País real, a frio

(Jorge Nascimento Rodrigues, 30/09/2018)

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As TVs despejam-nos análises, comentários, diretos, alertas, horas a fio, sobre um crime de faca e alguidar, num entretenimento macabro tornado grande foco nacional para alimentar o circo romano.

Tancos tanqueou. Se for provada a tramóia sobre o tal assalto, a mancha, desta vez, num dos considerados pilares do Estado, é avassaladora. Já não nos bastavam os ex-comandos e comandos a protegerem-se ostensivamente sobre instruções que levam instruendos à morte. Podiam ser filhos e netos de todos nós.

Tribunais, outro dos tais pilares do Estado, decidem ser brandos com violadores e a corporação dos juízes defende-se. Podiam ser filhas e netas de todos nós. Não é generalizado este tipo de justiça e o seu argumentário nas domus iustitiae do país, concedo. Mas repete-se regularmente. Alguma coisa está podre, e não é no reino da Dinamarca.

Uma cara nova para um novo mandato na PGR faz sair do silêncio o professor Cavaco (aqui há uns tempos foi um vídeo, se bem me lembro) e o agora também professor Passos em zanga pública, quase rasgando as vestes, contra a ‘conspiração’ contra a anterior PGR. Na caça aos prevaricadores, alegados e reais, o mandato anterior permitiu os showsmediáticos nas investigações, a massificação e banalização do crime de fuga ao segredo de justiça, o ‘novo normal’ de condenar nos jornais e nas TVs antes de quem de direito julgar – próprio do totalitarismo e dos populismos protofascistas para gáudio do circo romano. Mas não passa nada no reino de Estado de Direito.

Mas há mais gente a rasgar as vestes. Umas luminárias gritam contra a ‘censura’ em Serralves face ao mínimo bom senso de reservar o acesso a um conjunto de fotos de sado-masoquismo e de exibicionismo imbecil de uma exposição mais ampla, de que não discuto o valor artístico. Duvido que essas luminárias tenham filha(o)s e neta(o)s menores. Ou, então, devem achar que isso é educação sexual em fascículos visuais — não é tão português dizer-se que é de pequenino que se torce o pepino?

O doutor Ronaldo Centeno (RC, para os íntimos europeus, não confundir com o CR…7) prepara um baile de gozação aos vitalícios sultões sindicais dos professores e da administração pública. Mas queima-lhe nas mãos o dossiê, lá fora, no Eurogrupo, da rebelião italiana orçamental.

Valha-nos que o dr. Bruno já não mete posts no Face e as TVs já não nos encharcam com o folhetim.

O presidente Marcelo conteve os banhos nas praias fluviais, pelo menos não apareceu nas selfies publicamente divulgadas. Admito que me tenha falhado alguma.

Parece que houve grandes mudanças na época de contratações das TVs – esta (este) vai para ali, aquele (a) vem para aqui. Trocas de palcos, pagos a bom p€so — dor de cotovelo minha.

Pois, e ia-me esquecendo, houve aquela palhaçada do Infarmed transformada em grande debate sobre ‘descentralização’. Só nos gozam.

Bom, isto foi o que deu o meu zapping. Concedo que me falhou muito detalhe, se calhar. Estou aberto, como sempre, a sugestões.

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