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Reflexões

(António Pestana, 24/04/2018)

abril_novo

Escrevo propositadamente hoje, 24 de Abril do ano da graça de 2018.
Não a 25, como de costume, mas hoje 24.
E, aviso já, que posso estar azedo. que me apetece escrever algumas palavras cruas e duras (fica a bolinha vermelha no canto superior direito para os mais sensíveis).

Dizia Churchill que a Democracia era o pior sistema , tirando todos os outros.
É felizmente incontestável que vivemos hoje muito melhor do que há 44 anos atrás e nunca me cansarei de enaltecer esse facto.
Temos liberdade, temos paz, temos pão, temos saúde, temos habitação, (como na canção de Sérgio Godinho).

Mas debrucemo-nos sobre todos e cada um destes temas…

Temos liberdade.

Liberdade ou libertinagem? É que temos liberdade para dizer que este País é uma merda, mas não exercemos essa liberdade para contestar isso, e cada um de nós ter a consciência cívica de apresentar alternativas. Temos até a liberdade de dar uma tareia a um professor porque deu má nota ao precioso infante; temos liberdade de aceitar alegremente tudo o que nos deitam na gamela, sem discutir o que lá está. Temos liberdade mas não temos espírito crítico, o que convêm, e de que maneira, a todos os que ainda estão a 24 de Abril.

Até temos a liberdade de aceitar alegremente sermos o país com maiores desigualdades salariais da Europa.

Até temos a liberdade de aceitar (temo) de ser um dos países onde a quantidade de filhos da puta por metro quadrado atinge valores dignos de registo.

Até temos a liberdade de virar costas à maior mistura de poderes ( judicial e mídia ) de que há memória.

Até temos a liberdade de corar de vergonha quando vemos em Inglaterra uma Ministra obrigada a demitir-se por mentir sobre uma multa de trânsito.

Temos liberdade para ter emprego… enfim uma forma parecida; de ter um pseudo salário muito acima das possibilidades dos empreendedores de sucesso que por aí circulam, que vomitam que mais vale emprego a prazo de que desemprego. que dizem à descarada há melhor do que tu. Que arranjam outro num abrir e fechar de olhos. E temos e exercemos a liberdade de aceitar livremente esse facto.

Temos, como disse, a liberdade de aceitar e “conviver” com uma quantidade assaz inquietante de filhos da puta, sem uma cultura crítica de dizer NÂO.

Temos Paz.

Certo. E bem vinda. Já não temos medo de ter de ir para África defender um Império uno, do Minho a Timor, e eventualmente deixar lá os ossos.
Temo ser este aspecto que ainda vá safando Abril, apesar de devaneios como a Cimeira das Lages.

Temos Pão.

Enfim… um certo exagero, quando são considerados pobres, não os indigentes ou sem abrigo, mas os que trabalhando por contas desses tais referidos filhos da puta continuam a estar abaixo do limiar da pobreza, segundo padrões internacionalmente definidos.

Ai, desculpem; esqueci-me. É que tirando a produtividade conseguida pelas marcas de luxo, em que esses tais filhos da puta se pavoneiam, possuem ou vivem, a produtividade apresentada por esses tratantes é muito menor do que a da restante Europa.
Ahh !… a famosa produtividade à custa dos outros.

Temos saúde.

É um dos campos onde, de facto, estamos a anos luz daquilo que se passava a 24 de Abril de há uns anitos atrás.

Já não temos (por enquanto) os índices de mortalidade infantil que havia. Ainda temos um Serviço Nacional de Saúde, capaz de ombrear e ultrapassar muitos outros, apesar das tentativas de o “modernizar, rentabilizar e garantir a sua sustentabilidade”. Apesar da proliferação e incentivo aos hospitais privados, onde essa tal onda de filhos de puta se pode tratar tendo dinheiro, mas convenientemente inacessíveis a quem estando doente tem de escolher entre comer e ser tratado. Entre pagar a renda da casa ou aliviar e tratar as maleitas.
Acresce o facto de poder essa gente ter piolhos, ou outros vermes rastejantes ou não, e dar má reputação à nobre e digna instituição. (as noticias vinda a público de salmonela e outros bicharocos malvados em unidades privadas não passam, quanto a mim, de calúnias destinada a perturbar a ordem vigente).

Temos habitação.

Temos, penso eu, a liberdade de atentar às notícias e esperar alegremente o provável regresso às barracas e bairros da lata, sinal de uma sociedade competitiva e alavancada no turismo, e alegremente nos congratularmos com a compra de apartamentos de luxo nos Estados Unidos por governantes em funções – os tais que devíamos sufragar e exigir-lhes responsabilidades e respeito. Ou viagens pagas por duas vezes aos representantes de todos nós e que, pelos vistos, não passam de vulgares pilha galinhas (dentro da mais estrita legalidade, entenda-se).

De facto, falta cumprir Abril.

3 pensamentos sobre “Reflexões

  1. Estranha ilusão de liberdade(?) e paz(?) Vivemos melhor mas terrivelmente endividados
    Nada muda : as grilhetas impostas por um ditador conhecido numa ditadura ou as algemas impostas por ditadores desconhecidos numa ilusória e irracional democracia . …

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