Faz de conta que foi do calor

(Estátua de Sal, 26/10/2017)

O Governo apresentou muitas e variadas medidas para combater fogos à posteriori – isto é, depois deles já estarem desencadeados -, e para acorrer às vítimas e aos prejuízos causados, mas praticamente nenhuma para identificar e punir quem poderá ter ateado fogos, evitar futuras acções desse tipo, e determinar quais os desígnios por detrás de tais crimes. O Governo, a comunicação social, o Presidente da República, andam todos a brincar ao faz de conta que foi do calor. 

Mas há fortes indícios que indicam que não foi do calor ou que não foi só do calor. E se não o foi, por muito que se limpe a floresta, por muito que se ataquem os eucaliptos, por muito que se povoe o interior, haverá sempre fogos dramáticos, tragédias e gente a morrer ou em risco de vida, em função da existência de acções humanas criminosas e terroristas. E se tais acções não são e não vierem a ser evitadas, aí sim, poderemos falar em “falhas do Estado”, Estado esse a quem os cidadãos entregam o monopólio do uso violência democrática para que ele possa garantir a segurança da comunidade.

É nesse contexto  que publico abaixo um texto e imagens que só corroboram a minha presunção de que não foi só do calor, e um outro texto que segue a minha linha de análise, exigindo uma investigação séria, independentemente das medidas já tomadas.


Incêndios misteriosos

(João Alferes Gonçalves, in Clube de Jornalistas, 25/10/2017)

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Esta foto aérea mostra duas frentes de incêndio rigorosamente paralelas, entre Aveiro e Figueira da Foz. A extensão era de duas ou três dezenas de quilómetros. Esta estranha ocorrência, só por si, dá azo a muitas perguntas. Acontece que o cenário repetia-se mais abaixo, entre a Figueira da Foz e a Nazaré. Na zona onde se situa (ou situava) o Pinhal de Leiria. (JAG)

Os jornais e as televisões andaram muito entretidos, durante e depois dos incêndios, a pedir a demissão de ministros, o que não lhes deixou muito tempo para fazerem o trabalho jornalístico básico. Em que concelhos houve ignições, quantas e com que intervalo de tempo? Em que local tiveram início e como se propagaram as chamas? Etc.

Ainda ontem à noite, uma jornalista admitia, num canal de televisão, que não se sabe ao certo quantos incêndios houve e onde. Também ninguém se preocupou muito com isso. E no meio da conversa lá vieram à baila as queimadas e as faltas de cuidado dos cidadãos.

As polícias prenderam ou identificaram miúdos, domésticas e incendiários avulsos. Pergunto eu: um incêndio como o da foto resulta de uma queimada? De um acto intencional de um incendiário isolado?

Lembro que se trata de frentes de fogo rectilíneas com dezenas de quilómetros. Não é preciso ser especialista para ter uma ideia do que aconteceu. Nas duas imagens abaixo, fica uma indicação das distâncias entre os pontos mencionados e uma perspectiva aérea da distribuição da floresta.

Em todas as medidas de prevenção de incêndios florestais preconizadas, não vejo nenhuma que admita uma acção deliberada de terrorismo incendiário. E no entanto ele move-se.

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Fonte aqui


Porque é que não vejo ninguém a falar da necessidade de um inquérito aos últimos incêndios?

(Por Penélope, in Blog Aspirina B, 19/10/2017)

Já aqui me insurgi contra o jornalismo vergonhoso que por estes dias se faz. Não disse, mas digo agora, que melhor fariam os jornalistas se, em vez de fazerem jogos políticos e acusações, fossem investigar as horas a que os incêndios começaram, a quantidade de acendimentos por concelho, as queimadas confirmadas e outras questões que conviria apurar, para além das condições meteorológicas concretas. Porque a questão é a seguinte: metade de Portugal ficou de repente a arder, num só dia, e o prejuízo em vidas humanas, vidas animais, explorações agrícolas, indústrias e florestas foi incomensuravelmente maior do que em Pedrógão Grande. Se, no caso dessa tragédia, se abriu um inquérito sério, por que razão não se faz o mesmo para esta tragédia de dimensões nunca vistas?

Inúmeras pessoas (os chamados populares) residentes nesses locais são peremptórias em afirmar que nada daquilo foi normal. E não hesitam em avançar teorias da conspiração de contornos políticos. É certo que a terra, o mato, a vegetação em geral estavam para além de secos. O vento também só acrescentou desespero à impotência. Mas a distribuição generalizada dos fogos pelo território já não parece a ninguém coincidência. Por isso, o mínimo que se deveria fazer seria mandar investigar. O Governo deveria, por assim dizer, contra-atacar. Começando, dado não ter ainda outros dados, com a falta de educação das populações e a incúria das autoridades municipais, em vez de se torturar com sentimentos de culpa, ir atrás da conversa do Marcelo e gizar grandes planos de ordenamento florestal. Porque a verdade é esta: quem quiser pôr uma mata a arder (ou duas, ou três), põe, haja caminhos ou não haja caminhos, bons acessos ou maus acessos, muitos ou poucos bombeiros e equipamentos de combate. Não há que ter medo de lançar um inquérito. A extensão da tragédia mais do que o justifica. Ainda há pouco ouvi na TSF um agricultor da região de Penacova que perdeu todas as suas plantações de medronheiros. Bem tratadas, limpas, suficientemente dispersas para garantir que algumas se salvariam em caso de fogos. Não adiantou. Perdeu tudo. Ordenem o território, limpem as florestas, mas não tenham ilusões de que quem quer fazer o mal o fará novamente.

Na Idade Média, matavam-se (queimavam-se) três ou quatro judeus na sequência de um terramoto e o assunto ficava arrumado. No século XXI nada fica arrumado com a “queima” de uma ministra. Por isso, caro António Costa, como vítima que também sou destes incêndios, eu quero saber o que aconteceu no fim de semana passado.


Fonte aqui

8 pensamentos sobre “Faz de conta que foi do calor

  1. Se a DEMOCRACIA é o sistema supremo do “faz-de-conta” é natural que infecte outras atitudes!

    jornalismo vergonhoso“… ONDE?

    A ANEDOTA do dia é:
    “Foi com surpresa e até com choque que foi recebida pelo Governo a declaração do Presidente da República na terça-feira sobre a resposta a dar aos incêndios. Não só pelo tom da intervenção, mas porque o chefe de Estado estava a par de tudo o que estava a ser preparado, na reacção às tragédias deste Verão – e Marcelo nunca terá transmitido qualquer desacordo desses passos e o calendário a seguir, garantiu ao PÚBLICO uma fonte do executivo.“!

    Quando ouvi a 1ª vez tal balela ainda pensei que a fonte teria sido algum comunicado oficial do gabinete do 1º ministro!

    AFINAL NÃO! Foi uma “fonte do executivo“!
    Claramente o jornalismo de vão-de-escada está a aperfeiçoar-se… daqui a nada ainda vamos descobrir que a culpa disto tudo é dos Russos!

  2. Pois…
    Pois claro!….
    É assim mesmo!…
    Ou deveria ser assim mesmo!…
    Eu também acho, como quase todas e todos devemos achar, claro, e este meu quase é porque há quem não ache, e outros e outras ainda há que dizem que acham mas pensando e desejando o contrário!…Estou a lembrar-me, por exemplo, de um canhaleca (de canalha, isso mesmo) que, politicamente vai já a caminho do jazigo que ele próprio foi edificando com os “piegas”, com os “emigrem que até vos valorizam”, com as “idas para além da troika”, com o “temos que empobrecer”, com “o cortar nas gorduras do Estado”, com “os exemplos a seguir do dias loureiro”, com os etc., etc., que até encomendou a vinda do diabo (e que, como a minha mãezinha me ensinou desde criança é o símbolo do fogo)!…ou seja, gentalha desta é o que mais há por aí a querer que venha qualquer coisa, qualquer que seja, desde que seja para deitar este geringonçado governo a baixo: então, vale tudo, inclusivé tirar olhos (nenhuma das vítimas teria ficado com seus olhos, eu acho se bem que ainda se trate de mais um “achamento”).
    Mas eu lembro a umas pessoas (as menos idosas) e relembro às mais, que “filmes deste género” (que me perdoem as vítimas e seus famliares a metáfora, e a quem aproveito para aqui expressar a minha solidariedade neste momento difícil), no meu Portugal que fez ABRIL, eu já vi em 1975, no “verão quente” e nunca vi ninguém dos da governança se preocuparem, antes pelo contrário, pois vi o fascista e criminoso de guerra do spínola ser mandado regressar do estrangeiro para onde, em 2 helicópteros militares, se pôs em fuga levando outro material de guerra, e onde criou e comandou o ELP (exército de libertação de Portugal), organização terrorista e bombista que ajudou a pôr o país a arder, assaltaram sedes de partidos de esquerda (do partido dito socialista, não lembro), casas de progressistas, etc., enquanto os miúdos comandandos pelo “Grande Educador da Classe Operária, para baralhar e espalhar a confusão a expensas da CIA, assaltavam as instalações do cds, spínola esse que foi reintegrado no exército e até promovido a Marechal!…
    E também nunca vi, nem soube de ninguém que visse, instaurar inquéritos ou iniciasse procedimentos com vista a identificar os terroristas e os incendiários!…
    Por isso, não estou muito admirado de também agora ninguém se ter lembrado de tal coisa, nem, sequer, usar essa coisa da “violência democrática” que o amigo Estátuadesal fez referência (permita-me a pergunta, ó Estátua: essa coisa que referiu desse jeito, será aquela mesma coisa que o Raroy ali na vizinha Espanha usou há dias na Catalunha????).
    Não obstante, eu ainda alimento a esperança de um dia em Portugal podermos ter um governo de esquerda e então, sempre que esta gentalha “mijar fora do penico” como o fez em Pedrógão e agora em Outubro, poderem ser presos, julgados, condenados e, porque não, infectados com o vírus da SIDA, por exemplo.
    Aguardemos então, pra ver!

      • Sabes, caro estátua:
        Tinha acabado de ler um texto que pretende demonstrar que nessa muita grande democracia yankee, em meados do século passado, perante um pretenso estudo científico que projectava o crescimento populacional a partir dos então enormes e progressivos aumentos na natalidade, e concluía que a partir de 2000, os alimentos não chegariam para todos os habitantes do planeta Terra!?!?….
        Então os ditos yankes decidiram fabricar o virus do dito síndroma, assim como a cura, para, imagine-se, começar a espalhar em África, por forma a morrerem uns “bons milhões” de seres humanos e, desse modo, poder haver sopa para todos os cá de baixo não abrangidos, e caviar para as elites que, pouco mais de 1/2 século depois, já são os tais 1%, para onde pensam que entram uns quantos portugas pafiosos pafientos que andam por aí, e não só.
        Entretanto, como o virus parece poder ficar encubando durante 5 anos, os sentenciados que sugeri poderiam não morrer logo como mataram as vítimas!…
        Quanto aos arrepios, deixo isso ao cuidado do arrepiado.
        Aquele abraço, do
        aci

  3. O tò arrepiado sou eu e, já não é novo .data de anos ,basta ver o meu histórico,basta de inclusões,procuro resultados práticos da vida real…Desabafos,não passam disso,é necessário divulgar,para ter expressão na VIDA REAL,….Reforma na justiça e na comunicação social,…Podemos ser pilotos numa união europeia a duas velocidades….basta divulgar e ganhar força nas redes sociais…Dúvidas ?…

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