(Marco Capitão Ferreira, in Expresso Diário, 26/09/2018)
O dia acordou com a notícia da TSF que uma mãe com duas filhas, família monoparental, está visto, ia ser despejada da casa de habitação social que ocupou (ilegalmente, é certo) porque … ganha 580 euros e com 580 euros de rendimentos mensais já não se qualifica para apoios sociais.
Numa cidade onde há quartos a serem arrendados por mais do que aquele ordenado, a consequência é óbvia. Ficará sem ter onde viver com duas filhas que, suponho, têm de comer e precisam de luz, água, gás, transportes e material escolar.
Entre a pobreza extrema e a mediana de subsistência mínima temos toda esta classe dos esquecidos: os pobres que trabalham.
Numa altura em que os desafios da natalidade – só marginalmente atenuados pela emigração que ainda nos procura – são centrais para a viabilidade do País, os portugueses continuam a ter poucos filhos.
Parece ser uma decisão, ademais, prudente. A mera existência de crianças num agregado familiar aumenta e de que maneira o risco de pobreza. Quase 3%.
Em 2016, as famílias com dois adultos e três ou mais crianças dependentes, e as famílias com um adulto e pelo menos uma criança dependente, continuavam a ser as mais atingidas pelo risco de pobreza (41,4% e 33,1%, respetivamente).
E aqui temos alguém cuja vida vai seguramente piorar porque o Estado e a Sociedade se recusam a aceitar isto: a política de baixíssimos salários, que aliás estão ainda 6000 milhões de euros abaixo dos níveis comparáveis pré-crise, gera toda uma classe de pobres envergonhados. Fazem mal. A vergonha não é deles. É nossa.