O que o País deve a Marcelo e o que não pode consentir

(Carlos Esperança, in Facebook, 15/11/2017)

Clonagem

Imagem in Blog 77 Colinas

Após a tomada de posse, Marcelo surgiu sem prótese conjugal, irradiando simpatia, em flagrante contraste com o antecessor. Com a cultura, inteligência e sensibilidade que minguavam a Cavaco, tornou-se um caso raro de popularidade.

O respeito pela Constituição da República, elementar no constitucionalista, levaram-no a aceitar o Governo legitimamente formado na AR e a que Cavaco dera posse com uma postura indigna de quem, sem passado democrático, é devedor à democracia dos lugares cimeiros que ocupou.

Marcelo, em vez de ameaçar o País e denunciar à Europa os perigos imaginários que um ressentido reacionário lobrigou no entendimento democrático dos partidos de esquerda, ajudou ao desanuviamento do ambiente político e à higienização do cargo para que fora eleito. Fez o que devia, e teve a decência de romper com a herança de dez anos.

Esgotado o mérito que lhe será sempre creditado, entrou num frenesim próprio de quem é hipercinético, por temperamento, e ansioso de mediatismo, por idiossincrasia, como se estivesse em permanente campanha eleitoral.

A presença constante nas televisões, a opinião sobre tudo, o comentário que vai da bola à alta política, o exercício das suas funções e a exorbitância delas, a ida a funerais e casamentos, a presença pública em cerimónias litúrgicas e a confusão entre o Palácio de Belém e a sacristia, onde se comemoram milagres, começa a inquietar quem vê na sua conduta o atropelo à laicidade do Estado e a ingerência abusiva em funções do Governo e no condicionamento do comportamento dos seus agentes.

Ao ler hoje o elogio do PR ao lastimável pedido de desculpas do ministro da Saúde por mortes causadas por uma bactéria, como se o ministro fosse responsável, vi uma cultura judaico-cristã de culpa e de arrependimento, incompatível com a dignidade das funções e os esforços para resolver situações imprevisíveis, e que, no seu dramatismo, tendem a ser exploradas e ampliadas pela morbidez instalada na comunicação social.

É altura de dizer basta à deriva presidencial, que não tem uma palavra para condenar os silêncios sobre os desvios dos fundos comunitários, as fraudes nas autarquias e os atrasos nas investigações sobre as eventuais burlas nos bancos GES/BES, Banif, BPN, BPP e BCP, e se torna excessivamente loquaz a querer transformar o OE-2018, em discussão na AR, num instrumento para a sua popularidade.

Há já dificuldade em distinguir a genuína empatia de um caso patológico de narcisismo.

6 pensamentos sobre “O que o País deve a Marcelo e o que não pode consentir

  1. Só alguém pouco atento não repararia na mudança radical das expressões facial e verbal após a saída pela porta das traseiras do PPC…Isto leva-nos a concluir que tem sido tudo uma farsa e a máscara do artista principal está cair .Lamentável e sinal de pouca coerência .

  2. É no infortúnio e nas classes menos políticamente esclarecidas que tradicionalmente votam á direita que este flautista de Hamelin á portuguesa vai buscar o suporte á continuidade do seu poder narcisista e fascizante…O fatalista e incontornável para muitos endeusamento feudal que provoca a subserviência cega ao seu suserano ,pois dele depende toda a plebe ,encontrou eco em Salazar ,Marcelo ,o outro ,Balsemão ,Cavaco ,Portas e Passos & Cª lda …Agora ,um historiador narcisista , informado e manipulador ,pretende perpetuar essa cadeia ,esquecendo que a declaração dos direitos do homem é válida e reconhecida como uma vitória dos tempos modernos e,que é comum a todos os portugueses e não a élites escolhidas a dedo por quem detém o poder da massa eleitoral …Os recentes valores humanistas duma esquerda imprevista ,mas actual ,pois está de acordo com a evolução natural duma sociedade que se renova e actualiza em novos valores mais equitativos ,não vem ao caso para este (des)encaminhador….Já esteve num executivo a prazo que pouco ou nada resultou ..Neste momento ,está a escrever a própria história e a do país….Seria talvez melhor deixar respirar o actual executivo ,não travar a actual e consensual recuperação ,já que é de prever que outros lhe irão suceder e , por outros historiadores será comentado ,bem como julgado pelo povo ….

  3. Concordo com esta análise.E acrescento uma nota muito crítica ao infeliz arrependimento do ministro da saúde que arrastou o governo para uma culpa que não lhe pertence.Agora é preciso chorar frente ás tvs para manter imagem na opinião pública?E depois o Costa é que é mau por não lacrimejar…

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