Os incêndios e os vampiros

(Por Carlos Esperança, 23/03/2018)

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O êxodo dos meios rurais, o desordenamento florestal, o excesso de eucaliptos, a incúria dos municípios e proprietários, o negócio dos fogos, a vertigem dos incendiários, a rede elétrica e fenómenos climatéricos anómalos, reuniram-se, no ano 2017, para acrescentar ao desastre habitual, a morte e o sofrimento de numerosas vítimas.

O que se torna obsceno é a mórbida evocação, a impedir o luto do país e, sobretudo das famílias, com fins partidários, e necessidade de esquecer responsabilidades passadas e presentes de uma direita sem pudor, remorsos ou soluções.

Após numerosas missas, exibições de labaredas, reincidentes visitas do PR e evocações diárias da tragédia, repetem-se relatórios, acusações furiosas da direita, com provedores de Misericórdias, vítimas que fazem o luto na televisão, ex-autarcas do PSD nomeados generais de bombeiros e a rede de comentadores que vive da exumação de cadáveres.

Porque é preciso que o fogo das acusações continue atiçado, aparece mais um “relatório independente” onde «o maior fenómeno piro-convectivo registado na Europa até ao momento e o maior do mundo em 2017, com uma média de 10 mil hectares ardidos por hora entre as 16:00 do dia 15 de outubro e as 05:00 do dia 16» tem por base declarações de um ex-responsável para imputações ao governo cuja audição foi julgada supérflua.

Já voltaram à comunicação social os avençados do costume, os acusadores de turno, os líderes dos partidos com bitolas distintas para mortos de incêndios e de procissões, que distinguem a tragédia dos fogos em matas privadas e a da queda de um carvalho sobre a procissão, no adro de uma igreja da Madeira.

Até o PR, devorado pela devoção e afetos seletivos, reza mais por uns do que por outros, e atrela um bispo para missas de sufrágio dos que foram queimados, e dispensa-o para os que a árvore esmagou, sem que a Igreja seja tão pródiga a ressarcir as vítimas como o Estado.

Já é tempo de aproveitar a chuva para apagar os fogos e incentivar a sua prevenção.

5 pensamentos sobre “Os incêndios e os vampiros

  1. Sou da mesma opinião. Deixem-se de acusações debitadas para o país. Queremos ouvir falar e ver o que se está a fazer no campo da prevenção. Para evitar repetição de erros que roubam vidas e futuro ao povo.

  2. Pessoal… HÁ SEMPRE QUALQUER COISA A ARDER… no grão de areia.

    Esta conversa de “prevenção”, não passa disso, conversa!
    Colectivamente sustentamos um sistema de sociedade e de existência que é incompatível com prevenção.
    Este ano pode ser que não arda da mesma forma… Mas se arder não é nada de admirável!
    A única solução é acabar com a Floresta!

  3. vai haver incendios enquanto houver empresas de aviação privada para incendios é igual a meter uma raposa a cuidar de um galinheiro

  4. Ninguém alvitra que o pânico,o choque e o terror que esta canalha de direita quer ver dominantes,são os piores assassinos em situações de perigo?

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