“SERÁ QUE NOS PORTAMOS MESMO BEM, Gente?”

(Joaquim Vassalo Abreu, 08/10/2018)

catherine

Catherine Deneuve

Pergunta-se o Brasil e perguntam-se o PT e Lula da Silva, para que conste. E aqui também poderia acrescentar a “Democracia Brasileira”, através dos seus representantes Parlamentares e outros poderes.

Recordo agora e vou mesmo transcrever um texto que aqui publiquei vai fazer precisamente três anos no próximo dia dez deste mês, depois de amanhã, portanto, e a que apelidei de “EU PORTO-ME BEM”! Ora leiam, se fazem favor…

Esta frase aqui escrita e dita por mim não me pertence, descansem! Ela foi proferida por uma grande senhora do cinema Francês e mundial chamada CATHERINE DENEUVE. Todos já a vimos e dela ouvimos falar e uma grande parte considera-a mesmo o exemplo da beleza perfeita. Eu também.

Na verdade, ela tem uma beleza harmoniosa e indefinível, em que a tranquilidade do seu rosto adornado de traços perfeitos nos transmite uma sensação de perene leveza. A idade vai avançando e essa beleza vai-se mantendo retocada pela vida e amaciada pelo tempo, parecendo que não envelhece.

Mas o certo é que tendo sido durante muitos anos o modelo da elegância preferido por grandes marcas da alta costura, ela foi fazendo filmes atrás de filmes, sobrevivendo à passagem do tempo e sem medo desse mesmo tempo. Há coisas que não se explicam e a sua sobriedade e postura distante fazem dela o protótipo da beleza intemporal.

Ela nunca precisou de ter uma vida frívola como a grande maioria das actrizes suas contemporâneas, exceptuando Merryl Streep ou Sofia Loren afirmo eu, para impor a sua presença ao mesmo tempo serena e altiva.

Perguntada há tempos por um jornalista como, sendo ela uma figura tão famosa e rica, uma actriz tão conceituada e reconhecida, uma Diva mesmo, se podia afirmar ou considerar uma mulher de Esquerda, ela respondeu-lhe simplesmente isso : “ Eu porto-me bem!”.

Esta curta e singela resposta concentra no entanto em si uma imensa sabedoria e remete desde logo para o facto de, ao afirmar-se uma pessoa como ela de Esquerda, assumir ser-lhe  de imediato imposto um selo que a impede de ser como os outros. Ela não poderá mais ser frívola ou inconsequente e tem que permanecer uma cidadã exemplar : não poderá fugir ao fisco nem ter contas em offshores como os outros, tem que cumprir as suas obrigações como todos fazem e tem que ser uma figura pública acima de qualquer suspeita. Se assim não for logo todos dirão : afinal são todos iguais!

E esse “ afinal são todos iguais definindo desde logo a distância entre o que pode ser tolerado nuns e noutros não, também atesta da desilusão que seria para quem vive habituado a conviver com os “ são todos iguais”  o ver uma pessoa pertencente aos “ Não são todos iguais” ser, afinal, igual a todos os outros, pois deles se espera melhor comportamento, melhor exemplo e, inconscientemente ou não, uma superioridade moral e ética que implicitamente lhes reconhecem.

Para assim ser e para uma tão curta resposta ter um efeito tão contundente é porque a sociedade tem por assumido que assim é. A vida está aí repleta de casos exemplares e não foi, portanto, impunemente que a grande CATHERINE DENEUVE o intuiu!”. SIC.

A razão por que me lembrei disto e sobre isto dissertei, eu disse na altura que deixava à Vossa imaginação, mas hoje, inquestionavelmente, relembro acerca do Brasil e suas Eleições.

LULA pactuou com a corrupção, é um dado adquirido e, mesmo isso não justificando a sua prisão, no meu modesto entender, o seu procedimento merece a minha discordância e condenação. É que ele pactuou com a corrupção quando acordou num pacto com muitos dos restantes grupos parlamentares ,um autêntico pacto de regime paralelo, levado ou não a escrito, permitindo o chamado “Mensalão”!

É que, pesem todas as virtuosas razões que a isso levaram (a impossibilidade de conseguir uma simples maioria que permitisse a aprovação indispensáveis aos trabalhadores e demais população, de leis tendentes ao apoio integral às suas vidas, ao erradicar da fome, ao progressso das zonas do interior etc  )  e que doutro modo seria de acesso inalcançável, num consenso que englobasse as restantes forças partidárias, ou suas cúpulas, tudo isso acabou por se mostrar ruinoso…

E acabou por se mostrar ruinoso por várias razões: a primeira, imediata, e que consubstancia a entrada em cena, como principal obreiro do esquema, do seu Chefe da Casa Civil (José Dirceu), pessoa bem conhecida da luta à ditadura e a segunda, ainda mais importante, porque tal ignomínia lhe ficou apegada à pele, qual selo, qual marca ou qual tatuagem de impossível erradicação.

E tal sucedeu porque LULA, nunca e em tempo algum, poderia ser apelidado de “Igual aos Outros” ou então do “Afinal Eles são Iguais aos Outros!” E porquê: porque mesmo que LULA não o pretendesse fazer (corrupção), e não fosse assim igual aos outros, aceitando fazê-lo mesmo que para benefício geral e nunca particular, nunca tal poderia ser feito pois teria que se lembrar que, mais cedo ou mais tarde, tal coisa, em efeito boomerang, se haveria de voltar contra si.

E o “Afinal são todos iguais” teve também o condão imediato de, aos olhos do cidadão comum, perante tal pecado de quem os representava, transformar os outros, os detestáveis, em normais, aceitáveis e até presidenciáveis… tipo Bolsonaro.

O rico, em toda a sua ostentação, (meia dúzia dos mais poderosos possuem mais riqueza que todo o Norte e Nordeste , metade do Brasil), usa e manipula a corrupção, as leis, o medo, a hipocrisia e o Trabalho (e a falta dele) como chantagem extrema sobre tudo o que exista procurando apenas um destinatário para o seu usufruto: ele! E a ele, assim, tudo é permitido.

Quem isto ousar questionar, quem isto ousar querer parar, nem que algumas das suas armas pretenda utilizar, nem que a finalidade última seja o bem do Povo, não tem perdão e não o tem porque ousou pretender tocar em algo que sempre foi “sagrado”. Sempre foi seu, por ordem de Deus, louvado Deus, também acrescentam…

Nunca será Balsonaro a acabar com o cancro da corrupção no Brasil e a militarização das ruas, das favelas, das casas e das cidades, só trará mais violência, como se tem visto no Rio nestes meses em que as forças militarizadas tomaram as ruas…sob a égide desse “grande” Governo do Temer…

E esta desgraça de governo brasileiro continuará a sê-lo ainda mais se com ele vier maior repressão, maior exclusão e maior abandono…e nada remediará!

Mas voltando ao tema,  LULA e o PT “não se portaram bem…”. Não, não se portaram…

Mas ainda acredito que vão ser os “Alentejos” do Norte e Nordeste, o Povo pobre, o Povo simples e o Povo ostracizado, quem vai salvar a Democracia Brasileira…

Que os seus Deuses os guiem…

SARAVÁ!

9 pensamentos sobre ““SERÁ QUE NOS PORTAMOS MESMO BEM, Gente?”

  1. Lula e o PT falharam porque não eradicaram a corrupção. OK! Como deveriam ter actuado ? Com um regime autoritário, com dureza e inflexibilidade… mas então teriam encontrado pela frente todos os regimes “hipocritamente democráticos” com os USA pela frente, a falar de sovietismo, de comunismo malvado etc…Lula não quiz ser duro… quiz negociar e ficar no “democraticamente correcto”…..foi engolido !

      • «Lula e o PT falharam porque não eradicaram a corrupção.», eheheh.

        Erradicaram não, minina, o PT falhou porque se deixou corromper ao mais alto nível
        (basta ter lido alguma coisa sobre isto, recuando ao Mensalão que fez apitar as sirenes, em 2005 imagine-se!, e que como uma larva mostrou um nível de corrupção endémico que se tinha tornado numa praxis no interior do PT e que levou à desilusão de alguns, ou bastantes).

        Notas. Aconselho os comentadores d’A Estátua de Sal, entretanto, que se esforcem um bocadinho por entender, por mais dura ou flexível que seja a cabeça em causa, sobre as razões que consubstanciam o ódio ao PT da maioria dos eleitores, uma estratégia suicidária que nos ensinou, claramente, o que não se deve fazer em política (a máscara de Lula e o slogan oficiais de que Haddad é um preso septagenário foram, icónica e discursivamente, as marcas mais fortes de uma campanha pensada… para totós), a incapacidade da direcção do PT em que, oportunamente, soubesse dar um passo em frente que separasse o que é indiviual e que evitasse o suicídio colectivo e, por fim, encontrar-se-ão algumas das razões sobre a adesão de perto de 50 milhões de brasileiros a uma figura de merda como é o protofascista Bolsonaro.

        https://osdivergentes.com.br/wp-content/uploads/2018/08/Haddad-Lula-696×483.jpg

        • … «política (a máscara de Lula e o slogan oficiais de que Haddad é um preso sept[u]agenário foram, icónica e discursivamente, as marcas mais fortes de uma campanha pensada… para totós), a incapacidade da direcção do PT em» etc., falta ali um u de buh!! (e, já agora, aberto o armário das incapacidades poderiamos também elencar a impossibilidade do PT em dialogar com a/s outras esquerda/s… para lá do PSOL que representa nada, ou quase).

          No lado errado da noite mas é 4U, daniellefoucaut, com dedicatória do Jorge, do Tony e da Amélia.

  2. Neste mundo actual, só dominam os bancos, a BCE, o FMI, os grandes grupos financeiros… o resto, os governantes nós, só temos que nos inclinar e obedecer, só nos resta votar …e bem, isto é, navegando no sentido da maré… Não é por nada que com os primeiros resultados do Brasil, a bolsa brasileira ganhou alguns pontos. Pois é Gente!!!!

  3. Eu penso que este artigo reflete muito bem porque se foge da esquerda (extrema esquerda?). Os políticos representam o povo e por isso não devem ser corruptos :nenhum! Os humanos falham e por isso aprendem evoluem e corrigem-se; assumir responsabilidade pelos erros é maturidade. A moral é assunto da justiça, da religião e educação não da governação/política pelos perigos que causa (ex.ºs há muitos para os dois lados). A ideia da superioridade moral de algum grupo sobre o outro já trouxe muita crueldade no passado. A intolerância à maioria e à própria intolerância é perigosa. É preciso ouvir e respeitar o diferente e não criminalizá-lo; afinal somos ou não capazes de considerar o ponto de vista do outro? Somos ou não capazes da tolerância?

    • «A intolerância à maioria e à própria intolerância é perigosa»… E será que também devemos ser tolerantes para com quem nos quer – literalmente – assassinar?… Não temos direito à defesa?…

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