Passos Coelho – o académico precário_

(Carlos Esperança, 06/03/2018)

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«Passos vai dar aulas de Administração Pública e Economia (…) no ISCSP, onde deverá ser professor convidado catedrático.»

Quando Passos Coelho, ainda com o pin da bandeira de Portugal ao peito, anunciou que ia dedicar-se à vida académica, pensou-se que ia fazer uma pós-graduação ou tentar um mestrado, numa escola prestigiada, para valorizar a tardia licenciatura.

A surpresa surgiu quando afirmou que ia dar aulas em três universidades, surpresa que se transformou em estupefação quando a comunicação social informou que ia dar aulas em mestrados e doutoramentos; e a estupefação virou pasmo quando uma Universidade pública o contratou como “professor convidado catedrático”, até agora sem desmentido a repor o bom nome da instituição pública.

O seu currículo podia igualmente dar-lhe acesso a general de 4 estrelas nas FA, por ter nomeado o ministro da Defesa; a juiz, do Tribunal de Contas, pela forma como geriu as contas do Estado; do Constitucional, pela experiência de chumbos dos OE; do STJ, pela ignorância de que era preciso pagar à Segurança Social e usar na Tecnoforma os fundos europeus que a UE reclama de volta; a diretor do SIS, pelas relações com Relvas, Marco António e Marques Mendes, excelentes informadores; etc.; etc…

Não censuro Passos Coelho por aceitar o lugar para o qual não tem condições mínimas, tal como sucedeu com o de PM, mas exijo, como cidadão, que a direção do ISCSP diga qual o critério que presidiu ao aviltamento do Ensino Superior Público. A instituição está em causa e, com ela, todos os que tiveram longo e exigente percurso para chegarem a professores catedráticos. O facto de o diretor, Manuel Meirinho, ter sido convidado em 2010, como deputado independente do PSD, por Passos Coelho, pode não ser alheio ao convite e à distinção académica como retribuição.

Por mais ex-dirigentes do PS que se apressem a defender o novo catedrático, com igual entusiasmo ao que usaram no combate ao atual governo, não há um módico de decoro ou de suporte legal na leviandade da contratação e na apreciação do mérito de quem já sabia ter a cátedra à espera. Só surpreende que estivesse vaga e sem concorrentes.

Se é nepotismo, não é um problema académico, é um caso de polícia, mas o ministro da tutela e o reitor da Universidade de Lisboa não podem alhear-se, por maior autonomia de que o ISCSP goze.

Finalmente, Marcelo Rebelo de Sousa, que tem opinião sobre tudo, que opinião terá do novo académico, ora seu colega?

7 pensamentos sobre “Passos Coelho – o académico precário_

  1. E a lei? Não se cumpre? Mais um caso Relvas a assombrar as universidades portuguesas! Texto lúcido sobre esta nova situação de desrespeito pelos direitos do cidadão comum!

  2. O problema é que quando os escândalos se sucedem, sem consequências de maior para os seus protagonistas e beneficiários, os cidadãos mais distraídos vão-se habituando a que isso tudo faça parte (normal!…) da paisagem social em que vivemos… Até que, gradualmente, vai deixando de haver lugar ao espanto e cólera dos primeiros escândalos…

  3. COELHOS DE CARTOLA

    Estes senhores donos de Portugal fazem o que lhes apetece,mas sobretudo fica claro a grande qualidade dessas universidades. Todavia podiam ser revolucionárias se convidassem para catedrático da economia familiar aqueles que recebem o salário mínimo ou a pensão mínima. isso é que seria levar conhecimento real para as faculdades do grande engenho dos grandes portugueses vitimas de toda esta IGNOMÍNIA. De resto é tudo uma questão destes ou de outros Coelhos de Cartola.

  4. Sinto-me obrigado a informar que aqui ao lado na Juan Carlos também se teem arranjado uns mestrados muito jeitosos ((El caso del máster que consiguió Cristina Cifuentes en la Universidad Rey Juan Carlos (URJC)). Mas o mais lindo é aquela porcaria insuspeitável de Columbia pagar ao Pinho para ensinar aquilo que nunca soube e nunca saberá. Enfim… Não estamos sós, o compadrio virou multinacional.

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