quando se chega à idade da reforma.

Não devemos esquecer que o PSD e o CDS sempre lutaram pela chamada redução do Estado com a privatização total ou parcial da Segurança Social e do Serviço Nacional de Saúde.

Imagine-se que milhares de portugueses teriam entregue ao BES o equivalente aos descontos para a reforma. Como estariam agora? Da mesma maneira que os lesados que eram pessoas a quem a propaganda da direita fez não acreditar no Estado, ou julgar que este iria à falência, quando afinal foi o BES que faliu e já engoliu mais de 8 mil milhões de euros para entregar a um fundo carteirista americano.

Ainda há pouco tempo o porta voz para a economia de Rui Rio falava nessa “reforma estrutural” do Estado. Sempre que algum economista fala em “reforma” do Estado é a isso que se refere.

Hoje, temos um Estado com défice praticamente zero, apesar da dívida, que nos dá a garantia de que haverá dinheiro para as reformas de todos os portugueses e para o Serviço Nacional de Saúde.

Mas, há gente dita de esquerda que considera um défice de 0,2 ou 0,3% uma subserviência ao capitalismo quando é precisamente o contrário. O Estado Social não pode ser algo para aumentar eternamente a dívida porque chegaria a uma situação de incapacidade para pagar as reformas, saúde, escola pública e salários dos seus funcionários e os credores são fundos capitalistas.

Há que salientar claramente. O Estado Social tem dois grandes inimigos, um à direita que quer acabar com ele e outro à esquerda que quer despesas tais que significam o seu fim. Contra ambos tem o PS de defender a grande conquista da democracia que é o Estado Social.

A Segurança Social de Portugal tem amplas reservas e consegue aumentá-las todos os anos. O seu orçamento é quase independente e conhecidas as suas contas, não indo dinheiros das reformas para outros fins. Portugal não constrói bombas atómicas, como certos estados que pretendiam e pretendem ser muito sociais, e gastamos pouco em tropas e armas.

Portugal com uma contabilidade equilibrada poderá renacionalizar a ANA, a EDP e a REN, deixando de ser uma colónia de chineses e franceses. Para isso, gastaria menos do já meteu no Novo Banco entregue a larápios americanos.

A ANA foi vendida por três mil milhões de euros, uma ninharia que já embolsaram com os lucros e a EDP/REN não foi por muito mais. Alguém ganhou com estes negócios, mas a Joana não quis investigar.

5 pensamentos sobre “Nobel Morre na Miséria

  1. O SNS, como o resto das infraestruturas por todo o ocidente, a cair de podre e os “progressistas” preocupados com o lucro dos mendigos da dívida, como se o castelo de cartas da dívida privada não vá cair pior do que em 2007.
    Modernizem-se, fodasse, que o Japão continua a mostrar que o nível de dívida não interessa para nada num país soberano. Veio cá o William Mitchell dar pérolas a porcos.

    • Até ao FMI foge a boca para a verdade:
      “… fiscal illusion that arises when governments on face value improve the fiscal position by lowering the immediate debt and deficits but reduce net worth over time. For instance, privatizations increase revenue and lower deficits but also reduce the government’s asset holdings. Similarly, cutting back maintenance expenditure reduces the deficit and lowers debt, but also reduces the value of infrastructure assets, which could cost more in the long term. ”
      ” The long-term aim of government is not to maximize net worth, but to provide goods and services to its citizens and possibly to create a buffer against uncertainty about the future. ”
      Mas claro, é bom quando é para os camaradas:
      ” Most of the expansion in the balance sheet was the result of large-scale financial sector rescue operations that resulted in reclassification of the rescued private banks into the public sector and increased (non–central bank) public financial corporation liabilities from in 2007 to 189 percent of GDP in 2008, with similar movements in financial assets … ”

      Ó Drumpf, fazias bem era em parar de pagar a esta gentalha.

      • Pelos termos que usa, nem vale a pena comentar. A “gentalha” é um termo usado por quem se acha superior e detentor da verdade. Por mais argumentos válidos, ou não, que possa ter, torna-se impossível de o apoiar pelo ruído desrespeitoso como trata quem livremente tem uma opinião diferente da sua, a diversidade de opinião é essencial, caso contrário, vestíamos todos de vermelho Estaline ou cinzento Hitler.
        Assim vai o mundo da intolerância.

        • Pois, o problema é que o FMI não tem *uma* opinião, tem uma opinião diferente para cada altura que lhe convém. Anteontem a austeridade era purificadora, ontem afinal o multiplicador era maior (mas quem avisou continua a ser um bando de irresponsáveis a ignorar), hoje as privatizações continuam a ser essenciais apesar de serem um custo.
          Claro, nada disto são opiniões, já que o modus operandi nunca muda. Mesmo depois da Grécia, os contractos de extorsão continuam a ser os mesmos. Gentalha é um elogio para quem anda a sugar o trabalho das pessoas à tantas décadas.
          Intolerância para com os piores capitalistas, taditos… A Cristine já nem dorme hoje, coitada, de tanto assédio contra a sua competência.

  2. O estado social nasceu da necessidade do establishment contrariar as forças do contrapoder(ideologia de esquerda corporizada pela União Soviética) hoje já não existe contrapoder, desde Reagan e o inicio do movimento neoliberal criado pelos Koch, Por isso ou se organiza uma solução ou vamos assistir ao fim do fim do estado social, que já está próximo!

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