O Expresso e as fake news

(Estátua de Sal, 20/09/2018)

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No último fim-de-semana a caixa alta da primeira página do semanário dito “de referência”, era sobre a recondução da Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, como se pode ver na imagem acima.

O corpo do texto, nas páginas interiores, dava conta de Marcelo querer a toda a força renovar o mandato de Joana, enquanto que António Costa, não sendo defensor da recondução, não se iria opor à solução porque, segundo a notícia, “não quereria comprar uma guerra com Marcelo”.

E assim, durante vários dias, a comunicação social em geral, sempre enviesada à direita, foi dando a recondução como facto garantido, e exultando na onda do seu furor justicialista, apesar de Marcelo ter vindo a negar, em intervenções várias, que já houvesse da sua parte, uma decisão final sobre o assunto, pois aguardava a proposta do Governo, como está previsto na legislação sobre o tema.

Ora, acabámos de saber há algumas horas quem irá ser a nova Procuradora-Geral da República que tomará posse no próximo dia 12 de Outubro, Lucília Gago de seu nome (Ver notícia aqui).

Perante isto, o que dirá agora o director do Expresso, Ricardo Costa, sempre tão bem informado dos ventos que sopram de Belém? Que o Expresso é um reiterado fautor de fake news? Ou que era tudo verdade mas que, há última da hora, Marcelo deu o dito por não dito e lhes tirou o tapete, por não querer, ele sim, “comprar uma guerra” com António Costa?

O melhor, ó Ricardo, é dizeres a verdade (fico a aguardar explicações, pois os réus tem sempre direito a defesa). Foi apenas e só um balão de ensaio tendente a pressionar o Governo para que não insistisse em afastar a Vidal, pois tal teria um impacto negativo na opinião pública passando a ideia de que se estaria a afastar a campeã e paladina da luta contra a corrupção e contra os poderosos?  A ser assim, tal manobra só pode ser tida como uma despudorada acção de fake news, e como tal desmontada e verberada. Não é esta a postura que se espera de um orgão de comunicação social que critica e pretende não se confundir com um qualquer tablóide. Mas enfim, no melhor pano cai a nódoa, ainda que, nos últimos tempos, as nódoas comecem a alastrar com demasiada frequência.

Mas retomemos o cerne da questão. A notícia de que haverá uma nova personagem na Procuradoria-Geral da República, só pode ser bem recebida. Já nem discuto os méritos da acção de Joana Marques Vidal – que alguns terá tido -, ou os deméritos – que muitos também teve. A rotatividade nos cargos é o cerne da democracia e, se tivesse havido recondução com base nos méritos, estaríamos talvez daqui a seis anos a discutir se não lhe deveríamos creditar mais seis anos de permanência, tornando o cargo eventualmente vitalício e Joana Marques Vidal uma espécie de busto da República plasmado na pedra até à eternidade.

Acresce que, a fulanização das instituições contém sempre, lá no fundo, um germe de urdidura pouco democrática e pouco republicana. A nova Procuradora não poderá – nem deverá -, ignorar o trabalho da sua antecessora, mas imprimirá na condução do seu mandato, seguramente, uma nova marca. Esperemos que, para melhor, sobretudo nos itens em que Joana falhou redondamente.

A imagem da Justiça, aos olhos dos portugueses, arrasta-se penosamente pelas ruas da amargura, segundo revelam variados estudos de opinião. Os julgamentos na praça pública, com peças processuais transcritas nos jornais, com filmagens de diligências e inquirições a passar nas televisões, só descredibilizam a Justiça. Perante estes acontecimentos, Joana Marques Vidal, foi incapaz de se opor ou de, pelo menos, descobrir os culpados e de os penalizar em conformidade.

A ligeireza – ou pelo menos a falta de explicações cabais -, com que diversos processos mediáticos, envolvendo figuras da direita, foram arquivados – tendo alguns deles suscitado condenações em jurisdições estrangeiras -, também não é abonatória de uma Justiça isenta e imparcial. Leva a opinião pública a suspeitar da existência de uma cartilha política oculta por detrás de muitas das decisões de juízes e de procuradores.

Se a acção da nova Procuradora contribuir para melhorar a imagem que os portugueses tem do seu sistema de Justiça, ajudando a limar muitas das suas pechas e vícios, a democracia terá saído reforçada de toda esta farsa político-mediática com que a comunicação social, com o Expresso à cabeça, nos presenteou nos últimos dias.

É esse contributo que esperamos si, Dra. Lucília Gago, pelo que só posso endereçar-lhe os meus parabéns pelo seu novo cargo. E para ti, Ricardo Costa, os meus pêsames. Pregaste mais um prego na credibilidade de um jornal que já a teve, e muita. Se calhar, tal como a Joana, também estás a precisar de ser substituído.

12 pensamentos sobre “O Expresso e as fake news

  1. O Expresso fabrica a falsa notícia,a SIC espalha a notícia falsa e a RTP vai atrás toda contente dizendo que não foram eles que fabricaram aquilo mas sempre vai repetindo qual televisão tonta ao serviço dos imbecis.

  2. Será que ainda há gente que considere ser o Expresso um jornal de referência ?
    Nao passa de uma versão decrépita do Povo Livre….que nunca mais vi nem nas bancas nem nas mãos de quem quer que seja.

  3. Infelizmente para os portugueses, mas sobretudo para a democracia, é uma realidade. Deixámos de ter comunicação social “de referência”, ou como lhe queiram chamar, que nos mereça confiança. Já não há e há muito, comunicação social credível, nem jornalistas isentos. O padrão é de muito baixo nível. De uma forma ou de outra, explícita ou implicitamente a comunicação serve a direita – toda a direita. Os comentadores considerados credíveis e reproduzidos, até à exaustão, por essa mesma comunicação social, são o anão sabichão (ou comentador-vidente),
    ou Miguel Júdice, ou Morais Sarmento…..
    Mal por mal e para ouvir gente de direita, apesar de tudo, prefiro o Portas, que pelo menos é um homem culto!
    Nos últimos dias temos tido “doses industriais” de Santana Lopes e do seu partido. A comunicação social anda, literalmente, com ele ao colo! São noticias nos jornais, na rádio, nas televisões; entrevistas por todos os meios e profusamente anunciadas…..Uma saturação! A direita mais rasca (peço desculpa, mas não encontro outro qualificativo) ficou órfã com a saída de cena de Passos Coelho e, desesperadamente, procura substituto. Está cheia de esperança que esse substituto seja Santana.
    É uma tristeza! Sobretudo porque é a comunicação social que temos. O nível civilizacional de Portugal não é suficiente para que os jornais se assumam de direita ou de esquerda, como nos países “ditos mais avançados”?? Lamento profundamente.

  4. Nota, free.

    Manuel G., o Ricardo Costa abandonou a direcção do Expresso há qu’anos. O Bernardo Ferrão continua a ser o seu sub mas agora está na SIC, onde a Cristina Figueiredo é a editora de Política… E, já agora, que quando escreves podes imaginar também o passado (acontece, sabe-se que não é bom, pode ser uma como que quebra de tensão… mas há exemplos patológicos, queres exemplos?) o Anselmo Crespo bazou para a TSF e no seu lugar ficou uma moça que já saiu da Impresa a, acho, e que era aliada do passismo acho também… Aliás, hoje no fórum da SIC N, a Cristina Figueiredo demarcou-se do Expresso falando em notícias que davam como certo um acordo que parece que existia, de facto, só não se sabia qual o caminho do vento para o Norte ou para o Sul. Escolheram o vento Norte, sabe-se, e por, palavras dela, verdadeiramente não se sabe se por informação de fonte segura, ou se por «convicção-usado-aqui-no-sentido-de-dar-uma-forcinha» (cito de cor, a expressão não é esta seguramente).

    As coisas não são a preto e branco, quase nunca ou nunca mesmo.

    Post-scriptum. Se quiseres apontar baterias envia um kolmi ao Pedro Santos Guerreiro, ao Martim e à Angela Silva (pois nem a Luísa Meireles, que era prata da casa em Belém, com o mandato do Marcelo deixou de ser e agora parece que está de saída para a direcção da Lusa). Conclusão, como se fosse um statement: Não É Player Quem Quer,É Preciso Saber!

    • RFC, eu guio-me pela lógica do capital, e do poder. A ficha técnica do Expresso diz que ele é o Director-Geral de informação do grupo Impresa que detém a 100% o Expresso. Logo, é impossível que uma notícia como a do último fim de semana não tenha tido a chancela do Ricardo Costa. Daí o meu artigo, nos termos que leste. Isto independentemente do director ser o Guerreiro e das Ângelas, Cristinas, and so on. Parece que sabes muito sobre a Impresa e o Expresso. Tomei nota do facto. Baseei-me na ficha técnica do Expresso que está on-line. Se está desactualizada, corrijam-na. RFC, não é crítico da Estátua quem quer… 🙂

      http://www.impresa.pt/marcas/marca/2013-07-05-Expresso

      • Não te erices também, Manuel G.

        O essencial do meu comentário tinha que ver com a posição dissonante da Cristina Figueiredo, em antena, sendo-me permitido especular que aquele é o sentimento que paira na direcção da SIC (onde brilham o Ricardo Costa, o Bernardo Ferrão e ela que, politicamente, são quem mais ordena por ali). Ora, se é assim, não poderia eu dizer que auilo é laconicamente de sua chancela (coisas que já diziam ao meu caro Watson, né?).

        Valeria a pena analisar, aliás, como a informação da SIC tratou o assunto da PGR desde sexta-feira porque, outra das hipóteses, seria a de que, tal como os leitores, também eles foram simplesmente… engazopados.

        Conclusão, como se fosse um segundo statement: Não É Player Quem Quer, É Preciso Saber!
        (não tu, mas o Pedro Santos Guerreiro que não tem unhas para aquela guitarra, o Martim diletante e a Ângela Silva intelectualmente militante que é para rimar e tudo).

        • «Ora, se é assim, não poderia eu dizer que a[q]uilo é laconicamente de chancela [do Ricardo Costa] (coisas que já diziam ao meu caro Watson, né?).», entende-se mas agora comento a cores.

        • Percebi, ó RFC: há sempre a hipótese de São Marcelo lhes ter servido uma “vichyssoise” que eles engoliram sem pestanejar e veio-se a ver que estava estragada pelo que ficaram todos de diarreia… 🙂 . Se foi isso, eles que se queixem no editorial de sábado… 🙂

  5. Viste o Ricardo Costa na abertura da SIC, às 20 horas.
    Também bateu na direcção do Expresso, embora assumindo que nós, jornalistas, também deveremos assumir as nossas responsabilidades.

    Ângela Silva, é quem aparentemente foi a boneca (parece-me que ela tem, de facto, um ascendente sobre os rapazes do Expresso). Ora, isto vem pôr em causa outra tese, esta rudemente elaborada pelo sector dos desmiolados do PS e arredores, que sustenta que a senhora passa fidedignamente os recados do inquilino do palácio de Belém… Vamos ver amanhã, de acordo. É uma questão de imaginar que há um ascendente sobre, e a Presidência da República e o Marcelo Rebelo de Sousa saem em ombros.

    ______

    Transcrições das Escutas da “Operação Marquês” – “O cabrão do Mão de Ferro já tem as instruções todas para ganharmos as Presidenciais, mas ainda precisamos de marcar o encontro”

    Aqui vai uma maldade, para quem n’A Estátua de Sal tem insónias, muiro estômago e assim:
    http://kldt.blogspot.com/2015/11/transcricoes-das-escutas-da-operacao_22.html
    (um cenário hilariante no blog Kl@ndestino, desactivado).

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