Jovem sueca impede deportação de afegão em aeroporto na Suécia 

A notícia:

suecaUma jovem sueca obteve uma pequena vitória contra a onda anti-imigração que paira sobre a Europa. Nesta segunda-feira (23), ela impediu que um avião descolasse para não deixar que um afegão de 52 anos fosse deportado. A maioria dos passageiros sabem que a aeronave não pode decolar até que todos estejam sentados e com os cintos afivelados, desta forma, ela ficou em pé, em protesto, até que o homem fosse retirado do avião….

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E se tivesse sido cá?

(Por Joseph Praetorius, 27/07/2018)

O que teria plausivelmente aontecido se isto se tivesse passado num avião português e com portugueses? Que teria acontecido, no local, à rapariga e o que se passaria depois em tribunal?

Do ponto de vista da análise social, ocorreria que os funcionários fariam violentamente desembarcar a rapariga; a polícia por seu turno espancá-la-ia.

Os relatórios seriam viciados não só, como é hábito, no sentido de dizer que ela teria agredido os polícias e que teria portanto havido resistência e coacção a funcionário – motivo pelo qual o uso da força teria sido necessário – como se faria constar que a perigosa arguida se teria lesionado a si própria para comprometer os agentes da polícia. No caso de a violarem, os relatórios trariam menções de extrema perigosidade da arguida, a fim de mais ninguém falar com ela ou nela acreditar.

É plausível que – imediatamente e no local – os atrasados mentais, entre os passageiros, além de protestarem, começassem a dizer que ela pretendia desviar o avião. Tal versão daria mais colorido às vidinhas pardacentas e essa gente, teria, enfim, uma coisa interessante para contar. Os funcionários e polícias ganhariam pontos. Apareceriam nos jornais. E os jornais, sempre no desespero de se venderem, acolheriam as piores versões. Assim sendo, a tentativa de desvio do avião passaria a integrar as imputações escritas. A prisão preventiva seria decretada. O telemóvel teria sido apreendido e todas as pessoas que nos contactos existissem seriam interrogadas sob suspeita de rede terrorista.

Os familiares seriam incomodados. E as televisões descobririam os conflitos de vizinhança, e apareceriam depoimentos atestando convicções radicais e, plausivelmente, a arrogância. “Sempre teve a mania de ser mais inteligente que os outros”, viria um janado dizer às televisões, um antigo colega dela no secundário, que a via ao longe sem nunca lhe ter falado.

Sob prisão preventiva, a natural revolta e protesto seriam reprimidas com selvajaria. E ela seria submetida a medicação psiquiátrica severa. Ao ponto de adormecer diante do defensor e de não conseguir dizer coisa com coisa.

O defensor, oficioso, aceitaria as versões dos funcionários. Talvez recorresse, mesmo assim, da prisão preventiva. Mas o desembargador Ventosidade Santa, ou Campeador Gonçalves, ou Agosto Paliçadas, viriam dizer que ninguém em seu juízo pararia uma descolagem sob a alegação – estupida em tais circunstâncias – de querer salvar a vida a alguém, sem pretender realmente desviar o avião. A experiência comum ensina, diriam, que um repatriado vai simplesmente para casa dele, com viagem paga e refeições a bordo. A invocação das pretensas intenções denotaria o perigo a que a prisão preventiva deveria fazer frente. Quem foge ao vácuo mental, pretende algo de mal, acrescentaria Agosto Paliçadas, lembrando um aforismo muito popular em Palma de Baixo. As renovações da prisão preventiva seriam feitas pela invocação mágica e proibida da fórmula “rebus sic stantibus” (mantendo uma inversão proibida do ónus da prova por exigir ao preventivo a demonstração das razões para ser libertado, dispensando o sistema de demonstrar as razões para o manter preso).

A CMTV publicaria imagens da rapariga de avental e luvas, suscitando a provável filiação maçónica. O Sol descobriria que já da avó se suspeitou que tinha namorado com um homem do PRP BR.

O juiz de instrução pronunciaria, por ser mais provável a condenação que a absolvição, como ensina o Marques da Silva em Palma de Baixo contra toda a jurisprudência do Tribunal Europeu (porque expressar convicções de culpa é anular a presunção de inocência). Talvez a audiência fosse secreta, para ninguém ver a sobredosagem de psico-fármacos. A sentença seria demolidora. E os juízes do colectivo seriam convidados para comissões de serviço úteis à carreira.

Os relatórios do SIS assinalariam então ao governo a operatividade de células perigosas no território e fariam a eterna recomendação do aumento das suas competências, dos seus meios e dos seus efectivos, recomendando ainda o aumento da cooperação internacional que faça viajar mais os dirigentes da estrutura, insistindo no aumento das suas conferências públicas e assinalaria, também, a premência de incutir. pela máxima divulgação nas escolas, o objectivo securitário da “comunidade de segurança”, i.e. da denúncia delirante generalizada. Os relatórios do SIS dizem sempre a mesma coisa, a propósito seja do que for.

Todas as personagens são ficcionais, evidentemente. Sobretudo o Marques da Silva, que nem sequer pode existir e ninguém conseguiria inventar.

Isto posto, que é feito da Diana Andringa? Acho que só ela nos conseguiria salvar.

5 pensamentos sobre “Jovem sueca impede deportação de afegão em aeroporto na Suécia 

    • Trata-se evidentemente da expressão de uma convicção pessoal; do meu ponto de vista, que é o ponto de vista da minha experiência de mais de trinta anos de actividade forense, é plausível que as coisas se passassem assim como digo. Digo aliás menos do que aquilo a que assistido e às vezes resistido. A audiência in camara injustificada, (i.e. legalmente impossível) já vi, a jurisprudência referida está publicada. Espancamento de militante política (uma rapariga de metro e meio) já vi também (não vi o espancamento, mas vi os efeitos e logo a seguir). Atitudes estranhas da polícia estranhas já toda a gente foi informada que existem, A conduta da imprensa está debaixo dos vossos olhos. Uma só referência que pode parecer brutal é a questão da violação. Eu não vi, claro, Ouvi apenas a rapariga a contar-ma e não consegui nenhuma investigação do caso (que aliás sabia que não seria investigado) mas fui levado a juízo por ter assinalado tal questão. A situação foi assinalada internacionalmente, aliás. O público chegou a pôr on line esses elementos, mas retirou-os, mantendo embora outros também importantes. Tem aqui os elementos. http://www.statewatch.org/news/2014/apr/aced.htm

  1. Também já vi transformar uma questão política em questão criminal. Infeizmente, vi-o muitas vezes. Junto um exemplo. (E aqui até com arguição pelo MP das convocções políticas como se criminais pudessem ser). Os militantes sintetizaram assim: http://pt.indymedia.org/conteudo/newswire/25112 (e também publicaram as alegações de recurso que podem portanto ser vistas).

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