Clara Ferreira Alves. João Duque. Raul Vaz. Alguns dos vírus que intoxicam e estupidificam a opinião pública.

(In Blog Um Jeito Manso, 21/10/2017)
(Nota prévia: Quero deixar aqui o meu elogio à autora do texto, criadora do Blog Um jeito Manso. Texto contundente, certeiro e verdadeiro, tão rascas e mauzinhos são a cáfila dos opinadores de serviço nas televisões, que não “comentam” e se limitam a vender “banha da cobra”, como se todo o auditório fosse uma cambada de imbecis. Não, imbecis são eles. Um vendedor de sabonetes tarimbado vende o seu produto muito melhor e mas eficazmente do que eles.
Estátua de Sal, 22/10/2017)

Claro que, depois de aqui ter estado a meditar, na maior tranquilidade, — e, já percebi, para mim escrever é uma forma de descansar a mente e o corpo — a última coisa que me apetecia era voltar ao tema da porcaria de comentadores e de jornalistas sub-dotados que não vêem um palmo à frente do nariz, que aparentemente são pagos para dizer apenas o que os mais descerebrados dos espectadores esperam ouvir e que intoxicam a opinião pública de forma viral.

Mas sentir-me-ia mal se não me pronunciasse sobre o que estou a ver, o Eixo do Mal, com a histérica e demagoga Clara Ferreira Alves a demonstrar, de novo, que, quando fala, desliga, o intelecto.

Já no outro dia, aquando do despacho de acusação do processo Marquês, ela se tinha atirado a Sócrates de uma forma estranha e desmiolada. Quando o Daniel Oliveira lhe perguntou se tinha lido o dito despacho para assim falar, engasgadamente reconheceu que não. Contudo, a esperteza ainda lhe chegou para dizer que não mas que tinha lido a narrativa que colegas do Expresso tinham feito sobre o assunto. Clara Ferreira Alves é isto. Uma catatua que papagueia o que outros dizem. Em primeira mão não sabe nada nem tem um pensamento consciente e bem informado sobre coisa alguma. Histriónica, descontroladamente excitada, ela é como muitos outros a quem a televisão dá palco: acham que é portando-se como caniches acéfalos que ladram constantemente e que se mostram prontos a morder as canelas de quem esteja debaixo de fogo por parte dos PàFs que garantirão o bem remunerado emprego de comentadeiros.

Claro que todos gostamos que não haja incêndios, todos gostamos que as linhas telefónicas não ardam, todos gostamos que haja bombeiros e aviões que cheguem e, sobretudo, todos lamentamos as vítimas, os danos, as perdas. Alguém duvida disso? Espero bem que não.

Mas a bem do decoro e da inteligência, quem seja intelectualmente honesto compreende que as causas para estas desgraças são muitas, algumas fora de controlo humano (seca severa, trovoadas secas, ventos intensos), são profundas (terras abandonadas, habitações esparsas no meio da floresta), resultam de erros antigos (terras não limpas, linhas de alta tensão a tocar as árvores), de hábitos ancestrais (foguetes e queimadas em tempo quente e seco), de receitas erradas (redução de gastos na prevenção) — e que não é em poucos meses que se revoluciona tudo e se consegue evitar ou controlar catástrofes de dimensão incomum.

No entanto, aquela mulherzinha que ali está na televisão, grita contra António Costa e contra a ex-ministra Constança como se eles estivessem no governo há anos e fossem os responsáveis por tudo. Só uma mentecapta pode dizer o que ela diz. Gentinha como ela é perigosa pois pessoas assim recusam-se a compreender as coisas e apenas fazem barulho, quase incitando ao desmando. Assim se cria o terreno para o populismo. O populismo é isto que Clara Ferreira Alves aqui está a fazer. Assim se alimentam os mais primários e irrracionais instintos de vingança e justiça popular

Já antes, até ter feito um higiénico zapping, me tinha arrepiado com o ar arrogantezinho blasé de João Duque na SIC a pronunciar-se sobre as medidas do Governo.

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À pergunta sobre o que tinha ele a dizer sobre o que tinha acabado de ser anunciado, responde o dito João Duque — que, lembremo-nos, foi fervoroso apoiante de Passos Coelho e que assinava por baixo de tudo o que láparo decidia — qualquer coisa como: ‘O que se pode perguntar é porque é que o governo esperou tanto? Porque é que esperou tantos meses, depois de Pedrogão?’
E eu daqui apeteceu-me perguntar ao dito doutor-sapateiro-bombeiro: ‘E porque é que não fez essa pergunta quando Passos Coelho era primeiro-ministro?’ ou então: ‘É isso que ensina aos seus alunos? Para tomarem decisões sem estudar, sem fazer contas, sem analisar a sua exequibilidade?’
É que é muito fácil perguntar isto agora que aconteceram as desgraças mas nunca estes novos acusadores se lembraram de pensar no assunto quando, ao longo de quatro anos, nada foi feito para ordenar o território, limpar as matas, vigiar e proteger, etc, etc.
Não digo que, nestes dias de desgraça, tenha sido feito tudo o que devia ter sido feito: o que digo é que não sou eu ou qualquer outro zé da esquina que sabe avaliar as causas do que aconteceu. Mas há quem o saiba.
O estudo que foi apresentado por uma comissão de sabedores, ao que ouço dizer, foi claro, exaustivo, abrangente. Segundo li, percorre de uma ponta a outra os aspectos a ter em atenção para prevenir e combater os incêndios florestais.
Ora, segundo António Costa disse, o Governo esteve à espera dos resultados do estudo para poder decidir como mais eficazmente actuar na raiz dos problemas, em profundidade, atacando o mal em várias frentes, de forma integrada e consistente.
E o que hoje ouvi no fim do Conselho de Ministros extraordinário parece revelar um conjunto de medidas inteligentes e abrangentes que parecem corresponder às necessidades detectadas aos mais diversos níveis.

Mas sobre o estudo das causas do incêndio de Pedrogão ou sobre as medidas agora decididas nem uma palavra de Clara Ferreira Alves. Nem dela nem do outro artista que se senta ao lado dela, o Luís Pedro Nunes. A estes dois zinhos apenas interessa se Costa chorou ou se a emoção que demonstrou foi genuína ou se não passou de uma lágrima política. Para estes zinhos, o exercício governativo não deve ser um exercício sério e honesto mas sim um exercício mediático para agradar aos comentadores.

Mas não são só eles. Não. A coisa é viral. Por todo o lado apanhamos disto.

Ao fim do dia, vínhamos no carro e ouvimos uma notícia na Antena 1. Dizia o jornalista que Marcelo tinha avisado o Governo: que os milhões que vão ser gastos nos apoios não deviam fazer esquecer a necessidade de manter o défice baixo. Ouvimos e ficámos perplexos. O meu marido exclamou: ‘Este gajo…primeiro quer medidas e agora avisa para a aplicação das medidas não dar cabo do défice?’. Mas, logo a seguir, passaram as palavras do próprio Marcelo. Afinal não era nada do que o jornalista tinha dito. Marcelo concordava com as medidas de que já tinha conhecimento e referia apenas que a fórmula de cálculo do défice não deveria contar com estas verbas excepcionais e as palavras dele eram dirigidas sobretudo a Bruxelas e a quem monitoriza as contas públicas. Ou seja, o jornalista não tinha percebido nada. Mas, mais grave, logo a seguir passam a palavra a Raul Vaz. O que achava ele das palavras de Marcelo? Pois bem. Mostrando não ter ouvido as palavras de Marcelo mas apenas o disparate do jornalista, Raul Vaz, com voz assertiva, encheu a conversa de censura ao Governo, dos apelos de Marcelo para que não esquecesse o controlo do défice, para que não use o dinheiro que agora parece que salta das pedras para dar cabo do défice. Nem queríamos acreditar naquilo. Não se tinha dado ao trabalho de ouvir as palavras de Marcelo e ali estava a desfiar disparates, papagueando o que outro tinha dito. A desinformação espalhada pelos comentadores é uma mancha que alastra pelas rádios, pelas televisões e jornais.

Depois, o dito Raul Vaz continuou, falando das medidas anunciadas — e criticava o Governo por ter esperado tanto sem fazer nada — e como se as medidas tivessem nascido ali, na reunião do Conselho de Ministros, sem preparação prévia, como se os ministros ali estivessem apenas a mando de Marcelo, e tivessem estado todo santo dia a inventar medidas à pressão. Ouvíamos aquilo perplexos. Então aquela criatura não percebe que, antes de as medidas irem a discussão e aprovação no Conselho de Ministros, são feitos estudos nos ministérios, que orçamentam verbas, que equacionam alternativas, que analisam a forma de implementar medidas…? Acharão que trabalho sério se faz em cima do joelho, sem bases? Sem antes terem negociado com Bruxelas verbas extraordinárias? Sem antes terem negociado que estas verbas não contam para o cálculo do défice?
E como se dá palco e se põe um microfone à frente da boca de gente que não pensa, não estuda, não se informa? Porque é que os contratam? Para quê? Com que intuitos?
Não passam de uns vulgares maledicentes, ignorantes, populistas, incendiários sociais.
Estes comentadores avençados estão a destruir a credibilidade do jornalismo e a intoxicar a opinião pública.  São uma doença. São um perigo para a democracia.

19 pensamentos sobre “Clara Ferreira Alves. João Duque. Raul Vaz. Alguns dos vírus que intoxicam e estupidificam a opinião pública.

  1. Texto perfeito e acertivo. Pena que na comunicação social não exista esta clarividência, estamos Entregues a uns média comprados pela direita que em muito contribuem para os populismos.

  2. Tem realmente que acontecer a curto prazo,uma reforma na justiça….A manipulação da opinião pública está há muito tempo a prejudicar a transparência por ser tendenciosa.Vem em linha com o espírito do diz que disse,tão ao gosto da mentalidade do tempo da “outra senhora”…Isenção,equidistância e vontade de resolver problemas estruturais,faz apenas parte da fachada…O mediatismo trás o reconhecimento pecuniário,e garante-lhes o pão á mesa e,tal como numa corrida,vê-se quem vai á frente nas sondagens e tendências e muda-se de opinião ao sabor das conveniências do vencedor…Execrável..

  3. CFA está insuportável. Os seus comentários deste último sábado mostraram uma mulher azeda, odiando tudo o que se aproxime da esquerda actual Independentemente das convicções de cada um de nós, aquelas intervenções vêm do fundo duma alma em sofrimento pelo vitorioso entendimento à esquerda. Logo que se formou este governo CFA mostrou um anticomunismo desbragado e inconformado. Hoje não se pode ouvir sem revolta. A senhora entrou por um túnel e vive lá à espera que o governo de espatife. Esta posição relativamente aos incêndios não é racional e cola-se à direita mais ressabiada. Surpreende até quem a considerava uma pessoa sensata. Qual quê. Só vendo e ouvindo. Até as poses de vedeta a “fazer-se” à câmara para o melhor “look” é ridiculamente estudada. O eixo do mal perde audiência a favor do competidor directo Governo Sombra, embora tenha lá um émulo, o JMT que é, nem mais nem menos a CFA do GS.

  4. Aplaudo de pé!!!… Há muito tempo que desisti de ver as TV’s portuguesas e ler «jornais» portugueses. Opção consciente por uma questão de sanidade mental. Há que nos defendermos da permanente agressão verbal com que tentam endoutrinar o «rebanho». Para me manter minimamente informado sobre a realidade nacional, vou-me valendo de sítios, portais e blogs como este «Estátua de Sal» (que muito agradeço e em boa hora subscrevi…), onde o que se passa «lá fora» já vem minimamente filtrado da porcaria toda com que embrulham os factos.

  5. Uns têm de cumprir o ditames do famoso clube…outros de demonstrar reconhecimento pelas sinecuras que recebem receberam ou esperam receber do poder político. São os tributos impostos pelo sinalágma!
    Obrigado “Estátua de Sal”.

  6. É confrangedor, mas já esperada, esta maledicência de grande parte dos comentadores, sempre os mesmos, que continuam a proliferar nos meios de comunicação social, tem um objetivo muito simples, ou seja, denegrir de forma acintosa aqueles que não são medíocres.
    O que dizer mais?
    Eu diria são” porcos e maus”.

  7. Clara Ferreira Alves desceu a um nível impensável, revelando-se um ser asqueroso, amoral e irracional, nitidamente toldado pelo ódio que nutre pela solução governativa vigente em Portugal. Uma decepção absoluta e irreversível. O zinho que se senta a seu lado, no Eixo do Mal, não passa de um pateta alegre que vem ostentando a sua exultante alegria, plasmada num irritante risinho, por tudo o que corre menos bem ao governo. Como terá esfregado as mãozinhas, de contente, pela tragédia de domingo passado! O Eixo do Mal morreu, apodrecido. A grande maioria dos comentadores televisivos está enfeudada ao tenebroso universo laranja, sendo muitas vezes notório que falam de cor sem terem o decoro mínimo de atestarem a veracidade das notícias que abordam. A desfaçatez como muitas vezes opinam sobre assuntos de que pouco ou nada sabem, como se fossem deuses omniscientes, é ridícula e só podem ter eco em estratos sociais pouco esclarecidos. Pergunto-me às vezes, perante a ferocidade da contestação à acção governativa e a “sapiente” exuberância das alternativas propostas, porque não se candidatam os senhores jornalistas à governação do país? O que me parece é que uma boa parte dos media está orquestrada no sentido de fazer muito cara a vida ao governo. Os objectivos são claros.

  8. Estes comentadores avençados estão a destruir a credibilidade do jornalismo e a intoxicar a opinião pública.
    Discordo nesta parte do texto. Já destruíram a credibilidade do jornalismo, por isso há muito que deixei de ler jornais e ver programas de TV com comentadores e políticos de meia tigela (incluindo o Governo Sombra)

  9. SEMPRE FOI ASSIM

    Uma intensa luta de classes vive-se hoje no país.

    Os ricos e poderosos não aceitam, nunca aceitaram, uma governação que não seja do seu agrado, que não os favoreça nos seus desejos e muito menos uma governação apoiada por comunistas e restantes partidos da esquerda.
    Sempre foi assim.

    Através das múltiplas ignições de fogos florestais no último domingo, provocadas por orquestrados incendiários, não há uma outra qualquer justificação uma vez que o maior número de ignições aconteceu de noite, e apoiadas por uma comunicação social agora descaradamente ao seu serviço, as forças de direita aproveitaram a desgraça de centenas de famílias, vítimas das trágicas consequências dos incêndios, instrumentalizando politicamente e a seu favor tão grande tragédia.
    Sempre foi assim.

    Agora, o que lhes deverá proporcionar uma imensa satisfação, um tremendo gozo, é ver a populaça manipulada pela comunicação social criticar um governo que está do seu lado e os favorece.
    Sempre foi assim.

  10. “… catatua, (…) Histriónica… , gentinha… ”
    Entre outros apodos… Se isto não é populismo vou até ali e já venho.

  11. Boa noite. Concordo com o seu artigo. De todos, apenas vi com atenção o comentário do João Duque e foi triste. Triste porque para o final lembrou-se de afirmar que existiam pessoas a passar fome e a dormir ao relento. Cá em casa também ficamos: Como? Vejamos: não existem relatos de populações a dormir ao relento nem a passar fome e nisto o poder local actua e bem. Será só ignorância?

  12. «(…) A desinformação espalhada pelos comentadores é uma mancha que alastra pelas rádios, pelas televisões e (pelos) jornais». Esta frase sintetiza magistralmente a pobreza franciscana, para não dizer sectarismo, dos propagandistas populistas, que pululam em todos(?) os nossos ‘media’, e bem pagos, ao que julgo saber… Não passam, a maior parte das vezes, de fazedores de barulho, de espalhadores de notícias inquinadas, de meros meios de transmissão, parciais e acríticos, das opiniões ou do(s) partido(s) que defendem ou de quem lhes paga. A direita investiu aqui forte feio. Assim se controla a opinião pública.

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