Mistério

(Agostinho Lopes, in Foicebook, 29/07/2018)

corbyn

Jeremy Corbyn

(A Estátua responde ao autor. O que será, que será? É censura, meu caro, determinada pela agenda dos grandes interesses económicos que controlam a comunicação social. Esse Corbyn, sim, esse é mesmo perigoso! Se a moda pega nos partidos socialistas europeus lá se vai a Europa neoliberal pela borda fora, as auteridades, as troikas e todas essas malfeitorias a que tem sido sujeitos os povos europeus.
Comentário da Estátua, 29/07/2018)

O QUE SERÁ, QUE SERÁ…
Há um mistério nos órgãos de comunicação social portugueses. Continua a não se perceber, a ausência notícias sobre o Partido Trabalhista do Reino Unido, e sobretudo do seu líder Corbyn (1). Não há dia que dali, do reino de sua majestade, não venha qualquer coisa. Mais um ataque dos russos com novichok, as aflições da srª primeira-ministra, com o brexit e outros «exit», sobretudo de ministros do seu governo, mais um descendente real, com direito quase que ao parto em directo, e de Corbyn, zero.
Mesmo aqueles jornais que passaram muitos dias, lá mais para trás, a massacrarem o homem, zero. Perdão. Teve direito a uma chamada de atenção, quando se lembrou de perguntar à Srª May, onde estavam as provas do ataque russo ao espião russo, que afinal era um espião inglês!
E também, quando (uma história mal contada), uns membros do Partido se lembraram de atacar o sionismo e o Corbyn passou a ser uma espécie de Hitler! Aterrada, em pânico, Teresa de Sousa logo foi esclarecer o problema entrevistando Chis Patten, velho líder conservador e ex-Comissário Europeu, que logo a esclareceu: «Mas há creio eu, tanto na extrema-esquerda como na extrema-direita do sistema político britânico, traços de antisemitismo. Não creio que seja um problema enorme, mas reconheço que é um grande embaraço para o Labour e para o seu líder». Pega que já almoçaste.
Os nossos henriques, o monteiro e o raposo, e mesmo o excelso Francisco Assis, não diriam melhor. Pelo meio, tivemos ainda a notícia via Lusa/Público (29ABR18): «Milhares de contas do Twitter com ligações à Rússia ajudaram Jeremy Corbyn» nas eleições de 2017. O Putin é assim um “mãos largas”, mas justo, não olha quem ajuda. Nos EUA apoia a direita de Trump, no Reino Unido, a “extrema-esquerda” de Corbyn!
Nem a vinda de Corbyn a um conclave dos partidos sociais-democratas e socialistas em Lisboa mereceu qualquer relevo. Soube-se que esteve cá, porque apareceu nas imagens noticiosas de algumas televisões. Nem uma entrevistazinha! Por seu lado, o seu camarada, 1º Ministro António Costa foi a Londres, e ainda hoje se está por saber, se teve algum encontro oficial ou oficioso, com o sr. Corbyn! Admirável!
Muitas notícias sobre o Trump em Londres. Sobre o chá com sua majestade. Sobre os lapsos de protocolo. Sobre um balão que nos ares de Londres, dava uma imagem melhorada do Trump. Sobre o discurso de Corbyn nas manifestações de contestação a tal presença, zero!
Mas haja esperança. Agora que no dia 14 de Julho, foi publicada uma sondagem que põe o Labour com 40% nas intenções de voto, 4 pontos acima dos Conservadores com 36%, não vão tardar as notícias! Não foi notícia no dia 15, nem a 16, nem a 17,… talvez, lá para o dia de S. Nunca… O correspondente do Público, António Saraiva Lima, que a 1 de Abril, na onda do “anti-semitismo do Labour” se alegrava: «O clima de optimismo em redor de Jeremy Corbyn dá sinais de estar a desvanecer-se aos poucos», é que vai ter algumas dificuldades…
O que será, que será, que provoca esta cegueira persistente, este esquecimento doentio, esta distorção visual e auditiva?
Será pelo facto desse Partido Trabalhista, à revelia, ao contrário, dos seus partidos irmãos do continente, apresentar um programa contra o neoliberalismo, onde se defende o resgate e reforço financeiro do “NHS”, o celebrado SNS britânico, e o mesmo para a Escola Pública, com o aumento dos salários dos professores, menos alunos por sala e o fim das propinas; reverter o aumento da idade de reforma e um tecto para a factura energética das famílias; afirmar a necessidade de mais impostos para os ricos e as grandes empresas; defender a renacionalização dos correios, da ferrovia, da energia; por criticar a NATO e estar contra os misseis nucleares Trident, pelo desarmamento e pela paz!
Será pelo facto, de em consequência dessas opções políticas, o Partido Trabalhista britânico aparecer numa Europa onde a social-democracia desfalece ou desaparece, reforçando-se em aderentes (há quem diga que é o maior partido da Europa), influência social (incluindo jovens e sindicalistas) e eleitoral? Será porque apesar de todos os maus augúrios e notícias, Corbyn permanece vivo e de pé?
Mistério!

(1) Declaração de interesses (mais uma vez): não sou social-democrata, nem estou filiado no Partido Trabalhista (para os anglófilos, no Labour).

8 pensamentos sobre “Mistério

  1. Em Fevereiro deste ano rebentou uma “bomba” na Imprensa Inglesa: Jeremy Corbyn tinha sido espião ao serviço da União Soviética !
    A denuncia partia de um antigo membro dos Serviços Secretos da Checo-Eslováquia, um tal Jan Sarkocy, que alegadamente tinha servido em 1980 na Embaixada do seu país em Londres sob o disfarce de ser diplomata e que nessa altura teria recrutado Corbyn para, a troco de dinheiro, espiar a favor dos comunistas, com o nome de código de “Cob” !
    O Daily Mail noticiava a 16 de Fevereiro a toda a largura da primeira página :
    CORBYN “O COLABORADOR”: UM ESPIÂO COMUNISTA CHECO RECRUTOU O LÍDER DO PARTIDO TRABALHISTA DURANTE A GUERRA FRIA PARA CRIAR UMA REDE DE COLABORADORES AO SERVIÇO DA UNIÃO SOVIÉTICA !
    A “noticia” foi publicada com o mesmo destaque no Daily Express, no Daily Telegraph, no The Sun e mesmo, sem surpresa para quem está na politica Britânica, pelo The Guardian.
    O Express, que compete diariamente com o Daily Mail pelo lugar do Diário mais porco que se publica na Grã-Bretanha, transcrevia mesmo declarações do suposto espião Sarkocy: “ A nossa colaboração,(com Corbyn), era consensual: Ele recebia dinheiro pago por nós e a informação que produzia era partilhada com os Russos que controlavam tudo”. E adiantava as datas em que se tinham encontrado.
    Estes Jornais, que no mínimo se podem classificar como sendo de Direita, representam 85% da Imprensa escrita Britânica e são propriedade de apenas cinco bilionários, entre os quais Lord Rothermere, que vive exilado em França, (Daily Mail), Rupert Murdoch, de nacionalidade Americana e que vive nos Estados Unidos, (The Sun e The Times) e os Irmãos Barclay, que vivem como senhores feudais na Ilha de Sark junto à costa Francesa, (The Daily Telegraph). A estes pode-se juntar o London Evening Standard, (800.000 exemplares diários), e cujo Editor-Chefe é George Osborne, que foi até há pouco tempo Chanceler do Tesouro no Governo Conservador de David Cameron.

    Mas as coisas não se ficaram por aqui : A Primeira-Ministra levantou mesmo o caso em pleno Parlamento instando o Líder da Oposição a “confessar a verdade”.

    Mas em breve o “balão” esvaziou-se: O espião checo era afinal um mitómano e nada do que dizia tinha credibilidade, incluindo os supostos encontros com Corbyn que não poderiam ter acontecido nas datas mencionadas. Os responsáveis pelos Serviços de Informação Checos esclareceram que não havia nos seus registos quaisquer referencia a Corbyn ter sido recrutado com espião. O mesmo disseram os Alemães que também não encontraram nos registos da STASI o nome de Jeremy.

    Resta a lição de em como a falta de escrúpulos pode ir: Aqui, ou em Portugal.

    (1) Declaração de interesses, (Uma só vez) : Tenho de admitir que sou militante Trabalhista e que quanto à Anglofilia como Britânico cometo também esse pecado.

  2. Sabemos para onde nos querem levar, quando se apelidam os verdadeiros Sociais-Democratas como Corbyn (ou a ala esquerda do PS em Portugal, que anda a levar coices de A.Costa nos últimos tempos) de “radicais” ou “extrema-esquerda”, e se apelidam os Neo-Liberais de “centro-direita” ou “moderados”.

    Se é mais lento e ainda não sabe para onde é, eu digo: em Portugal é para antes de 1974… e no resto da Europa é para os anos 20 do século passado. Na Áustria já se discute o fim de uma das maiores vitórias trabalhistas (marxistas) de sempre, e o novo governo, do tal “centro-direita”, tão bem acompanhado pelos “moderados” saudisistas do homem do bigode ridículo e do braço no ar, já preparam o fim da jornada de 8 horas por dia e 40 horas semanais, para a substituir com uma bela “reforma restrutural” do mercado de trabalho para o século XXI: 12 horas diárias e 60 horas semanais.

    Vivam os “moderados”, o “centro-direita”, a economia “livre”, e os “europeístas”… e vivam também os “socialistas” europeus, que é como a comunicação social manipuladora gosta de chamar aos da Terceira-Via, que de Socialistas e mesmo Sociais-Democratas, já não têm nada, a não ser o nome dos partidos de que se envergonham, logo toca a fazer como o banqueiro, e Neo-Liberal da direita-radical, Emmanuel Macron, e fundar ideologias “novas”.

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