A violência sobre as mulheres

(Carlos Esperança, 09/10/2018)

mulheres2

A ancestral misoginia, a perpetuação de preconceitos religiosos e os constrangimentos sociais são obstáculos à emancipação da mulher e uma forma de perpetuar a violência machista e reduzir metade da humanidade à subalternidade ou, mesmo, à escravidão.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos não é pacificamente aceite e respeitada. Toleram-se países e Estados que oprimem a mulher, em nome da diversidade cultural e do inaceitável respeito por crenças religiosas que são a matriz de Estados teocráticos.

Há jurisprudência portuguesa recente que envergonha quem a produziu, mas damo-nos conta da afronta, incompatível com o ordenamento jurídico do país laico que somos. Há países onde a discriminação é legal e a violência um direito do macho.

Não há regimes dignos, magistrados sensatos, sociedades sãs, religiões respeitáveis ou famílias dignas que discriminem em função do sexo.

Dito isto, não devemos permitir que os movimentos que se batem pela igualdade, tantas vezes com risco de vida dos seus membros, pactuem com atos de puro oportunismo, que visam a exibição de relações sexuais mutuamente consentidas e desejadas, às vezes com décadas de intervalo, invocando violência, real ou imaginária, para chantagem, vingança e/ou obtenção de vantagens patrimoniais.

Alimentar a voragem da comunicação social com descrições sórdidas e litigâncias que a morbidez popular consome, não é um combate pela libertação feminina, é um obstáculo à luta, em curso, contra a discriminação, que exige um permanente combate.

Há casos que contribuem para atrasar a igualdade que se promove e desacreditam a luta que se trava.

Os casos mediáticos estão frequentemente contaminados por vingança e oportunismo, e raramente conduzem à reparação da ignomínia ancestral à escala planetária, mas o pior que pode acontecer é a substituição da pena por mera indemnização pecuniária, dando a impressão de que os danos por violação, como nos acidentes, podem ser ressarcidos em numerário.

Exige-se discernimento nesta como em todas as lutas justas.

2 pensamentos sobre “A violência sobre as mulheres

  1. É o primeiro post que leio que levanta várias vertentes sobre a violência sobre as mulheres,mas acaba por meter tudo no mesmo saco, não atingindo os fins que julgava prosseguir.
    Em todos noto que optaram pelo politicamente correcto, negando a existência de outras opções.
    Desde logo a existência de violência de mulheres sobre os homens. Dizem os jornalistas que o que é notícia é aquilo que foge à normalidade, o que apontaria a violência das mulheres sobre os homens como notícia. Mas não é, o que nos faz pensar que estes plumitivos defensores das mulheres, afinal acham a violência sobre elas normal, tamanha é a quantidade de notícias, noprincipio actual do jornalismo, segundo o qual a notícia é para consumir, e quanto mais próxima do leitor, maior o consumo.
    E não se diga que não existe violência das mulheres com os homens, pois recentemente vimos prova dessa evidência com uma professora a matar à facada o marido,já para não falar do Caso do Triatleta, fora inúmeros casos escondidos pela vergonha dos homens em admitir que são agredidos pelas mulheres.
    Aqui chegados, e concluo que tudo não passa de um tema na enorme guerra das mulheres pelo poder, forma final da sua luta pela sua emancipação.
    É comum ouvirmos pais referirem-se a terceiros sobre a sua filha, como tendo casado bem, e estar bem na vida. Antes de condenar isto, era mais acertado mudar o pensamento de todos. Dos pais, das filhas e dos maridos. Afinal isto é a sociedade em que vivemos. Os pais procuram e olham em busca de um marido que possa dar um bom nível de vida às filhas, esquecendo que o amor devia ser prioritário, opondo-se quando o noivo não satisfaz o seu ego. As filhas que buscam um marido que lhe dê estatuto, que lhes suporte um bom nível de vida, libertando o seu salário para os seus sonhos. Os maridos que buscam um bibelôt, uma modelo para exibir nas suas relações sociais. Uma pescadinha com o rabo na boca, onde ninguém sai bem na fotografia, e ninguém pode acusar ninguém.
    É neste mundo que todos se movem, e profissões há que geram maior apelo.
    Todos sabiam há muito que as actrizes chegavam aos grandes filmes após se submeterem aos caprichos dos produtores, dos realizadores ou dos actores com quem iriam contracenar. Outras chegavam lá seduzindo os mesmos. O resultado era o mesmo.
    Hoje todos falam que produtores, realizadores e actores usaram da sua posição para submeterem as actrizes a relações que não queriam.
    Não queriam? No fundo talvez tivesse sido um sacrifício para muitas, mas era através dele que elas atingiam o estrelato, o poder, o estatuto social, a independência económica. Se o fizeram foi porque o sacrifício se justificava face ao que obtinham, pelo só por muita tolerância podemos dizer que eram relações que não queriam.
    O mesmo se diga ipsis verbis para as modelo, que conseguem chegar às passadeiras a fama do mesmo modo, outras até conseguem chegar a primeira dama dos EUA.
    Mas o tempo é inexorável e não se é jovem para sempre. A beleza vai-se esfumando; as mulheres deixam de dar uma boa imagem social aos seus maridos; o estatuto social vai-se desvanecendo e os convites para as festas sociais tornam-se episódicas.
    Quando a sedução não chega, transformando o sonho numa simples aventura nocturna, o resultado é o que observamos no recente Caso Ronaldo.
    Não, não condeno quem fez as opções que fez e pelos motivos que aduzi, mas também não concedo o direito de hoje, para recuperarem tudo o que o tempo destruiu, hoje agitem as consciências de alguns (poucos,muitos,alguns?) em nome de uma fragilidade que não tinham, e de um poder dos homens, que no fim de contas desejavam para si.
    Afinal, tudo não passa de uma questão de poder e da perda dele,de uma questão de sobrevivência.
    Quem são os acusados de violência? O jardineiro ou aqueles que as abandonaram pelo caminho e já não satisfazem o que procuraram, e pelos quais terão feito as suas opções,os seus sacrifícios, gente com estatuto,com nível e com poder económico?
    E preparem-se porque a seguir vem os homens do poder financeiro e económico.
    De fora ficam as regras tribais de alguns Países, essas sim de uma violência sem sentido,perante jovens e mulheres sem defesa. E quando falo de tribais, falo também de comunidades às portas das nossas cidades, que obrigam pelas suas leis, ao casamento de crianças com 12 anos, com a Justiça a assobiar para o lado, defendendo os valores das minorias étnicas, e abdicando de um principio basilar num Estado de Direito, onde não é admissível existência de um Estado dentro do próprio Estado. 0
    Curiosamente, ninguém fala nisto, desde logo Carlos Esperança. Pois, não é politicamente correcto.
    Será que sou eu que estou a ver mal o filme?

Deixar uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.