Não é o facebook o nosso verdadeiro inimigo

(Jorge Rocha, in Blog Ventos Semeados, 28/03/2018)

facebook2

Para os principais defensores das direitas um mundo perfeito neste cantinho à beira-mar plantado seria aquele em que as únicas fontes de informação, que chegariam aos eleitores, seriam os canais de televisão e de rádio atuais (quer os públicos, quer os privados, porque em nada se distinguem no seu alinhamento com tais áreas políticas) e os jornais e revistas remanescentes da crise geral da imprensa (quase) todos da propriedade dos mesmos suspeitos do costume.

Sem outro contraditório que não fosse o da militância dos partidos de esquerda através das, então, pouco noticiadas ações de divulgação das suas ideias, chegaríamos a um situação parecida com a da Polónia ou a da Hungria em que os resultados eleitorais contemplam maiorias robustas às forças políticas já no governo e de cujos mecanismos se servem para imporem uma ditadura de facto, que só ingénuos ou mal-intencionados continuam a qualificar de democracia.

No entanto essa é tese que não impressiona os antissocialistas primários, que vituperam a Venezuela de Maduro, mas esquecem facilmente as práticas dos partidos europeus parceiros do PSD e do CDS no PPE. Um dos nossos leitores até veio com a tese peregrina de que, se os povos do Leste, tinham eliminado os seus partidos comunistas, justificava-os a memória de quanto eles lhes tinham desagradado. Para quem defende tais teses não existiram contínuas ações da CIA no sentido de desestabilizarem esses países, financiando-lhes muitos dos seus «opositores» e, depois, através do controlo dessa (des)informação, instilar-lhes ideias manipuladas sobre o que é a Democracia, a Liberdade de Imprensa ou qualquer dos demais direitos fundamentais.

Quem anda tão ciosamente a defender os multipartidarismos do tipo de Democracia implantado por  todo o Ocidente compraz-se com essas supostas liberdades – usufruídas decerto pelos que detêm a propriedade, e por inerência, o poder, mas sonegadas à grande maioria silenciada e explorada.

Não pondo em causa que a Democracia socialista deva ser multipartidária, deve-se porém denunciar o quanto o modelo atualmente existente só aceita essas regras de respeito pelas maiorias se elas coincidirem de facto com os interesses dessa minoria, cuja natureza é explorar as mais valias da enorme maioria. Porque, como se vê na Catalunha, acaso essa compatibilidade se não verifique, logo avançam os tribunais para condenar, as prisões para encarcerar, e os tratados internacionais para extraditar quem sair do redil pretendido.

Nos últimos anos as redes sociais têm permitido disseminar vozes alternativas ao dar o direito à palavra, e quantas vezes à indignação, dessas minorias silenciadas nos órgãos de comunicação tradicionais. Por isso importa silencia-las e é nesse quadro que se constata a guerra atualmente declarada contra o Facebook.

O que se espera venha a ser compreendido por Zuckenberg é quanto os métodos empreendidos pela Cambridge Analytica correspondem a esse ataque: embora detestando a democracia global quanto à afirmação da liberdade do pensamento, os plutocratas, que financiaram as ações de sabotagem agora expostas, tiveram a inteligência de explorar-lhe as fragilidades, estando à vontade para a conseguirem calar depois de terem levado a Grã-Bretanha a votar no Brexit e Trump a ocupar a Casa Branca.

Nós precisamos das redes sociais para contrariar o cerco mediático, que nos quer obrigar a pensar todos pela bitola dos mesmos valores e conceitos, que só interessam a quem nos explora. Que o Facebook se reformule e volte a ser aquilo que urge converter-se: no grande instrumento de discussão e de partilha de ideias, que facilite o advento de uma sociedade efetivamente democrática.


Fonte aqui

10 pensamentos sobre “Não é o facebook o nosso verdadeiro inimigo

  1. O Facespy nunca foi outra coisa senão uma plataforma para vender utilizadores. Tudo o resto é incidental, até porque não paga salários.

  2. Através das redes sociais temos conhecimento das opções postas em discussão e temos a possibilidade de as avaliar e a liberdade de escolher as que mais se coadunam com as nossas convicções quer políticas quer religiosas, as mais expostas na comunicação social.

  3. Grande ingenuidade ou ingénuo falar para estar de acordo com o desejo e esperanças próprias.
    De que lado pensa, o caro “ventos semeados”, se posiciona o Snr. dono e patrão do facebook? Porventura, que tal jovem grande patrão pensa e está do lado oposto aos outros grandes patrões da imprensa tradicional pelo que poderá um dia, por obra e graça da sua juventude ou iluminação divina, usar o poder que detém em prol dos povos contra os plutocratas? Que estes usaram o lado mau do facebook através da Cambridge Analytica? Ou será que foi o snr. Zuckenberg que usou a Analytica para, com uma cajadada matar dois coelhos, isto é, sacar mais uns milhões ao mesmo tempo que faz o mundo andar no sentido que lhe interessa.
    O “ventos semeados” fala do poder dos plutocratas e coloca aquele que detém um dos poderes mais poderosos no exercício da plutocracia, e por tal eles estão todos nas suas mãos, do lado dos que espera compreensão para o bom uso dos meios e métodos modernos que permitem, precisamente, a manipulação plutocrática universal.

  4. « (…) quem defende tais teses não existiram contínuas ações da CIA no sentido de desestabilizarem esses países, financiando-lhes muitos dos seus «opositores» e, depois, através do controlo dessa (des)informação, instilar-lhes ideias manipuladas sobre o que é a Democracia, a Liberdade de Imprensa ou qualquer dos demais direitos fundamentais.(…)» Pois, não é que nada disso existe. “Nam” senhora…..”tá-se” a ver….Mas sim precisamos, cidadãos comuns, de locias onde a nossa voz seja VOZ .urgentemente . Não creio é na bondade de que seja via facebook ou outra similar. Gostaria de acreditar nessa possibilidade. Seria uma arma poderosa. É uma arma poderosa MAS instrumentaliza-nos e não creio que mude-

    • A nossa VOX nunca é voz, pelo menos em situações que colocam em risco o SISTEMA e os seus DONOS!

      Tirando isto a ilusão democrática serve precisamente para gerar na manada de escravos uma sensação de que “o meu voto conta”, ou “a minha voz é ouvida” mas tudo isto só é válido para coisas triviais.

      NADA DE REALMENTE FUNDAMENTAL PARA ALTERAR O SISTEMA É FEITO apenas porque se ouve a manada a mugir!

    • E então fazemos o quê? Derrotismo? Estar sempre do contra e deixar-mo-nos dominar por o suposto Deus todo poderoso da direita, que constrói a verdade que mais lhe interessa?

Deixar uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.