Tancos e o Roubo

(Dieter Dellinger, 09/10/2018)

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A questão de Tancos está a ser mal esquecida. Os órgãos de informação só falam no Ministro da Defesa como culpado de ter tido conhecimento que o material roubado foi em grande parte recuperado. Que imenso crime?

De acordo com as informações dadas pela Comunicação Social e não desmentidas parece ter acontecido o seguinte:

1) A Polícia Judiciária civil teve conhecimento através de uma escuta que algo iria ser feito em Tancos e que deveria ser um roubo de material de guerra.

2) A Polícia Judiciária civil não informou do que sabia o Ministro da Defesa, a PJ Militar nem os comandantes das unidades que guardavam os paióis. Isso foi um gravíssimo crime praticamente igual ao ROUBO. Até um simples cidadão tem a obrigação de informar as autoridades sobre uma dada ocorrência criminosa, quanto mais a própria Polícia Judiciária Civil que deverá ou deveria informar a Procuradoria Geral da República e todos deveriam ter-se empenhados em avisar o exército. Joana Marques Vidal pode ter sido informada, mas se o foi não deu a conhecer a quem tinha os meios de guardar os paióis.

3) No âmbito das investigações feitas pela PJ Militar houve uma informação que o roubo teria sido cometido por um tal Paulinho e os militares empenharam-se em primeiro lugar em conseguir recuperar o material dado a sua perigosidade, estando por aí livre para ser vendido ou aproveitado para um ou mais atentados em Portugal ou noutro país.

4) A troco de um silêncio da parte do PJM acerca do nome de quem teria organizado o roubo foi indicado que o material estaria na garagem da avó do Paulinho que combinou colocar o material num baldio perto da Chamusca, onde foi encontrado por via de um telefonema vindo de Loulé da parte de um GNR. Parece que a organização dessa recuperação se deve ao Major Brasão que atuou em conivência com o seu superior hierárquico Coronel Vieira. Depois podem ter ou não informado o chefe de gabinete do ministro que nada poderia fazer quando deveria ter sido informado antes do roubo pela PJ civil e pelo Ministério Público. Os órgãos do Estado não podem estar contra outros órgãos do Estado nem contra o Ministro da Defesa que tem a tutela do PJM. Nitidamente, a PJ Civil ainda sob a direção do anterior diretor e a Joana Marques Vidal não informaram o Ministro da Defesa, devendo tornarem-se arguidos de conivência com o ROUBO.

5) O chefe da PJM, Coronel Vieira, é preso às ordens da PGR e Juiz de Instrução, seguindo-se depois o major Brasão que estava então na RCA e o Paulinho.

6) Falta prender os agentes ou chefes da PJ que tiveram conhecimento antecipado do roubo e que poderiam ter evitado com um simples telefonema para o comandante da unidade de engenharia militar que tem a seu cargo os paióis e que de imediato reforçaria a vigilância e tentava bloquear as portas e as cercas.

7) O material roubado foi constituído por 120 granadas de mão, 44 lança-granadas foguetes e engenhos explosivos em lamina do tipo que foi muito utilizado na Argélia e França para atentados contra edifícios e que era designado por plastificar dado serem explosivos de plástico e 1.500 munições de pistolas Glock destinadas às 50 que foram roubadas na PSP sem que a PJ e a PGR tenham conseguido encontrar os criminosos que tudo indica serem agentes da própria PSP. Nada se sabe sobre isso, mas o crime não prescreveu, pelo que a PJ e a PGR têm o dever de encontrar o ou os ladrões. Essas munições não foram devolvidas e provavelmente já foram vendidas às pessoas que andam a vender as Glocks.

5 pensamentos sobre “Tancos e o Roubo

  1. Dieter, larga o barril (que essa prosa de hoje está manifestamente bastante trôpega).

    ______

    Ex-porta-voz da PJ Militar a.k.a. Vasco Brazão subaluga casa das Forças Armadas no Airbnb, …?

    Entretanto, a Global Media continua a exibir a sua especialidade que é a de fazer fretes (ah, que saudades! das campanhas negras preparadas no gabinete de José Sócrates e propaladas na blogosfera enquanto o tipo foi PM… lembras-te desses tempos, Manuel G.?).

    Aqui, o alegado “exclusivo” nasceu aqui e, ao mesmo tempo, no DN online:
    https://www.tsf.pt/sociedade/interior/ex-porta-voz-da-pj-militar-subaluga-casa-das-forcas-armadas-no-airbnb-9976862.html

    • Nota, prévia. Da Global Media (DN, TSF e JN) até ao Aspirina B, que a caminho da Califórnia vai um/a burro/a aos trambolhões (ensaio sobre a vergonha alheia), um bruááá que prenuncia a chegada da certidão de óbito do ministro Azeredo, um PR entalado, um governo e um António Costa estupidamente encurralados, tudo polvilhado com uns pózinhos de desmiolados a granel que eu sei que os há prontos para tudo!, e, enfim, choremos que tudo isto é fado.

      G.Manuel, espalhas a notícia?

      ______

      O general Martins Pereira, ex-chefe de gabinete do ministro da Defesa Azeredo Lopes, entregou ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) documentação sobre a operação clandestina da PJM na Chamusca.

      O então chefe de gabinete tinha já assumido na última quinta-feira, depois de uma notícia do Expresso, a existência de uma reunião no Ministério da Defesa com o então diretor da PJM, o coronel Luís Vieira, e o major Vasco Brazão, investigador daquela polícia.

      “A documentação verdadeira foi entregue hoje no início da tarde, no DCIAP, pelos serviços do meu advogado”, adiantou o general à RTP.

      É a primeira vez que assume ter recebido um memorando por parte dos dois militares da PJM naquela reunião que teve lugar em novembro.

      A 4 de outubro, numa declaração escrita à agência Lusa, Martins Pereira tinha-se limitado a confirmar o encontro sem no entanto fazer qualquer referência a documentos que lhe tenham sido entregues nessa altura. “Cumpre-me informar, em abono da minha honra e da verdade dos factos, que efetivamente recebi o senhor coronel Luís Vieira e o senhor major Brazão no meu gabinete, em novembro de 2017. Nessa ocasião ou em qualquer outra não [lhe] foi possível descortinar qualquer facto que indiciasse qualquer irregularidade ou indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos”, declarou.

      […]

      Aqui, há bocado:
      https://expresso.sapo.pt/sociedade/2018-10-10-Ex-chefe-de-gabinete-de-Azeredo-assume-que-recebeu-documentos-sobre-encobrimento-em-Tancos#gs.elF4jUo

      • Adenda, state of the art
        (artigo assinado por Vítor Matos que terá o pecado de ser… direitola, mas da sub-espécie pensante pareceu-me). E António Costa lá esteve na AR, aparentemente a brincar com coisas sérias, e a dar ares de que é um humanóide indestrutível na política portuguesa (um outro pecado mas dos grandes e pior do que o anterior, acho).

        Em política, todos os detalhes de linguagem contam. Cada palavra bem colocada no seu lugar tem um significado. Uma palavra no sítio errado pode gerar uma crise. Há palavras usadas com cautela. Quando há cuidados a ter, mais cautela aplica o político experiente nas suas palavras. Quase todas com intencionalidade e, neste caso, uma intencionalidade defensiva. A frase de António Costa no debate quinzenal desta quarta-feira sobre o que o ministro Azeredo Lopes sabia ou não sabia acerca do documento sobre operação encenada pela Polícia Judiciária Militar é cuidadosa. Fernando Negrão, líder parlamentar do PSD, perguntou ao primeiro-ministro se o ministro da Defesa tinha conhecimento do memorando entregue por dois oficiais da PJM ao seu ex-chefe de gabinete, tenente-general Martins Pereira. António Costa respondeu assim: “Não tenho conhecimento do documento que foi entregue no DCIAP. E a informação que tenho é que o ministro da Defesa não tinha conhecimento”.

        Podemos tirar duas conclusões: António Costa é definitivo ao dizer que não conhecia o documento entregue à investigação; mas quanto ao ministro é mais cauteloso, porque se escuda na “informação” que tem. A questão é delicada, como as palavras. Se Costa quisesse ser absoluto na resposta, teria dito: “Não, o sr. ministro não sabia”. Mas não foi isso que o primeiro-ministro fez. A questão é que este pequeno detalhe – um discurso aparentemente defensivo – faz alimentar as especulações, não só sobre se Azeredo sabia mas sobre se essa “informação” ainda pode mudar nos próximos dias.

        […]

        No Expresso Diário, hoje.

  2. Isto está cada vez mais uma país de «faz-de-conta»… Faz-de-conta que é uma República, faz-de-conta que há uma procuradoria-geral de república, faz-de-conta que há sincronização (ou sintonia) entre os diversos «orgâos do Estado», faz-de-conta que a Justiça funciona… Tudo boa gente e faz-de-conta «no pasa nada»… E ainda há uns «trolls» (bem programados – que aí já não há «faz-de-conta»…) que se entretêm a perseguir e atacar quem tenha lucidez para criticar este estado de coisas…

  3. Um bom apanhado.
    Temos as três quintas há muito, os ramos da mili.
    Ganhámos portanto dois raminhos ou quintinhas, na Judiciária.
    Uma saudável pulverização democrático-corporativa.
    A bem do Regime.

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