NA PROA DOS MOLICEIROS, CARAGO!

(José Gabriel, 14/06/2018)

moliceiro

“Universidade de Aveiro anuncia estágios com salários de 120 euros para licenciados”- lê-se no Jornal de Negócios. (Ver notícia aqui ).

Perante isto, o nosso primeiro impulso – que, a bem dizer, costuma ser o certo – é dar um murro na mesa, em a havendo – somos pela paz – e gritar: cambada de crápulas! – notem, apesar de tudo, a contenção. Depois, pensamos bem e a coisa merece uma análise mais fina.

Ora, sabendo nós que a palavra “salário” tem a sua origem no latim “salarium” , o soldo, pagamento do soldado que era feito em sal, logo nos apercebemos de que a iniciativa da Universidade de Aveiro é uma aposta na economia local, já que todos conhecemos a importância da produção do sal nesta região.

São, pois, só vantagens. Excepto para os contratados, claro, mas esses vão tornar-se, por esta via, funcionários públicos os quais são, asseguram-nos quase todos os comentadores televisivos, um bando inúteis com demasiados privilégios.

Deste modo, não só se aproveitam os recursos locais como, por esse facto, se dá força ao movimento municipalizador com que o nosso governo quer livrar-se de problemas, entregando a sua resolução aos poderes locais que, no caso de Aveiro, são de uma formosura democrática e de uma tradição progressista da qual já muitos de nós tivemos explosiva – literalmente – experiência.

E mais: levando às últimas consequências a etimologia deste pagamento, a vida dos contratados não apresenta grande esperança, uma vez que bem sabemos do efeito do consumo de sal nas doenças cardiovasculares, dando assim novo sentido à ideia de contrato a prazo. 

Como se vê, a Universidade da chamada – por um pobre de espírito, é verdade – “Veneza de Portugal”, rasga novos caminhos para a Nação. Desta vez não são caravelas, são barcos moliceiros de passear turistas, mas é o que se arranja com a boa vontade local.

Elevado por este espírito inovador, eu próprio proponho para a dita Universidade um novo hino académico: 

“Sapore di sale
Sapore di mare
Un gusto un po’ amaro
Di cose perdute
Di cose lasciate
Lontano da noi
Dove il mondo è diverso
Diverso da qui”

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