O POPULISMO SEGUNDO MARCELO REBELO DE SOUSA

(In Blog O Jumento, 20/10/2017)

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De direita ou de esquerda o populismo é a forma fácil de conquistar a simpatia do povo, e normalmente associamos o populismo à extrema-direita assumida e aos seus tiques xenófobos ou racistas. O Ventura achou que ganhava mais votos atacando os ciganos, a extrema-direita alemã ganhou votos criticando o apoio aos refugiados, o Brexit venceu com os ataques aos emigrantes.

Mas há muito mais populismo para além do da extrema-direita; os estratagemas ideológicos da extrema-direita não passam de discursos fáceis para conquistar apoios. Neste sentido há muitas formas de conquistar os eleitores, apelam aos sentimentos de ódio, outros aos bons sentimentos, à comiseração, ao dó, à pena ou, como está muito em voga, aos afetos.

Critica-se, com toda a razão, a forma como Passos Coelho tentou aproveitar-se dos incêndios, mas se fizermos um balanço quem mais ganhou em termos políticos com as tragédias deste verão foi Marcelo Rebelo de Sousa. Marcelo é um político como todos os outros, como político tem os mesmos objetivos que todos os outros. Só que é o político português com mais experiência na utilização da comunicação. É também o político português que sempre usou a manipulação como instrumento privilegiado.

Porque havemos de considerar que Passos foi um oportunista e Marcelo é um idoso cheio de amor para dar aos outros? Porque consideramos que um se mexe por egoísmo e o outro move-se apenas por amor? Porque consideramos que um ambiciona o poder e o outro é um frade da Cartuxa em regime de liberdade?

Veja-se o que sucedeu no dia de ontem, perante a necessidade de adotar medidas urgentes o governo desdobrou-se em reuniões, alguns dos seus ministros terão trabalhado horas a fio, António Costa teve mesmo de se deslocar a Bruxelas para participar num Conselho Europeu. O que fez Marcelo? Foi visitar as zonas devastadas pelo fogo e sugeriu que os deputados deviam estar ali. Alguns jornalistas, num estranho e coincidente coro, sugeriam que Marcelo estava junto do povo, enquanto Costa se escondia no gabinete.

Passar a imagem do presidente que não tem medo do povo por oposição ao primeiro-ministro que por ter sentimentos de culpa tem medo do povo, aproveitando-se da ausência forçada dos que tem de fazer o seu trabalho não é uma forma de populismo, não é um oportunismo bem mais atroz do que as posições desastradas de Passos Coelho? O que é certo é que Marcelo cresce nos likes, Passos está arrumado e Costa teve de enfrentar as tragédias, enquanto Marcelo aproveitou as circunstâncias para consolidar a sua popularidade.

Se Marcelo gosta tanto de estabelecer prioridades, como o fez em relação aos sem-abrigo, ao pagamento da dívida e agora à reconstrução nas zonas devastadas pelos incêndios, se a segurança é um princípio da Constituição que ele cumpre e faz cumprir, por que motivo nestes quase dois anos, enquanto nada de grave sucedeu, ignorou tão grande perigo à vista de todos e nunca definiu uma prioridade para as florestas? Em tantos anos de comentador televisivo nunca reparou nos incêndios, andava assim tão distraído a dar mergulhos?

É a diferença entre o populista e aquele que não o é, uns definem as prioridades ao longo de toda a vida, outros passam uma vida sem um dia de voluntariado e quando chegam a presidentes dedicam-se a dar jantares aos sem-abrigo. Uns definem prioridades prevendo os problemas, outros estabelecem as prioridades a pensar na sua imagem já depois dos problemas serem óbvios. Uns resolvem problemas, outros capitalizam com os problemas.

Esta estratégia dos afetos por parte de Marcelo não será mais uma forma fina de populismo, que visa os mesmos objetivos de todas as formas de populismo, a simpatia e o voto fácil? Os populistas não apresentam soluções, Marcelo não só não as apresenta como as exige aos que estão empenhados em encontrá-las, não faz e aproveita-se do trabalho alheio, passando a mensagem de que tudo o que se faz e alcança se deve a ele e aos seus afetos.


Fonte aqui

6 pensamentos sobre “O POPULISMO SEGUNDO MARCELO REBELO DE SOUSA

  1. “o Brexit venceu com os ataques aos emigrantes.”, e eu que achava que tinha ganho o Brexit devido à influência russa!

    O que fez Marcelo? Foi visitar as zonas devastadas pelo fogo e sugeriu que os deputados deviam estar ali.“!
    Tem de se criar uma equipa de piquete constituída por membros do governo, deputados, merditícos e restante membros da escumalha salafrária, para que quando ocorram eventos idênticos a estes irem para os locais não apenas para contemplar a terra queimada mas para fazerem trabalhos de construção civil.

    Já que pelos vistos não servem para executar a função merditíca, servirão (se calhar também não!) para ajudar a construir algo!
    E como é evidente, o responsável máximo e CHEFE da equipa dos TrolhasTuga será o Prof. Martelo!
    Agora sim, fará jus à alcunha…

  2. Não concordo e não vou alongar-me em explicações. É bom ter um presidente que, sem poder executivo mas como supremo magistrado, faça o que foi feito e, bem feito, pelo povo, quer na área dos afectos onde atenua todos os sentimentos negativos (depressivos e de revolta) quer no politico sacudindo o poder executivo. Poderá discutir-se se sacudiu demais ou de menos… Apenas isso.

  3. Afinal o Costa é que tem razão, “Habituem-se que vão voltar a morrer queimados”…
    Afinal o Sec de Estado é que tem razão, “As populações têm de ser mais resilientes”…

  4. Bom jornalismo este que aqui se faz. Pena é que não tenha a cobertura dos “vendidos ” meios de comunicação. Bem hajam.

  5. Marcelo “Narciso” Rebelo de Sousa é o centro do Mundo desde que se descobriu como gente. E não é populismo aquilo que, todos os dias, nos impinge com os “afectos”, não senhor: ele vê-se a cada momento ao espelho côncavo que o envolve e sente para consigo que é o melhor. É “o professor” desde que se conhece, medindo os outros e o que eles fazem pela sua bitola de tamanqueiro de tacha arreganhada que suspende cada parágrafo do seu discurso à espera do aplauso ou, pelo menos, da anuência do jornalista que lhe serve de amplificador. Não é populismo, não senhor: é um cinismo a qualquer prova que lhe vai assegurando a popularidade sem a qual morreria o narcisismo que o faz brilhar.

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