Roçar mato ou atear fogos – o que rende mais votos?

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Ponto de situação. Roçar mato ou atear fogos – o que rende mais votos?

A luta política em Portugal trava-se hoje entre a roçadora de matos e o lançador de fogos. É por isso que políticos do governo deitam mão às roçadoras e os da oposição às acendalhas e aos malefícios das labaredas.

Tanto o governo como a oposição conhecem os portugueses; sabem que estatísticas de défice ou desemprego, de balança comercial são afagos, mas que as guerras se decidem com sangue. Todos os dias os índices de vendas do Correio da Manhã explicam que para os portugueses as boas estatísticas são canja de galinha e o que rende é churrasco com muito piripiri. O que rende é sangue e fogo. Há que ir à luta. O sarampo não rendeu nenhum morto, apesar da histeria dos jornais e televisões e a seca terminou sem imagens dramáticas.

O relatório de uma dita comissão independente, foi o mais recente sinal de que o campo de batalha da política está nos incêndios e que a oposição estava, como lhe compete, a fazer a cama ao governo. A situação é simples: a oposição quer fogos e necessita desesperadamente de fogos! É o seu melhor, se não o único trunfo. Cristas, ou Marcelo falam da necessidade de roçar mato, apenas para no Verão, antes das eleições, poderem acusar o governo de não ter roçado o mato. Este ano entrou para a política da oposição uma vítima dos incêndios, é previsível que para o ano entre um incendiário. Para o governo há que roçar o mato para que não surja uma Nádia incendiária.

Não restava ao governo e a Costa mais que agarrarem-se à roçadora de mato e às televisões para se oporem aos futuros incendiários e ao seu previsível discurso da incúria, do “eles não fizeram nada”. Pois fizeram: o governo equipou-se a preceito de roçadora contra os lançadores de fogo. Até mostrou a tropa, incluindo um marinheiro.

É significativo da armadilha que a dita comissão independente preparava e preparou com o seu relatório, que não tenha ouvido nenhum incendiário! Os verdadeiros especialistas. A dita comissão independente não considera o fogo posto, o crime como matéria a considerar. Apenas a incúria e a “descoordenação”. A questão é o governo não ter roçado o mato, dos pinheiros e dos eucaliptos estarem muito altos e de um deles ter caído sobre um fio eléctrico! É preciso ser muito independente para chegar a tais conclusões!

O governo sai então a roçar o mato, devidamente equipado. O espectáculo dos ministros, autarcas, tropas e populares de roçadora, capacete e fato de macaco é caricato, mas os serões dos Portugais em Festa que as televisões promovem com moças gorduchas aos saltos e umas réplicas de Quim Barreiros a bojardar ao som de uma concertina também são e o povo gosta. Siga a música!

Para a semana, na Assembleia da República, as equipas dos roçadores de mato e as dos “que os incêndios nos acudam aos votos”, os representantes do povo, vão discutir bravamente se o mato mata ou as labaredas lavam e salvam. Uns tiveram de se agarrar às roçadoras e os outros vão ter de engajar os habituais lançadores de fogos.
De facto, não tendo nem o sarampo, nem a seca frutificado em votos – resta o fogo. Tudo se vai decidir entre roçar mato e atear fogos.

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