A MORTE GLOBAL

(Clara Ferreira Alves, in Expresso, 16/09/2017)

 

cfa

Clara Ferreira Alves

(Clara Ferreira Alves. Depois de ter escrito este texto não percebo como é que, nas posições políticas que manifesta publicamente, pode empertigar-se tanto para defender pessoas e forças políticas que são pedra angular do sistema económico que se farta de criticar aqui. É cegueira? É um exercício de niilismo? Ou será um desvio esquizo-literário que a faz considerar que o cenário que descreve é apenas um capítulo de um qualquer romance que se lê para afastar insónias? Não, para mim, é nada mais do que uma manifestação daquilo que menos nobre tem o capitalismo que no texto é criticado: tudo se compra e tudo se vende, a imagem e até a alma. E nesse exercício, a dona Clara é, reconhecidamente, inexcedível. 

Estátua de Sal, 16/09/2017)


Na semana em que assistimos à destruição das Caraíbas e a mais um furacão, a Apple lançou um novo telemóvel. O lixo tecnológico irá para cemitérios em África

Acabámos de assistir à destruição das Caraíbas. Não da Florida, que concentrou as atenções, mas das Caraíbas, e nestas incluo Cuba, que passou despercebida, e as Keys americanas, habitadas por gente que deseja escapar da América e do modo de vida americano. Um modo de vida insustentável e sustentado pelo turismo terminou com o furacão. Milhões de pessoas ficaram sem casa, sem emprego, sem vida. Apesar da ajuda humanitária e financeira, e das boas intenções da reconstrução, as Caraíbas vão demorar anos a serem reconstruídas. E até lá poderão ser destruídas por outro furacão.

É difícil não olhar para o espetáculo sem concluir que o sistema capitalista atingiu aqui o ponto primeiro de implosão. Ocupado em sobreviver e replicar, em “crescer”, como um sistema orgânico, o capitalismo triunfal esqueceu-se de um planeta tornado inabitável devido ao egoísmo, cupidez e ganância. Sem adversários, persegue o lucro como um vírus que destrói o hóspede.

Toda a gente fala em desenvolvimento sustentável e ninguém o pratica a sério, exceto em situações de nicho em que um grupo de milionários ou multimilionários cria a própria reserva natural. O comunismo soviético ou chinês, o histórico adversário, revelou-se ainda mais assassino destrutivo do ambiente do que o capitalismo. Não admira que os visionários de Silicon Valley e Seattle, que tanto têm contribuído para a destruição da Terra, estejam a pensar em Marte.

A revolução tecnológica, e as componentes de engenharia genética e inteligência artificial, que tornarão uma boa parte da humanidade excedentária, as alterações climáticas e a sobrepopulação das zonas de abandono, guerra e pobreza, tornarão a vida impossível. As gerações futuras não existirão. Os plásticos já ultrapassam os peixes nos oceanos. Em compensação, um pequeno grupo de privilegiados está a criar os mecanismos da sua sobrevivência e replicação. Pelo menos dois autores com popularidade têm alertado para tais riscos de morte, o israelita Yuval Hariri e o americano Jeffrey Sachs. E, de certo modo, Elon Musk. A imoralidade da proposição não deterá a marcha. Todos os dias, em todos os lugares, assistimos à predação do ambiente sem que os agentes políticos mexam uma palha. A direita está ocupada em defender o sistema sem reforma, o “crescimento”, e a esquerda está ocupada em policiar o pensamento e defender quotas de voto. Nenhum sistema político consegue inverter a estupidez global. Ou, na língua franca do mercantilismo político, make our planet great again, como Macron disse ao insustentável Trump.

A situação das Caraíbas já era uma decorrência disto. Quando visitei as Bahamas, pensei que estava no paraíso, mas os nativos não beneficiavam do paraíso nem faziam por isso. As ilhas eram o recreio de turistas e de multimilionários como o mágico David Copperfield, estrelas de cinema e da música ou capitalistas da Europa e de Wall Street. Entre os offshores e o turismo sem freio, a população das ilhas mais não era do que um corpo de servos. Um escultor nascido em Nassau, com quem falei, dizia que o paraíso estava condenado em meia dúzia de anos. Sheldon Adelson, o riquíssimo dono de hotéis e casinos, construíra Atlantis, um complexo hoteleiro género Disneylândia, um monstro na paisagem, onde empregava alguns locais. Atrás dele, investidores chineses e dinheiro do Golfo Pérsico preparavam-se para replicar a receita e construir mais e maior. Privatizando as praias azuis e límpidas, deixaram para a população as praias de areia suja e água turva, perturbadas pelas descargas dos esgotos ou o lixo. Nassau, a capital, era um ponto de desembarque dos cruzeiros, e a rua principal uma mistura de pubs e lojas duty-free. A fraca infraestrutura servia os turistas dos cruzeiros, aves de arribação. No resto da ilha, predominavam casas de estrangeiros abastados e um complexo de terceira idade, de superluxo, onde vivia Sean Connery. Os locais tinham por isto tudo uma mistura de indiferença e orgulho. Logo abaixo das Bahamas, as Turks e Caicos eram o domínio privado de meia dúzia de bilionários e amigos que tinham construído pistas de aviões para os jatos, centros de meditação, piscinas e ginásios, pequenos paraísos cheios de preocupações ecológicas restritas ao perímetro. O resto punha a farda e o avental.

Como bem notou Jeffrey Sachs, com exceção de Richard Branson nenhum destes proprietários apareceu a defender a necessidade de ajudar financeiramente a região e a população. Muito menos Wall Street. No ponto em que estamos, o sistema capitalista apoderou-se de tudo e a população mundial esclarecida permanece gelada. Alguém se há de ocupar disso. Na semana em que assistimos à destruição das Caraíbas e a mais um furacão, a Apple lançou um novo telemóvel. Fora com o velho. O lixo tecnológico irá para cemitérios em África. O sistema é tão inteligente que inventou uma maneira de rentabilizar a catástrofe através do espetáculo em direto proporcionado pelos media e os telemóveis. As pessoas filmam a própria desgraça e oferecem-na grátis. As televisões inventam o interminável direto dentro da tempestade para cativar a fugaz audiência. Sic transit gloria mundi.

20 pensamentos sobre “A MORTE GLOBAL

  1. Trata-se, claro, de plena lucidez. Não me parece que Ferreira Alves precise de se vender a quem quer que seja. Contrariamente a outros, ela já percebeu que as respostas que existem ao capitalismo são todas piores do que o próprio capitalismo. Políticas de desenvolvimento feitas à custa do défice? Não brinquem connosco, estamos a colocar-nos nas mãos daqueles que dizemos abominar. Regresso a uma sociedade de baixo consumo e fraco desenvolvimento? Toda a gente dirá que sim em teoria, até terem que fazer um exame médico recorrendo à mais recente tecnologia. Claro, podemos substituir a democracia liberal por uma ‘democracia maioritária’, mas quem quer ir viver para a Venezuela com os seus 80% de pobres, a sua violência e a sua democracia suspensa? Poderemos bem estar a assistir a um requiem pela civilização, que os ‘socialistas’ do costume, depois da falência do socialismo real, continuarão as suas jeremiadas, seguros da superioridade moral do seu sistema que nunca funcionou em lado nenhum. Não será seguramente com tal gente que salvaremos o planeta…

    • Como você é um comentador habitual deste blog, defendedndo sempre, apesar de com muito “verniz”, um sistema que não tem ponta por onde se lhe pegue, e quando sente o terreno a fugir debaixo dos pés, perante as evidências, trata sempre de se escapar com o requentado “ainda não surgiu outro melhor”, eu prometo que um destes dias vou escrever um texto aqui a rebater as suas costumeiras falácias e redondilhas. Só lhe deixo esta pista. Mesmo admitindo que possa ter razão no seu chavão “ainda não surgiu outro melhor”, tal não leva a concluir – como você capciosamente faz -, que não se procurem alternativas e não se tente melhorar o que existe. O seu pensamento, desculpe que lhe diga, é primário: se o seu pensamento tivesse vingado ainda hoje estaríamos na Idade da Pedra, e o capitalismo que você venera nunca teria visto a luz do dia. Fique bem.

      • Sempre insultuoso, preconceituoso, presunçoso e … sem argumentos válidos. Dos tais que “um dia destes” se dará ao trabalho de postar como se de verdade absoluta se tratasse, remetendo todas as opiniões diversas para o lixo dos “primatas e trogloditas”. Que raio de visão deturpada do mundo em que julga viver e, sobretudo, que insulto à Liberdade

        • Atentado à liberdade?! Se tal existisse o seu comentário não seria publicado. Devia ser esse o seu sonho… Quando é que ganha juízo? Vá ao Torrinha ou ao Priberam ver o significado de “insultuoso”.

      • Significa, exactamente, aquilo que pretendi dizer.
        Já agora, eu não apelidei a sua postura de “atentado à liberdade” ..leia lá novamente e, de seguida, se lhe aprouver, faça o favor de apagar o meu comentário.
        Durante algum tempo, ainda lhe dei o benefício da dúvida.
        Acabei de, com esforço, ler o “Eixo anti-Passos” e … honestamente, acho que há aí algo mais profundo do que o mero imbecilismo. É algo .. doentio, pestilento .. difícil descrever.

  2. Um artigo com uma argúcia que deve incomodar os abutres do monopólio económico.uma realidade global
    Nada acontece por acaso ….a Terra MÃE veio despistar a caixa de Pandora…
    Nada vai ser como era dantes…..

  3. Boa tarde,
    Li o seu artigo com interesse. É um cenário bastante real e que a mim, tal como a si, me preocupa e atemoriza ..
    Não percebi bem a referência à Clara Ferreira Alves, que é pessoa por quem não nutro especial simpatia, mas que, seguramente, não é culpada do capitalismo, nem dos problemas ambientais, pelo menos, não mais do que o comum dos mortais.
    Percebo as suas criticas, a uns e a outros, e até concordo com elas. Mas, na verdade, o seu artigo não apresenta soluções, nem para os problemas ambientais, nem para o desemprego, nem sequer para um esboço de um possível sistema económico e político diferente daqueles que conhecemos e capaz de responder de forma eficaz aos problemas com que nos defrontamos. E não apresenta, acima de tudo, porque eles ainda não existem.
    Criticar é, seguramente a atividade mais corrente e mais fácil de executar.
    Suponho que a solução destes problemas não será encontrada ali à esquina, entre gritos de protesto, críticas ferinas, nem quezílias entre comentadores, políticos, magnatas ou cidadãos comuns..
    Acredito que existam soluções. Provavelmente não serão fáceis, nem conseguirão resolver os problemas de imediato, nem mesmo em tempo útil, por forma a impedir as perdas de vidas humanas, da natureza e as materiais.
    Mas o homem é, por excelência, um ser criativo e reflexivo e penso que, tal como a Estátua de Sal, há centenas ou milhares de pessoas preocupadas com estas situações, alguma delas melhor colocadas ou com mais conhecimentos, os quais lhes permitirão pôr em prática ou projetar hipóteses de soluções, ou outras que, não sendo soluções, nos permitam ganhar mais algum tempo.
    Cada um de nós, no pequeno bocado de mundo a que tem acesso, pode alterar determinados comportamentos de desperdício, de diminuir a produção de lixo mais poluente e, também, ao invés de apenas criticar, tentar imaginar soluções e comportamentos que possam contribuir para algum desagravamento destes problemas.
    Ao olhar para o meu cesto da reciclagem, ocorre-me, de imediato, algo que pode ser alterado. Não sei bem de que forma, mas tenho a certeza de que não será muito difícil encontrar uma alternativa. Falo das toneladas de plástico e de metal que vamos diariamente buscar aos supermercados, já nem me referindo às garrafas, mas aos diversos tipos de embalagens em que é acondicionada a carne, o peixe, os vegetais, frescos ou congelados.Tenho a certeza de que é possível encontrar um produto biodegradável que os substitua.
    Claro que a investigação e a produção de tal produto será, pelo menos inicialmente, mais dispendioso do que a produção de embalagens plásticas e metálicas. E claro que as fábricas que atualmente as produzem teriam que fechar ou reconverter-se. Mas é uma ideia e penso que boa.
    Se cada um de nós tiver uma boa ideia, para cada um dos problemas que enfrentamos, talvez seja possível chegar mais facilmente às soluções..
    Seguramente, a crítica, pela crítica, nunca nos levará a encontrá-las.

    • Cara leitora. O artigo não é meu, e no alto da página diz que foi escrito pela Clara Ferreira Alves. Eu só fiz um comentário ao texto dela que também assinei. Logo, as suas criticas (que subscrevo em parte) são dirigidas à CFA e não a mim. Estátua de Sal.

      • Tem razão. Depois de ter publicado o comentário, voltei a ler e percebi que o texto era CFA. O que significa que, independentemente de opiniões ou cores partidárias, concordo com o seu comentário.
        As minhas desculpas pelo mal entendido

  4. «Sonho de uma Noite de Verão»…
    Enquanto a minha querida Mulher se prepara para ouvir – e eu por tabela – o inestimável programa «Eixo do Mal» e portanto a sra. Clara Ferreira Alves, deu-me para perorar um pouco sobre a «morte global».
    Como diria o filosofo da dialéctica, «para que nasça um outro mundo é preciso que morra este».
    Mas acalmem-se os burgueses mais preocupados com Liberdade (do comércio), a Igualdae (nos contratos) e a Fraternidade (dos comerciantes). A «morte global» deste mundo não tem necessariamente que significar a morte física de milhões de «comerciantes». Para quem tenha algum distanciamento e olhe para estas coisas com «olhos de ver» (e tenha também alguma compreensão das dinâmicas em processo), talvez não seja muito útil confundir os episódios mediáticos que a televisão nos vai metendo portas adentro, com aquilo que de facto está em desenvolvimento. Como dizia aqui há uns tempos um cientista francês (engenheiro nuclear), estamos (ou melhor, caminhamos) – todos, a Humanidade – perante dois tipos de caos: o caos ambiental ou o caos social (ou os dois, diria eu…). Com aquecimento global (ou arrefecimento global!… também se anuncia…) se a Humanidade quiser mesmo sobreviver a algumas das tendências que se anunciam, terá que recorrer a fontes de energia limpa e abundante.
    Como diria um filósofo da História «mostrem-me o moinho de água e mostro-vos o feudalismo»…
    Seja como for, até já o sr. Bill Gates se compenetrou de que «sem energia limpa e abundante não há desenvolvimento social e económico para os biliões de excluídos do sistema global.
    O grande problema dos economistas convencionais até nem é a sua (deles) teoria estar «errada» (como dizem alguns críticos mais exaltados). O grande problema deles é o não querem olhar para as consequências lógicas implícitas nos seus «teoremas»… Mas, se lhes falarmos em análise marxista do capital, «aqui d’el rey» que andam por aí uns Estalines á solta…
    Pois o meu sonho desta noite Verão (frio…) é o de que a Realidade acaba por se impôr, e mesmo que a conbtragosto (mas com a pressão firme – ou então, se preferirem, muita «friendly persuasion» – de Partidos progressistas consequentes) os «gestores e donos disto tudo» talvez acabem por tomar medidas que conduzam – talvez mesmo sem se darem conta disso – ao Socialismo.
    Dois apontamentos finais (neste relambório enquanto oiço ali a inefável Clara…)
    1. O sr. Raymon Aron é insuspeito de «Marxismo», mas tem um livro excepcional (que corresponde às suas lições no «Collège de France» – escola das élites francesas), «Le Marxisme de Marx»… Recomendo a sua leitura.
    2. O partido de Lénine começou por se chamar, com toda a naturalidade, «Partido Social-Democrata dos Trabalhadores Russos».
    E agora está falar o senhor do «Inimigo Público. Vou-me rir um bocado e fico por aqui.

  5. Realmente,ele há cada coisa!….Aqui parece quase, por estas bandas,que estamos numa encruzilhada,com imensos caminhos a seguir,mas não há placas nem ” sinaleiros” que nos facilitem a escolha do caminho….Ah,também parece verdade, que se tomarmos o caminho errado,pode acontecer que não possamos retroceder…Energia precisa-se !…Há postos de abastecimento em todo o lado para “espremerem” o viajante..Desde a invenção do motor de explosão,as “sete irmãs”,Bp,Shell,Exxon….encarregam-se de receber as nossas contribuições forçadas nos postos de abastecimento,e nós todos como carneirinhos que somos,já que estamos inseridos numa sociedade da qual dependemos,vamos contribuindo para o lucro astronómico dos países produtores de petróleo,e por acréscimo,para as guerras,as sociedades de capital,o consumismo,a poluição descontrolada no mar e em terra, e o famigerado aquecimento global.A oeste nada de novo….Calma!….Lá vem a ” nau catrineta” que tem muito que contar….A proibição generalizada da produção de motores diesel no curtíssimo prazo,Tóquio onde o mais comum dos cidadãos sai á rua com máscaras,não é um cenário novo,a subsequente anulação dos restantes motores de explosão no curto prazo,pressupõe um adiamento razoável do fim inevitável..Larsen(s),degelo,inundações,ciclones, fogos incontroláveis,seca extrema,culturas perdidas,recursos hídricos escassos,fome,miséria e morte…Novidades?..
    Energia,a energia move o mundo..Os produtores de energia alternativa e tradicional,sugam-nos diáriamente uma fatia considerável do nosso trabalho,nas contas de electricidade gás etc….O conceito de utilizador pagador na auto estrada,aplica-se aqui como uma luva…Quem quer mobilidade e autonomia,produz e armazena a energia e utiliza-a ou faz dela o que bem entender…..Renováveis,power banks,mobilidade elécrica,produção localizada de energia e introdução da mêsma na rede.quintas solares…Esse é o conceito que está no cerne da viragem..O nosso planeta vai tremer com a mudança e os agiotas da energia e capitais também..A “nau catrineta” está a avistar terra firme..Já vai longa a divagação,até mais ver…

    • Também há a viragem tecnológica para os reactores nucleares a sal derretido…
      Mas, infelizmente há por aí – em todo o mundo – uns «ambientalistas» mais exaltados para quem tudo o que cheire a «nuclear» é mau. Por definição. No caso do tório até já funcionou um reactor (na realidade até foram dois…) em regime experimental, durante uns anos. Foi durante os anos Sessenta. Só que, como aquilo não dava para fazer bombas atómicas, o sr. Nixon mandou fechar.
      Entretanto o que vem noticiado é que há muitas «start-ups» (e alguns empresários como o sr. Bill Gates) a investir (e investigar…) os novos tipos de reactor. Na China são muitas centenas, talvez mesmo mais de mil, os físicos e engenheiros nucleares (muitos doutorados nos EUA) que, sob a orientação da Academia das Ciência Chinesa, têm andado a investigar as múltiplas facetas para a construção em série (!…) de centrais nucleares de 4ª Geração, com foco no «combustível» tório diluido em sal derretido. Os dirigentes chineses anunciam para daqui a uns vinte anos pôr à venda esse tipo de reactores. No Canadá, até para «darem a volta» às restrições regulamentares dos EUA, anunciam mais ou menos a mesma coisa, para daqui a uns 10 anos.
      É neste contexto que, às vezes – depende dos dias – me dá para o optimismo moderado no que diz respeito a energia (sem a qual não há civilização, digna desse nome…)
      Claro que vai continuar a haver quem não queira olhar para a evolução histórica (de muito longo prazo) relativamente às fontes de energia… Desde a força muscular de escravos e bestas de carga, até à energia concentrada no núcleo do átomo. Em 10.000 anos até que não está nada mal.

  6. Depois da divagação anterior que a meu ver,já ia longa,retomo se me permitem:
    As minhas divagações anteriores,assentam em factos.Senão vejamos:A Toyota tem viaturas híbrida há mais de dez anos…A Nissan criou o Leaf e,está sair ou já saiu a segunda versão melhorada com uma autonomia de cerca de 400km.A Opel anuncia que já tem um modelo com ainda mais autonomia.Todos as marcas alemãs correntes possuem já versões eléctricas…Na Alemanha há também já veículos novos ,movidos a hidrogénio e começa a haver postos de abastecimento para o referido combustível,numa a meu ver vã tentativa de contrariar a versão únicamente eléctrica…Há já legislação para a proibição da circulação de veículos a gasóleo,na França já na próxima década.A Tesla de E.Musk,está a tentar entregar todos os veículos unicamente movidos a energia eléctrica,com que se comprometeu nas pré encomendas,(três versões)…Já existem cerca de 1000 veículos exclusivamente eléctricos,não híbridos portanto,a funcionar regularmente em Portugal.A alemâ Benz,anunciou já para 2020,que não produzirá mais motores de explosão.A Volvo com nova designação Polestar,produzirá a partir de 2018,apenas motores eléctricos….Parece que estamos no ponto de viragem e,suponho que o nuclear estará eventualmente relegado para um plano inferior devido ao perigo eminente relativo a acidentes como Tchernobyl e Fukushima…Almaraz está perto de nós…As produções de energia de origem hídrica,eólica,cogeração e fotovoltaica,serão capazes de,numa fase transitória dar conta das necessidades de consumo sem grandes sobressaltos.Há mega parques de produção de energia eléctrica fotovoltaica a serem construídos em todo o mundo e,em Portugal também,,,,A “nau catrineta” anda a ver coisas..Ok,sou microprodutor de energia,produzo o suficiente para mim e para mais dois agregados familiares como o meu,toda a produção é injectada na rede e,controlada num contador de saída,num processo inverso e comum a todos os consumidores,tenho um contador igual a todos os outros para contar o que consumo..Conclusão:mal eu tenha “tempo”,compro uma viatura apenas eléctrica,carrego-a em casa e,vou trabalhar….Nuclear para quê,pergunto eu…

    • Nuclear, para quê?… Boa pergunta!…
      No mundo globalizado em que estamos haverá que considerar as grandes tendências de fundo e de âmbito planetário. O consumo de electricidade em crescimento exponencial já levou alguns especialistas e prever que a continuar como está, só o crescimento das centrais informáticas da «Web», dentro de alguns anos a electricidade produzida actualmente não chega só para alimentar essas ditas centrais (os milhares de «Servers»…). Depois há todos estes anúncios de «carros eléctricos»… A electricidade há-de vir de algum lado.
      Entretanto, se quisermos que deixem de (tentar) vir para a Europa os milhões de esfomeados do Sul, seria bom proporcionar aos habitantes da África Sub Sahariana um mínimo de conforto e vida digna. Sem electricidade, não dá. E para que ali se alcance algo de equivalente ao consumo de agora (!…) de Portugal, será necessário multiplicar por duzentos (mais coisa, menos coisa…) a produção eléctrica naquela extensa região.
      As eólicas funcionam quando há vento. E nem sempre há vento e sobretudo nem sempre em todas as regiões.
      A produção dos materiais para as eólicas é extremamente poluente (mas é feita na China e etc., e portanto o problema é deles). As fotovoltaicas funcionam quando há Sol e a produção dos materiais também é extremamente poluente… Idem, idem China e etc… E depois haverá que limpar recorrentemente todos os painéis ou a sua eficácia cai para menos de 25%… As chamadas energias renováveis (com excepção das hídricas) são sobretudo boas para a criação de emprego pois que o seu grau de «eficiencia térmica» (…) é baixissimo.
      (É preciso gastar energia para produzir energia).
      A questão de Almaraz (e de todas as outras centrais nucleares do planeta) pode resumir-se a isto: combustível sólido que requer funcionamento a cerca de 160 pressões atmosféricas.
      Daí resultam os perigos de «meltdown» e da necessidade de contenção de «explosão do vapor de água» (…). Haverá também o facto de funcionarem em ciclo de retroacção positiva (mais calor, mais reacções atómicas, mais calor, mais reacções atómicas…). Os reactores nucleares a sal derretido funcionam exactamente ao contrário. Exactamente ao contrário. Exactamente ao contrário…
      Combustível sob a forma liquida à pressão atmosférica normal e em ciclo de retroação negativa (mais calor, menos reacções atómicas, regresso ao equilibrio…). De uma assentada deixa de haver perigo de explosão e em caso de avaria o sal derretido solidifica naturalmente (literalmente como o sal de cozinha)… E depois, e ainda por cima, as centrais a sal derretido, não sendo em ciclo contínuo (podem ser desligadas com relativa facilidade) podem funcionar em «tandem» (ou «de mãos dadas») com as hidricas (em períodos de secas…), as eólicas e as fotovoltaicas (à noite…)… E quanto aos alegados custos ambientais da sua mineração – no caso do tório – já existe tório «quase refinado» (por causa da extracção das chamadas «terras raras»), em quantidade suficiente para fornecer ernegia eléctrica a todo o planeta durante alguns milhares de anos…
      Recomendo este video (em francês com boas legendas em português).

      • Mais…C,est résolu !!!,mais… c,est tant mieux..!!!.Adoro quando um plano bate certo…Se esta nova versão ,estiver optimizada,irá certamente substituir com vantagens quase incomensuráveis,a velha tecnologia do nuclear tradicional….Se daí não vier mal ao mundo,porque será que todas as potências de referência,estão a investir no eólico e fotovoltaico que,embora intermitentes são perfeitamente fiáveis,evoluem em potência disponível e recrudescem em termos de custos?..Algumas correcções se me permite…Os colectores solares fotovoltaicos, sáo vendidos com garantia de produção de cerca de trinta anos,Podem perder durante os primeiros dez até 20% da eficácia inicial.Desde 2012,dei-me ao trabalho de limpar os meus apenas duas vezes e á pressa,verificando depois em média um aumento de produção que deverá rondar cerca de 5% e não mais…Asseguro ainda que graças a tecnologia de baixo consumo,gasto cerca de 200 kw em média por mês e injecto na rede,cerca de 600 Kw..Isto são factos que posso fácilmente documentar…Em 2010-2011,haveria já mais de trinta mil casos em Portugal,como o meu (micro geração) ….A montante,estão ainda as mini gerações com potèncias 10 vezes superioras e restam ainda as mais raras que ultrapassavam os 125 kw. Nada disto se compara á central da Amareleja…,muito embora já esteja a ser iniciada outra com potencial dez vezes superior.Dito isto,e talvez porque fui longo e não suficientemente claro,volto a frisar a possibilidade de qualquer cidadão produzir muito mais de 75% da energia que consome e dessa possibilidade os mais de 30,000 micro produtores,nos quais me incluo, são um exemplo bem real..”.Renováveis na hora e,O sol é para todos”—A Certiel possui todos os dados referentes ao que citei..O meu conceito baseia.se e não é novo,nos “Power banks”,já desenvolvidos pela Mercedes Benz e não só…Isto é..Uma casa produz e armazena energia “suficiente” para o consumo eléctrico diário e ainda,para alimentar o veículo eléctrico nas deslocações habituais…Se em Portugal,dezenas de milhares de produtores o fazem,porque não mais ainda,sem esquecer ,fábricas,cantinas ,Ipss(s). O armazenamento da energia,é ainda um problema mas,a competição é enorme…Até mais ver…

  7. Pois, as renováveis… Não tenho nada contra… Acho estranho é que haja quem seja contra a energia nuclear a qual é só (pelo menos) um milhão de vezes mais densa/mais compacta do que qualquer outra fonte de energia…
    Isso, de ser contra o nuclear «só porque o que temos já chega para o que nós precisamos» é no mínimo insólito?!… Mas será só isso?… Haverá por acaso «interesses clubisticos do estilo «O meu “clube” é melhor do que o teu»?… Quero ver (enfim já cá não devo estar…) quando o consumo dos «Servers» todos e dos milhões de automóveis eléctricos e camiões TIR, «disparar»… Para além da necessidade que vai haver de dessalinizar água do mar em quantidades crescentes… E de repôr níveis freáticos em queda continuada (o Mar Morto está casa vez mais morto… o Maral Aral já era… o Lago Tchad para lá caminha…). Enfim nada que não se possa resolver com energia eléctrica abundante – nos locais apropriados – para dessalinizar e bombear água extraída dos oceanods…
    Entretanto achei graça à «morte anunciada» dos motores de combustão interna («The Economist»). Fez-me lembrar algumas outras previsões da minha adolescência.
    Mas pronto, parece que não deixa de haver uns milhares de cientistas malucos que insistem no nuclear.

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