A vitória do Benfica, a decadência do futebol português e o pesadelo do populismo

(Miguel Cadete, in Expresso Diário, 30/09/2018)

cadete

Benfica venceu ontem, em Salónica, o PAOK e garantiu o acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. Uma façanha que, afinal, repetiu nas últimas nove épocas o que só foi alcançado por mais três clubes: Real MadridBarcelona e Bayern de Munique.

Talvez mais importante do que isso, nunca um único jogo disputado por uma equipa portuguesa fez entrar tanto dinheiro nos seus cofres: a chegada à fase de grupos tem um prémio de 42,9 milhões de euros, mercê das novas regras da UEFA, que a partir desta temporada “oferece” 2,7 milhões por cada vitória. O FC Porto, que entrou diretamente para essa mesma fase de grupos por ser campeão e sem necessitar de jogar playoffs, também já angariou mais de 40 milhões.

Ambos conhecem hoje os seus adversários, durante um sorteio que se realizará a partir das 17 horas e que vai ditar o regresso das maiores equipas da Europa aos estádios portugueses. O alinhamento das equipas por potes pode, naquele que seria o cenário mais extremado, fazer com que ou o Benfica ou o FC Porto, ficassem no mesmo grupo de Real MadridLiverpool e Inter de Milão. Um fartote para os adeptos que gostam de bom futebol ou que têm afición pelos clubes com mais e maior história.

Esta conquista do futebol português esconde, no entanto, a lenta mas continuada deterioração da participação das equipas portuguesas nas competições da UEFA. Longe vai o tempo em que Portugal estava em sexto lugar no ranking de clubes e dois clubes eram apurados automaticamente para a Liga dos Campeões. As equipas da Rússia ocupam agora essa posição e desde 2012/2013 têm conseguido sempre uma melhor prestação que as portuguesas. Nos últimos anos, Bélgica e Ucrânia têm-se aproximado perigosamente de Portugal o que dá uma boa ideia da cada vez menor relevância das equipas portuguesas nos torneios por clubes da UEFA. Lembre-se que na época passada, o Benfica não somou qualquer ponto nos seis jogos que disputou na fase de grupos da Liga dos Campeões.

Se a prestação desportiva tem sido de menor qualidade, também não se prevê que este ano o mercado de transferências – que fecha sexta-feira – chegue aos níveis de aquecimento registados em 2017 quando Portugal foi dos países que mais valor arrecadou pela venda de jogadores para o estrangeiro. Sem grandes vendas nem grandes compras, prevê-se também a deterioração da qualidade desportiva e financeira dos clubes portugueses, não se augurando que a formação seja capaz de marcar a diferença.

A par desta deterioração financeira e desportiva dos clubes portugueses revela-se a cada vez maior audiência de programas de TV dedicados ao futebol, de que o Expresso já dava conta em 2015. As plataformas digitais não impediram um fenómenos que faz com que os sites dos jornais desportivos se encontrem entre os que têm mais visitas entre todos os títulos de imprensa. A importância que os portugueses dão ao futebol também pode ser aferida pela pay TV ou por novos serviços de streaming como o da Eleven que recentemente chegaram ao mercado“e que não fará baixar os preços da Sport TV”. Afinal, os jogos de futebol, dos clubes e da Seleção, ocupam a esmagadora maioria dos lugares da tabela dos dez programas de TV mais vistos. Todos os anos.

Não espanta, por isso, que o fenómeno do populismo não tenha chegado a Portugal através de algum político que faça parte de um pequeno (ou grande) partido mais ou menos folclórico. O maior caso de populismo português surgiu num clube de futebol e dá pelo nome de Bruno de Carvalho.

Quando falta pouco mais de uma semana para as eleições em que vai ser conhecido o novo presidente do Sporting, vale a pena perceber que Bruno de Carvalho só não se mantém na liderança por não ter conquistado qualquer título importante ao longo de cinco anos. A sua remoção não sucede por ter usado estatutos clandestinos, por não se ter demarcado das agressões em Alcochete ou pela forma como destruiu valor.

Por isso é importante ler os textos de Rui Santos e a entrevista a Vasco Pulido Valente na próxima Revista do Expresso onde está desenhado com perfeição o retrato de um líder populista, à semelhança de HitlerMussolini ou Perón a quem não restava outra saída senão destruir o Sporting. Ou como os sete candidatos à presidência do Sporting estão a prazo e o ex-presidente só pode ter de esperar pelo insucesso desportivo para regressar.

Em simultâneo, prossegue o caso da e-toupeira, em que a SAD do Benfica é arguida num processo em que se investiga a presença de informadores nos órgãos de justiça portuguesa. O futebol pode tudo contra a democracia porque uma vitória é mais importante que o mais.

8 pensamentos sobre “A vitória do Benfica, a decadência do futebol português e o pesadelo do populismo

  1. Boa tarde.

    Creio serem do interesse dos seguidores d’A Estátua de Sal os textos publicados no Jornal Tornado, e, deste último, a projeção que A Estátua faria deste projeto, contribuindo para a sobrevivência de um caso raro de imprensa independente.

    Continuem o excelente trabalho.

    Com os melhores cumprimentos.

    Jorge Moura Pinto

  2. O texto começa com pertinência e factual. Mas cedo se vê que isso nada mais é do que a tática da boa mentira: usar um pouco de verdade para a manipulação ser mais credível… O texto continua até ao fim em sucessiva vigarice. É pena, mas é o que estou habituado a ter da maioria dos colunistas do Expresso. Vejamos:

    “Longe vai o tempo em que Portugal estava em sexto lugar no ranking de clubes”
    — FAKE: Portugal esteve há bem pouco tempo nesta situação (kassiesa. home. xs4all. nl/bert/uefa/data/method4/crank2016. html), e isso não era o normal, mas sim uma fase anormalmente positiva, que coincidiu com uma fase menos boa da França, que aliás, nos permitiu chegar não ao 6º lugar, mas sim ao 5º lugar do ranking.

    “equipas da Rússia ocupam agora essa posição e desde 2012/2013 têm conseguido sempre uma melhor prestação que as portuguesas”
    — FAKE: em 2012/2013 Portugal teve 11.75 pontos, e a Rússia teve 9.75 pontos.
    — Manipulação: não diz que Portugal acabou com menos pontos no raking, APESAR de ter amealhado mais pontos, porque o total dos pontos é dividido pelo total de equipas, e estando a Rússia atrás, e portanto com menos equipas, o seu total de pontos era dividido por menos. Ou seja, X/Y é maior que 2X/3Y, mesmo apesar de 2X ser superior a X, sendo X o total de pontos, e Y o total de equipas. Agora que a situação se inverte, Portugal terá tendência a ter mais pontos, pois esses são divididos por menos equipas, ao contrário do que acontece agora com a Rússia. Esta dinâmica alternante é normal no ranking desde sempre, e não indica coisa nenhuma.

    “cada vez menor relevância das equipas portuguesas nos torneios por clubes da UEFA”
    — Manipulação: Desde a primeira Liga Europa (primeiro Taça das Cidades com Feira, depois Taça UEFA) em 1972, até 2002 (30 anos), Portugal só tinha tido um finalista em 1983 (Benfica). E só desde 2003 até 2014 (11 anos), já teve 6 finalistas, e 2 conquistas. Se usasse da mesma manipulação, diria: “conclui-se” que o futebol Português está em crescendo. Ora, esta manipulação de escolher o período que mais se adequa ao nosso argumento, é o mesmo usado pelos negacionistas do Aquecimento Global, que em vez de olharem para a evolução da temperatura desde que há registos, olham só década a década, com intervalos muito bem escolhidos, em que a temperatura, dentro dessa década desceu.

    “Sem grandes vendas nem grandes compras, prevê-se também a deterioração da qualidade desportiva e financeira dos clubes portugueses”
    — Manipulação: para já é factual que um clube em Portugal só tem de vender (e portanto perder qualidade) por necessidade financeira, mas (e isto é matemático), portanto é mentira que um clube Português que não venda tenha uma “deterioração da qualidade desportiva”. Depois, as vendas não são sinal de saúde financeira, pelo contrário, são sinal de quem precisa de vender para pagar as dívidas. Quando um clube em Portugal não precisa de vender, e mesmo assim passa no rigor do fair-play financeiro da UEFA, isso é sinal de saúde financeira. Ou seja, o oposto do que o opinador afirmou. Tal como nas restantes empresas (e num país), o passivo (ou a dívida pública) não é à partida uma coisa má. Essa conclusão depende de outros factores: capacidade para pagar a dívida; e a qualidades dos investimentos para a qual foi usada.

    “cada vez maior audiência de programas de TV dedicados ao futebol”
    — Publicidade não assumida: aponta para um estudo da GFK, que dá só os resultados de audiências num determinado dia em 2015, e não os compara com nada anterior a isso. Os resultados são minudências (o mais visto tem apenas 1.2% de share médio, ou seja, durante o período de início ao fim do programa, houve 98.8% de pessoas a ver outras coisas!). E é um artigo publicado PORQUE a SIC (grupo Imprensa, do Expresso) tem melhores resultados que a concorrência nos dias específicos dos seus programas. Todo o artigo é um hino propagandístico ao pior que os programas de “debate” de futebol têm, chegando a enaltecer o recordista da verborreia Pedro Guerra.

    “sites dos jornais desportivos se encontrem entre os que têm mais visitas entre todos os títulos de imprensa”
    — Omissão: esquece-se de dizer que em boa parte é porque os sites (e as próprias vendas em papel) dos restantes jornais têm estado em queda, e cada vez compreendemos melhor porquê… já para não falar que estamos a comparar um mercado desportivo dividido por 3, com um mercado noticioso dividido por dezenas de sites.

    “o fenómeno do populismo não tenha chegado a Portugal através de algum político”
    — Mentira descarada: Marcelo Rebelo de Sousa, um comentador de TV durante 10 anos, com uma campanha eleitoral “dos afetos”, é o quê? E os partidos não-elitistas, como o PCP, são o quê? E depois, dizer que Bruno de Carvalho, um monopolistas da verborreia demagógica durante os últimos meses, é o único exemplo de populismo, é um insulto para quem, como eu, defende com orgulho políticas populistas (no sentido de serem políticas das classes maioritárias, em vez de serem políticas elitistas em favor de uma minoria, como so chamados 1% de wall-street, das multinacionais, e companhia). Bruno de Carvalho não é populismo, é demagogia, e vigarice. Populismo é um grupo de ideias políticas úteis, e boas, que boa parte da população agradecia que a Europa recuperasse. E há populismos de esquerda (Direitos Laborais), e de direita (Controlo de Fronteiras, não confundir com fecho de fronteiras), uns bons (SNS), outros maus (securitarismo excessivo, a roçar o big brother). E depois há a demagogia: usar um discurso aparentemente populista, para manipular eleitorado, e fazer, por trás, políticas elitistas. Caso mais óbvio: Trump.

    “Bruno de Carvalho só não se mantém na liderança por não ter conquistado qualquer título importante ao longo de cinco anos. A sua remoção não sucede por ter usado estatutos clandestinos, por não se ter demarcado das agressões em Alcochete ou pela forma como destruiu valor.”
    — FAKE, MENTIRA DESCARADA: basta falar com a maioria dos que votaram pela destituição de Bruno de Carbalho: todos repetiram um discurso semelhante para justificar o seu voto: a nível desportivo foi bom, só foi pena ter descambado desde os incidente de Alcochete, e a gota de água foi a violação dos estatutos. Mais de 70% dos sócios votaram pela sua destituição por estas razões, quando poucos meses antes tinham votado 90% a seu favor, mesmo sem ter títulos a apresentar.

    “é importante ler os textos de Rui Santos e a entrevista a Vasco Pulido Valente na próxima Revista do Expresso”
    — no comment em relação ao Rui Santos… já nem vale a pena.
    — Vasco Pulido Valente, o criado do insulto “Geringonça”, a inspiração do discurso de Paulo Portas, o homem que perante os acordos da esquerda (PCP, BE) e centro (PS), continua a chamar “extrema-esquerda” a quem só quer recuperar parte das medidas Sociais-Democratas que, essa sim a direita-radical (PSD) e quase extrema-direita (CDS) aplicaram ao país, como o ataque aos direitos laborais, mesmo sem que isso fosse pedido pela troika! Para um colunista típico do Expresso, este é que o tipo de leitura “importante” a fazer… e a cereja no topo do bolo? Compara um exterminador de judeus ao ex-presidente do Sporting, que não cumpriu os estatutos do clube, não tomou as medidas necessárias para travar os comportamentos animalescos de uma claque, e tem um discurso verborreante. É… isto e os campos de concentração, é a mesma coisa… tuda a ver…

    “processo em que se investiga a presença de informadores nos órgãos de justiça portuguesa. O futebol pode tudo contra a democracia porque uma vitória é mais importante que o mais”
    — Manipulação, corporativismo: esta processo do Benfica é o PRIMEIRO caso de sempre, emq ue uma fuga do segredo de justiça é investigada. Talvez porque é a primeira vez que é usado contra a justiça, e não pela justiça, por juízes com linha direta para a redação do Correio da Manha (sem til)… Isso não atenta contra a democracia, na visão do Expresso, porque dá umas manchetes muito porreiras, pá… o que atenta contra a democracia, é um funcionário que faz o mesmo, mas em prol de informar um membro da SAD de um clube do qual é adepto, sobre um processo, e esta é a créme de la créme, num processo em que o Benfica é vítima de ataque informático, violação da privacidade, espionagem industrial, e atentados contra o bom nome da instituição, num canal de um clube concorrente, por um indivídio que só por acaso já foi travado em tribunal, e como tal, já não pode continuar a fazê-lo.

    Concluo este testamento com uma pergunta: o responsável do Estatua de Sal estava assim tão distraído? É que um texto, tão atacável assim, destoa do resto do que aqui é costume ser publicado aqui. Incompreensível.

  3. Subscrevo na integra o comentário de Carlos Marques.
    Permito-me perguntar como chegou Vale e Azevedo ao poder no Benfica. Não terá sido com populismo e imensa demagogia, sempre com os inimigos dos adeptos em mira, como eram os casos da SporTv, o Porto?
    E Luís Filipe Vieira, como chegou ele ao poder?
    Naturalmente que Bruno de Carvalho não foi destituído por não ter ganho títulos, mas sim pelos incidentes de Alcochete e pela sua incapacidade para lidar com o caso. As rescisões que se seguiram, sem reacção dele. levaram os sócios à famosa AG destitutiva, para a qual em muito foram conduzidos por uma informação que cumpria ordens de uma cartilha já mais do que conhecida, chegando ao ponto de levar Advogados dos jogadores que rescindiam para opinar sobre a existência ou não de fundamentos para a rescisão.
    Carlos Marques também anda bem quando fala em crime informático em relação aos mails, uma vez que inexiste qualquer crime de devassa de correspondência privada, uma vez que muito bem aponta Acórdão do Supremo Tribunal de Guimarães, os mails depois de abertos, consideram-se arquivados, se não forem objecto de eliminação. E só aquele crime pode existir, se por acaso a informação dos mails não for interna, proveniente de alguém que tenha sido afastado do clube, sem honra ou glória, por exemplo.
    Quanto a Rui Santos, sobrinho do grande Victor Santos, que Carlos Marques não quis perder tempo com ele, é bom lembrar quem é esta figurinha típica do jornalismo de hoje.
    Rapidamente chegou ao topo de A Bola, graças a uma grande dedicação ao futebol juvenil, que acompanhava para o jornal. E tanto subiu, que julgou que era o maior e mais entendido sobre os jogadores das camadas jovens. E quando a Federação despede José Augusto, então seleccionador dos Juniores lusos, logo publica inúmeros artigos aconselhando a Federação a nomear para novo seleccionador alguém que conheça os jovens, que com eles tenha uma grande ligação e conhecimento, pessoa essa que até podia ser um jornalista, num auto convite que envergonharia qualquer um, quanto mais um Jornalista. A Federação recusa o conselho e em boa hora nomeia Carlos Queirós, o qual ganha dois mundiais de seguida, com uma geração que ficou conhecida como de ouro.
    Tanto bastou para que a Federação passasse a ser um ódio de estimação até aos dias de hoje.
    O mesmo ódio de estimação que tem ao Sporting, apesar de ser sportinguista. A ponto tal que há muitos que julgam que é do Benfica. Tudo porque há muito faz comentários contra a política de comunicação do Sporting, oferecendo-se numa prática já vista para ocupar o cargo no clube. Mas todos os presidentes que por lá passaram sempre recusaram a oferta, e nunca o nomearam para o cargo com que tanto sonha.
    O cúmulo da figurinha foi quando atacou Pinto da Costa e este lhe colocou um processo crime por difamação. Aí travou a fundo, e perante a ameaça, hoje dirige-se de forma submissa ao Porto, quando dele fala.
    Pelo caminho ficou a rescisão e venda das participações em A Bola, ganhas por herança do tio, tudo porque se recusou a ser parte da cartilha que já então existia no jornal, desde que José Manuel Delgado entrou para a Direcção. Dizia ele que se recusava a fazer do jornal o órgão oficial do Benfica. Logo ele.
    Quanto ao tema de fundo, é tudo como Carlos Marques diz, com algo mais que passa pelas alterações produzidas na Champions, onde a UEFA iniciou um verdadeiro campeonato dos campeões europeus, na ideia que quanto mais jogos existirem entre grandes, amiores serão as receitas de bilhética, de publicidade e de direitos televisivos. A ideia é formar um verdadeiro campeonato restrito aos grandes, e para isso há que quebrar os mais fracos. Começou com países a terem mais do que um clube (claro os mais importantes) e meteu no mesmo saco a Liga Europa e a Champions League, somando pontos e dividindo-o pelas equipas participantes. O caminho sugere que no futuro existam várias pré-qualificações até serem apurados 4/8 equipas que jogarão entre si, a duas votas, um campeonato que decidirá o Campeão Europeu, sem final como até aqui. Imaginam eles que um campeonato assim, entre Juventus, Real Madrid, Barcelona e Bayern (por exemplo) é a mina de ouro que tanto procuravam.
    Alguém vê, nestas condições uma equipa portuguesa neste campeonato? O resto dos jogos é só para entreter, porque existirá sempre um apitador ansioso por também estar nesses jogos, para não permitir a intromissão de terceiros ao pote de ouro.

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