Tiro ao ministro da Defesa

(Por Valupi, in Aspirina B, 04/10/2018)

azeredo1

Desde que veio a público a notícia sobre o assalto ao paiol de Tancos que se lançou uma campanha para abater Azeredo Lopes. Primeiro, os editorais e colunistas da bronquite crónica berravam contra a ausência de bandidos pendurados em árvores nos dias, semanas e meses imediatamente a seguir.

A culpa, garantiam, era do ministro da Defesa que não punia ninguém e se limitava a repetir que não era ele quem guardava os paióis nem ele quem investigava crimes no Ministério Público. Inadmissível e a merecer imediata demissão, garantiam fulanos que metem no bolso milhares de euros por mês para andarem a brincar aos jornalistas cheios de cagança contra os políticos que não gramam.

Depois, o Expresso lembrou-se de inovar e serviu de trampolim para se lançar no espaço público um suposto relatório de supostos serviços de informação militar onde se fazem comentários extraordinariamente coloridos – “ligeireza, quase imprudente”, “arrogância quase cínica”, “declarações arriscadas e de intenções duvidosas” – sobre Azeredo Lopes.

O magnífico jornalismo do mano Costa e do Guerreiro-Poeta assegurava que era tudo verdade verdadinha, com 63 páginas (sessenta e três, senhores ouvintes) de bota-abaixo no ministro da Defesa nascidas da inteligência de “militares no activo e também na reserva”. Este pessoal altamente qualificado, e talvez demasiado inteligente para a quantidade de papel desperdiçado, ofereceu ao pagode três cenários “muito prováveis” para o episódio de Tancos, sendo eles: Tráfico de armamento para África (em específico, para a Guiné-Bissau e Cabo Verde)/ Um assalto promovido por mercenários portugueses contratados / Envolvimento de jihadistas a operar na Península Ibérica.

A hipótese de termos um maduro que gamou as armas sozinho para as guardar umas semanas na casa da avó e depois ir arrependido entregá-las à PJM com a ajudar da boa e disponível GNR de Loulé terá escapado aos nossos especialistas em segurança militar e contraterrorismo por óbvia interferência maligna de Azeredo Lopes no trânsito eléctrico das suas rarefeitas sinapses.

Depois de todos os organismos ligados aos serviços de informação militar terem desmentido existir oficialmente esse relatório, o tiro ao ministro passou para o Parlamento, onde Azeredo foi chamado repetidamente para repetir que não era ele quem tinha de investigar o crime e que talvez fosse assim uma beca erradex estar a inventar responsáveis fechado no seu gabinete antes de as investigações terminarem.

Eis, hoje, que demos um salto quântico no fogo de barragem contra o alvo. O major Vasco Brazão aparenta ter disparado um morteiro que aterrou em cheio na peitaça do ministro. Será mais uma variante daquela cena linda e tão decente de vermos a imprensa a explorar fontes “portadoras de informações que “não conheciam na totalidade”?

Logo mais para a tardinha ficaremos a saber quais os danos, pois consta que Marcelo reunirá com Costa para tomarem belas decisões a respeito. Entretanto, temos uma história que vai de rocambolesco em rocambolesco, parecendo só ter uma linha condutora. Afastar alguém que, isso é factual, mostrou ter força para meter o poder militar a respeitar a legalidade civil.


Fonte aqui

7 pensamentos sobre “Tiro ao ministro da Defesa

  1. Mais rápido do que a própria sombra, parabéns (prémio de Melhor Argumento Adaptado, ex aequo)!

    _______

    Manuel G., como presumo que sofregamente trarás para A Estátua de Sal algumas destas verdades (apesar de saber que há uns adeptos de São José que continuam, incessantemente!, a laborar no domínio dos factos alternativos…) sobre a vergonha do que se passou no assalto de Tancos antecipo-me no meu comentário e chamo-te a atenção para isto.

    1. Realismo Mágico, prosa de há dias assinada por Carlos Matos Gomes.

    «O Diretor da PJM, do que se sabe, tomou decisões dentro da interpretação da autonomia que ele fez do desempenho do seu cargo. Essas interpretações e os seus resultados podiam e podem ser julgadas, mas o Estado, ao atribuir-lhe a qualidade de chefe, concedeu-lhe o direito de errar e o direito de ser respeitado, mesmo quando errou, se foi esse o caso. Sem a possibilidade de errar não há comando. Decidir é optar. O Estado, ou concede esse direito aos chefes dos seus corpos, ou o melhor é abdicar de agir, de se defender. O que não pode acontecer é os mais altos dirigentes do Estado, os eleitos, assistirem impávidos ao espectáculo de corpos subordinados do Estado a manobrar como bandos rivais em luta pelo domínio de um território.», Carlos Matos Gomes num momento de Realismo Mágico Gabriel em homenagem a García Marquezem (lindíssimo, eu acho).

    https://www.moveramontanha.pt/article/5bb27817e52ec317bab025f2

    2. Camarada Vasco, outro, hoje no Expresso.

    Tancos: investigador da PJM garante que Azeredo Lopes soube do encobrimento. Ministro desmente
    04.10.2018 às 11h03

    No final do ano passado, e já depois das armas terem sido recuperadas, o major Vasco Brazão, investigador da Polícia Judiciária Militar (PJM), e o diretor daquela polícia, coronel Luís Vieira, deram conhecimento ao ministro da Defesa da encenação montada em conjunto com a GNR de Loulé em torno da recuperação das armas furtadas nos paióis de Tancos: isso mesmo garantiu esta terça-feira ao juiz de instrução o major Vasco Brazão, durante o interrogatório de oito horas no Campus da Justiça.

    Confrontado pelo Expresso, o ministro da Defesa recusou-se a comentar a informação dada por Vasco Brazão ao tribunal, invocando o segredo de justiça. Contudo, questionado pelo nosso jornal sobre se foi ou não informado da operação de encobrimento na recuperação das armas de Tancos, o ministro da Defesa respondeu categoricamente que “não”. Nem antes dessa operação ter sido realizada, em outubro, nem depois dela, no final do ano de 2017.

    De acordo com fontes do processo, Vasco Brazão garantiu no tribunal ter entregue pessoalmente no final do ano um memorando com a explicação de toda a operação ao chefe de gabinete de Azeredo Lopes, acrescentando que o chefe de gabinete contactou telefonicamente o ministro, à frente dos dois militares da PJM, para o informar da situação. De acordo com o depoimento de Vasco Brazão no Tribunal de Instrução Criminal, o chefe de gabinete e o ministro não teceram comentários sobre aquela informação nova, limitando-se a registar o caso.

    […]

    https://expresso.sapo.pt/politica/2018-10-04-Tancos-investigador-da-PJM-garante-que-Azeredo-Lopes-soube-do-encobrimento.-Ministro-desmente#gs.Hu7nS=Q

    3. Valupi, Tangas & C.ª, Limitada.

    Tiro ao ministro da Defesa
    4 OUTUBRO 2018 ÀS 16:52 POR VALUPI

    […]

    Logo mais para a tardinha ficaremos a saber quais os danos, pois consta que Marcelo reunirá com Costa para tomarem decisões a respeito. Entretanto, temos uma história que vai de rocambolesco em rocambolesco, parecendo só ter uma linha condutora. Afastar alguém que, isso é factual, mostrou ter força para meter o poder militar a respeitar a legalidade civil.

    Nota. Comédia pura, eu aposto que será o grande candidato ao Oscar (de Melhor Argumento Adaptado?).

    4. Azeredo Vasco, melodias de sempre (para pequenos e graúdos).

    Mr. Magoo. Mr. Magoo.

    The Nearsighted Mr. Magoo and Gerald McBoing Boing, 1952.

    https://pbs.twimg.com/media/DoqcKBQXkAMfcfe.jpg

  2. Manuel G., dói-te o quê desta vez?

    RFC diz:
    Outubro 4, 2018 às 5:02 pm
    O seu comentário aguarda moderação.

    Mais rápido do que a própria sombra, parabéns (prémio de Melhor Argumento Adaptado, ex aequo)!

    _______

    Manuel G., como presumo que sofregamente trarás para A Estátua de Sal algumas destas verdades (apesar de saber que há uns adeptos de São José que continuam, incessantemente!, a laborar no domínio dos factos alternativos…) sobre a vergonha do que se passou no assalto de Tancos antecipo-me no meu comentário e chamo-te a atenção para isto.

    1. Realismo Mágico, prosa de há dias assinada por Carlos Matos Gomes.

    «O Diretor da PJM, do que se sabe, tomou decisões dentro da interpretação da autonomia que ele fez do desempenho do seu cargo. Essas interpretações e os seus resultados podiam e podem ser julgadas, mas o Estado, ao atribuir-lhe a qualidade de chefe, concedeu-lhe o direito de errar e o direito de ser respeitado, mesmo quando errou, se foi esse o caso. Sem a possibilidade de errar não há comando. Decidir é optar. O Estado, ou concede esse direito aos chefes dos seus corpos, ou o melhor é abdicar de agir, de se defender. O que não pode acontecer é os mais altos dirigentes do Estado, os eleitos, assistirem impávidos ao espectáculo de corpos subordinados do Estado a manobrar como bandos rivais em luta pelo domínio de um território.», Carlos Matos Gomes num momento de Realismo Mágico Gabriel em homenagem a García Marquezem (lindíssimo, eu acho).

    https://www.moveramontanha.pt/article/5bb27817e52ec317bab025f2

    2. Camarada Vasco, outro, hoje no Expresso.

    Tancos: investigador da PJM garante que Azeredo Lopes soube do encobrimento. Ministro desmente
    04.10.2018 às 11h03

    No final do ano passado, e já depois das armas terem sido recuperadas, o major Vasco Brazão, investigador da Polícia Judiciária Militar (PJM), e o diretor daquela polícia, coronel Luís Vieira, deram conhecimento ao ministro da Defesa da encenação montada em conjunto com a GNR de Loulé em torno da recuperação das armas furtadas nos paióis de Tancos: isso mesmo garantiu esta terça-feira ao juiz de instrução o major Vasco Brazão, durante o interrogatório de oito horas no Campus da Justiça.

    Confrontado pelo Expresso, o ministro da Defesa recusou-se a comentar a informação dada por Vasco Brazão ao tribunal, invocando o segredo de justiça. Contudo, questionado pelo nosso jornal sobre se foi ou não informado da operação de encobrimento na recuperação das armas de Tancos, o ministro da Defesa respondeu categoricamente que “não”. Nem antes dessa operação ter sido realizada, em outubro, nem depois dela, no final do ano de 2017.

    De acordo com fontes do processo, Vasco Brazão garantiu no tribunal ter entregue pessoalmente no final do ano um memorando com a explicação de toda a operação ao chefe de gabinete de Azeredo Lopes, acrescentando que o chefe de gabinete contactou telefonicamente o ministro, à frente dos dois militares da PJM, para o informar da situação. De acordo com o depoimento de Vasco Brazão no Tribunal de Instrução Criminal, o chefe de gabinete e o ministro não teceram comentários sobre aquela informação nova, limitando-se a registar o caso.

    […]

    https://expresso.sapo.pt/politica/2018-10-04-Tancos-investigador-da-PJM-garante-que-Azeredo-Lopes-soube-do-encobrimento.-Ministro-desmente#gs.Hu7nS=Q

    3. Valupi, Tangas & C.ª, Limitada.

    Tiro ao ministro da Defesa
    4 OUTUBRO 2018 ÀS 16:52 POR VALUPI

    […]

    Logo mais para a tardinha ficaremos a saber quais os danos, pois consta que Marcelo reunirá com Costa para tomarem decisões a respeito. Entretanto, temos uma história que vai de rocambolesco em rocambolesco, parecendo só ter uma linha condutora. Afastar alguém que, isso é factual, mostrou ter força para meter o poder militar a respeitar a legalidade civil.

    Nota. Comédia pura, eu aposto que será o grande candidato ao Oscar (de Melhor Argumento Adaptado?).

    4. Azeredo Vasco, melodias de sempre (para pequenos e graúdos).

    Mr. Magoo. Mr. Magoo.

    The Nearsighted Mr. Magoo and Gerald McBoing Boing, 1952.

    https://pbs.twimg.com/media/DoqcKBQXkAMfcfe.jpg

  3. Ano 2004 dC. Final de um SMO de brincar desde a dupla Cavaco-Nogueira com invenção de um SMO a quatro. Não é a quatro patas é meses. Claro que a cultura de empresa PS, propunha uns honestos 3 meses.
    A saber, da varanda do Restelo, duas décadas de inúteis na política nos contemplam.
    Com a honesta colaboração de uma douta Comissão de Defesa no circo S. Bento.
    Vale, um antigo MAI do PS, ter recriado um exército na GNR:
    Duplicam-se generais e coronéis, corta-se a formação de agentes por uma ano.
    That is a certain economy…

  4. Pelo rodar da carruagem,qualquer dia acontece o mesmo na marinha,já temos a brigada fiscal da gnr,guarda costeira da mesma gnr

  5. Ainda sobre o (triste) caso do Azeredo Lopes, notas.

    Se eu assinalei na semana passada o facto de os rapazes do Expresso não disporem dos saberes para serem reconhecidos como um player na política portuguesa, sendo que o resultado sobre a recondução da actual PGR foi estatelarem-se ao comprido pois por aqui ninguém perdoa nada!, no caso do ministro Azeredo Lopes deve ter sido um dia, ou dois, de pura adrenalina.

    Acontecimentos, uma narrativa possível: um comité revolucionário* escreveu que o Camarada Vasco, o da PJM, revelou no seu depoimento no DCIAP que Mr. Magoo estava a par da aldrabice sobre a descoberta das armas na Chamusca e, tal como com o edital de Calvino, pregaram-no e exibiram-no no lugar do estilo, não as portas da porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, mas nas portas, janelas e postigos, no confessionário?, do tipo da Microsoft através da edição online. Os algoritmos dispararam, e na redacção do Expresso a adrenalina manteve-se elevada: seguiram-se as reacções (umas públicas, muitas privadíssimas), assessores, adjuntos, chefes de gabinete, todo o pessoal dos gabinetes ministerais, Marcelo Rebelo de Sousa e o palácio de Belém à escuta, o palacete de São Bento em obras, a Gomes Freire fervilha, largo do Rato, Lapa, Almirante Reis, Soeiro Pereira Gomes arregalam os olhos, os gatos do PAN arrebitam as orelhas, SIC N na dianteira, tvi24 na peugada, RTP 3, Manuel Carvalho e Ana Sá Lopes entreolham-se, DN, TSF, Antena 1, Renascença, a Estrela Serrano está cada vez mais preocupada com a pouca sorte e a falta de jeito do seu partenaire num blogue que jaz morto e arrefece, e até mesmo, em pontas!, a personagem Valupiana sempre enfrascada delira febrilmente rezando para que consiga ser um dos milhares de figurantes neste filme.

    Chegam as notícias nas TV’s à hora de jantar e começa o ritual, perante tal sacrifício, alguns dos espectadores desabafam sobre o que lhes vai na alma nos balcões dos cafés, nas caixas de comentários dos jornais, os cabos de esquadra dos blogues acordam, nos táxis o motorista desenrosca a cabeça, bate no volante e grita, enquanto o cliente da Uber mais clean usa o Twitter, a selva do FB, o Instagram para dar um alô pessoal, outros mostram-se condoídos e vão à página do Provedor da RTP indignar-se por lhes ser dado a ver, pormenorizadamente, aquilo que parecia ser o cadáver de Azeredo Lopes. Este, entretanto, não sabe se o vão demitir mas, pelo sim pelo não, giza um plano de fuga num fim-de-semana prolongado (que se lixe o 5 de Outubro e as paradas militares, que isso não é coisa para quem não percebe patavina de G3’s, tanques de guerra, de messes, continências e gajos fardados!).

    A sexta à meia-noite aproxima-se, qual será a manchete do Expresso? Demissão? «Eu, estou demitido?», pensa Mr. Magoo enquanto escreve uma carta a agradecer todo o apoio do PM, fala da honra que foi servir e tal-e-tal. Uma frase mais colorida do PR e deixam-no cair? Que não, afinal, que está provavelmente adiada a demissão. Quê?

    Ainda assim, a manchete do Expresso em papel de tão inspirada é cruelmente mortal: diz-se que o ministro da Defesa está nas mãos do careca que mandava na Polícia Judiciária Militar, simplesmente! Ou seja, que está na palminha das mãos da tropa. Que é esta quem decide se o ministro que deveria tutelar os militares está politicamente morto-morrido, ou não. E António Costa, que na sua bonomia aparentemente não percebeu o cerne do problema que é como se deixou encurralar neste processo, ficará a aguardar dias ou semanas pelos até que, eventualmente pelos canais formais, lhe sejam apresentados os resultados da autópsia.

    Até lá, até lá, que se dane mas que… não bufe.

    https://images-cdn.impresa.pt/expresso/2018-10-04-EXP.jpg/original

    Nota, sobre o asterisco: Hugo Franco, Joana Pereira Bastos, Micael Pereira, Pedro Santos Guerreiro, Rui Gustavo, cinco jornalistas!, sendo, logo de seguida, difundida pelo Martim Silva através do Twitter e retweetada pelo Bernardo Ferrão. Cinco, siblinho, sinal de que a Impresa aprendeu com o erro da PGR.

    • Excelente, RFC, vou publicar, como sendo artigo! (É uma “surpresa” e pequena maldade, da Estátua… 🙂 ). Fiz algumas correcções de pontuação e edição, mas sempre sem desvirtuar uma vírgula o teu pensamento.

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