Os bons desejos do Dr. Júdice

(Francisco Louçã, in Público, 18/11/2017)

josemigueljudice

José Miguel Júdice

(Confesso que este artigo, já de dia 18, me tinha passado, mas merece vir à estampa, com retrato do Dr. Júdice e tudo. Mais um comentador da direita, provavelmente, o mais “esclarecido” de todos, e daí o mais perigoso, depois de D. Marcelo se ter, pelo menos na forma, reformado. Louçã desmonta o afã com que Júdice – também ele criador de cenários e mensageiro de recados -, anseia pela queda da Geringonça, ou pelo menos, por uma maioria absoluta do PS que dispense este de ter fazer cedências aos partidos à sua esquerda, o mesmo é dizer, ao mundo do trabalho e aos mais desprotegidos. 

Eu cá por mim, não perco na TVI, às segundas-feiras as catequeses da luminária. Convém saber o que a direita anda a fazer para lhe travar o passo. E jamais se deve subestimar o inimigo.

Estátua de Sal, 22/11/2017)


 Quem comenta, seus males espanta? Nem sempre. José Miguel Júdice, comentador TVI, tem a sina de se enganar quando trata da esquerda, o que ficou evidente no seu anúncio solene de que o PCP se absteria no Orçamento. Era coisa garantida depois das autárquicas, aí vinha uma orgulhosa abstenção. A conta era esdrúxula, pois implicava que, para que o orçamento ainda assim fosse aprovado pondo-se o PCP de lado (15 votos), o PS votasse com o Bloco, o PAN e os Verdes (108 votos) de modo a que a direita (107 votos) não vencesse. Este cenário sempre foi uma fantasia. Pago para ver o dia em que, numa questão importante, o PCP vota de um modo e outra sua parte vota ao contrário, seria pirueta. Mas o maior obstáculo ainda era político: negociando o Orçamento em detalhe e conseguindo algumas vitórias significativas (redução do IRS para os trabalhadores e pensionistas com rendimentos baixos, aumento das pensões, contratação de professores e medidas sociais), os partidos de esquerda ficam amarrados ao mesmo compromisso que limita o governo e devem viabilizar os seus próprios resultados. Portanto, assunto encerrado, o Orçamento, que ainda tem pela frente um mar de detalhes de especialidade, será aprovado. Júdice arriscou uma previsão e é vencido pelos factos.

Tranquilizem-se os leitores, nada tenho contra este tipo de previsões. Antes à frente de toda a gente, não há palco mais exposto do que a televisão perto de si, do que intrigas palacianas, ou subterfúgios, ou insinuações. Pão pão, queijo queijo, estas afirmações são conferidas nas semanas seguintes por toda a gente que as ouviu.

Mas Júdice resolveu dobrar a parada. Agora já não é o PCP que vai fazer cair a geringonça. O que nos foi revelado na última intervenção é muito mais soturno: o Primeiro-Ministro, homem matreiro, estará a cogitar provocar ele próprio eleições para alcançar a maioria absoluta, ali pela primavera. O cenário é convidativo, eleições internas no PSD, ou vai Rio ou vai Santana, ambos têm as suas vantagens para o PS, ambos lhe prometem “pactos de regime”, o que em Portugal só tem má fama, um levou o PSD à sua maior derrota de sempre e outro acantonou-se, ambos dividem o partido e nenhum deles convence o eleitorado que anda órfão de direita. Vai daí, Costa provoca crise política, sacode a esquerda que atrapalha o governo com exigências e usa o pretexto da Comissão Europeia, que manda recados a este orçamento sobre o pouco ajustamento do “défice estrutural” e outras sandices e quererá contas a meio de 2018.

O aborrecimento é que isto é uma fantasia. Primeiro porque o governo não provoca uma crise invocando uma culpa da “Europa”, seria suicidário quanto à sua história e política. Para o PS, como para o falecido “arco da governação”, a “Europa” é o último recurso de legitimação, não é uma justificação para a recusa de qualquer imposição que seja. Segundo, porque Costa não provocará uma crise política que tenha o aspecto de uma jogada: para satisfazer o desejo de Júdice, teria de se demitir de iniciativa própria, o que arrasta uma factura pesada. Não se confia no Primeiro-Ministro que deita abaixo o seu governo para pedir mais poder, tendo tido maioria estável. Terceiro, essa estratégia divertida entregaria a decisão ao Presidente e o PS nem quer ouvir falar nisso.

Resta então a questão: porque é que Júdice sugere algo tão estapafúrdio, se me perdoam o meu francês? Porque deseja que haja este abanão. A direita, como Júdice, está agora nisto: queremos o poder mas não podendo ser, pelo menos que o PS tenha maioria absoluta, já dormimos descansados. Façam qualquer coisa, atirem-se ao chão, corram com essa esquerda, défice estrutural e nada de corrigir pensões miseráveis, venha a redução do IRC, ora ouçam as clientelas. Natureza de escorpião? Talvez exasperação.

5 pensamentos sobre “Os bons desejos do Dr. Júdice

  1. «Em Abril de 2005, no decurso de uma entrevista que concedeu ao ‘Jornal de Negócios’, (entrevista conduzida pelo jornalista Pedro Santos Guerreiro, publicada na edição de 06 de Abril de 2005) José Miguel Júdice -um dos sócios-fundadores da PLMJ – A. M. Pereira, Sarágga Leal, Oliveira Martins, Júdice e Associados, Sociedade de Advogados – defendeu a instituição de uma espécie de regime de preferência para as ‘três principais sociedades’ de advogados (entre as quais INCLUÍA a PLMJ) no que concerne a contratos adjudicados pelo Estado. ‘Pelo menos, sempre que têm de escolher advogados, que consultem estas três sociedades’, apelou Júdice». Mas o mesmo Júdice não deixava já de reconhecer, na mesma entrevista, que o Estado já preferia essas três sociedades (a citada mais Vieira de Almeida e Morais Leitão). por serem as maiores e por terem, por esse motivo, um leque de serviços mais amplo.
    Retirado de ‘Os Facilitadores, Como a política e os negócios se entrecruzam nas sociedades de advogados, do jornalista Gustavo Sampaio.
    José Miguel Júdice é, entre todas as raposas do ‘galinheiro’, a mais astuta, logo a mais perigosa para a gente mais desprotegida deste país, trabalhadores por conta de outrem, reformados/pensionistas e desempregados. E claro que visceralmente anti-comunista.

  2. J.M.J. defende a sua classe, e ainda estamos vivendo numa sociedade onde as classes existem e continuam cada vez mais distantes… O mesmo acontece entre os países…. São numerosos e enraivecidos todos aqueles que querem meter a baixo a Geringonça. Mas vejo o A. Costa mais sólido do que nunca…

  3. faz silêncio ó Sr. louça estamos todos fartos desta direita, esquerda, volver, Benfica , Sporting , Porto Volver. Todos vós sois
    Burgueses e “Canalhas-E já agora relembro Jaime da manta branca, foi um “REPENTISTA”e vagabundo com jeito para as décimas.Viveu nos célebres tempos da miséria para os lados do CANO, Sousel e Estremoz.
    trazia sobre as costas de Verão e de Inverno uma manta branca e dormia ao relento.
    Um dia, nas “ABAS” do Verão estava deitado à beira de uma estrada perto de uma coutada. quando por ali passaram uns dos tais “FASCISTAS” que os democratas tanto cortam na casaca hoje, esquecendo que eles foram os AVÓS e Pais dos iluminados da actualidade.
    O grupo vinha-se se chegando para o almoço.
    No cordão de caçadores vinham alguns do governo do Estado novo.
    O dono da coutado quis fazer um brilharete e meteu-se com o Jaime desta forma:-Ó Jaime sai-me da “torrina” do Sol, morres aí tostado.
    Jaime respondeu de imediato levantando as mãos para o SOL.

    Ó SOL tu és a crença
    Hei-de morrer aqui tostado
    Irei ter a recompensa
    do frio que tenho passado.

    Muito bem ó Jaime, vem connosco beber um copo e fazes-nos mais uns versos dos teus…
    Assim aconteceu, lá foi o Jaime de barriga a dar horas, e com desejo de saciar a sua necessidade de vinho.
    No decorrer do almoço, a provocação continuou, o velho Jaime da Manta branca foi apresentado como se dum animal de circo se tratasse.
    Jaime, faz-nos mais uma das tuas.
    Depois de um prolongado silêncio o Vagabundo sai-se com esta…
    NÃO VEJO SENÃO CANALHAS
    DE BANQUETE EM BANQUETE
    QUEM PRODUZ E QUEM TRABALHA
    COME AÇORDAS SEM AZEITE.

    A plateia ficou a torcer o nariz e . -Está bem jaime, acaba lá de beber o copo e vai andando…

    Penso que esta história, continua muito actual nos tempos que correm. há para aí muitos espíritos iluminados a semearem discórdia e divisão, num País desgraçado, vendido a retalho e sem futuro.
    É este SENHOR HOJE de ESQUERDA???
    Mostrem-me os seus ganhos no final de cada mês. Para fazer as minhas contas se a sua opinião está de acordo com a sua conta bancária.
    Temos tantos comentadores neste rectângulo que nem que o dia tivesse 69 horas conseguiríamos fazer deduções.
    Ó Louça, acalma-te!

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