Ena! Tantos defensores do Estado que estavam escondidos!

(Nicolau Santos, In Expresso Diário, 07/07/2017)

nicolau

De repente instalou-se a preocupação em muitíssimas almas, que antes se encarniçavam diariamente contra o Estado: não se pode cortar na despesa pública, sobretudo nas verbas para as forças militares e para a segurança em geral! A culpa é do Governo que preferiu aumentar salários e pensões. Se mantivesse a rapaziada a pão e laranja, tudo correria sobre esferas e não teria acontecido nem a tragédia de Pedrógão Grande nem o roubo de material bélico de Tancos, tal a verba que estaria disponível para bombeiros e militares!

Digamos que é preciso ter topete, falta de vergonha, descaramento. Depois de cinco anos (2011-15) em que o investimento público foi reduzido em 40%, em que houve cortes salariais nos funcionários públicos e nos pensionistas, em que foram fechados inúmeros serviços do Estado por todo o país (tribunais, lojas do cidadão, centros de saúde, etc, etc), em que se procedeu à diminuição brutal dos apoios públicos às famílias, em que houve uma ofensiva sem precedentes contra o Estado social, em que existiu sistematicamente um discurso culpabilizador de tudo o que fosse público como razão última para a crise, eis que todos os áugures ou arúspices, pitonisas e cassandras do país, que defenderam, apoiaram, estimularam, aplaudiram e acicataram estas opções e este discurso, dão uma volta de 180 graus e surgem a defender valentemente o Estado e as funções que desempenha, sobretudo de soberania e defesa.

Insisto: é preciso topete, falta de vergonha, descaramento. Se há coisa em que existe um alargado consenso político no país é sobre a redução do peso das Forças Armadas nos orçamentos do Estado, por estarmos em tempos de paz e por parte das nossas missões de soberania e defesa estarem agora delegadas em organismos supranacionais. A redução de verbas para as Forças Armadas não é de hoje nem de ontem: é de pelo menos o início deste século e atravessa vários Governos, tirando alguns epifenómenos como a compra de dois submarinos (que nos deram muito jeito…), alguns F-16 (que também foram um sucesso…) e mais uns Pandur (que correu igualmente muito bem…). Ah, pelo meio houve o fim do Serviço Militar Obrigatório em 2004, decretado pelo então ministro da Defesa, Paulo Portas, por imposição da Juventude Social-Democrata… queixando-se hoje os militares que estão com 30% de efeitvos abaixo do seu plano estratégico porque não há voluntários.

Ora perante tudo isto, utilizar as cativações como arma de arremesso político só pode ser feito por quem pensa que sofremos todos de amnésia compulsiva e generalizada.

A direita, melhor, esta direita encabeçada pela actual direcção do PSD, utilizou o Estado como saco de boxe durante cinco anos. Que agora venha clamar contra o enfraquecimento do Estado para atender a todas as suas responsabilidades só não mata de vergonha porque ninguém morre de vergonha.

Na verdade, o que a direita está a fazer é agarrar-se desesperadamente aos casos de Pedrógão Grande e de Tancos, porque estava sem discurso face aos resultados económicos que o país vem apresentando. E se no final do ano houver uma melhoria do rating, isso será um punhal cravado no coração dos que sempre acusaram os socialistas de despesistas, incapazes de qualquer rigor orçamental. Por isso, a direita invoca Pedrógão Grande e Tancos como quem chama por Santa Bárbara quando troveja. O problema é quando a trovoada passar.


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16 pensamentos sobre “Ena! Tantos defensores do Estado que estavam escondidos!

  1. Finalmente o rescaldo,o desabafo claro ,a descrição isenta de eventos incontestáveis que continuadamente tem sido manipuladas pela direita insatisfeita já que, com o bom desempenho do actual executivo,começa a faltar o pão para a boca para a vampiresca direita…Engraçado,parece que por estarmos a entrar no período de férias,os habituais comentadores se abstiveram….Não há nada para comentar ?…Então está tudo certo,estamos todos satisfeitos..Ainda bem !

      • Temos uma futurologista,ou será bruxa ? nestas lides…Diz que” o futuro…… arroz.”..Quais os números do euromilhões da próxima semana?….diga ,diga Dª Maria do Carmo Neves…mesmo que não saiba escrever diga,dava jeito a tanta gente…Primeiro ponto;aqui ninguém faltou ao respeito a ninguém…Você ou vossa mercê depreciou: “gentinha”,”idiota” e”apátrida”,”cambada” e “coveiros da nação”.Nem lhe fica bem nem lhe fica mal,cada um puxa pela educação que tem,….ou não !..Quando todas as instituições europeias e internacionais reconhecem o valor deste executivo,quando finalmente começamos a pagar dívida antecipadamente,a economia floresce apesar do anterior governo ter vendido ao desbarato tudo o que havia para vender,quando as intenções de voto na direita estão a cair a pique vem (v) vossa excelência defender quem ?…Mais depressa os burros compreendem que não vale a pena puxar em sentidos opostos do que uma pasmada(o) da direita muda de opinião…Benza-se ou case !….

  2. Esta parece a (des)conversa dos comunistas que comiam criancinhas ao pequeno almoço. Uma coisa é discutir o que deve estar na esfera do Estado, se mais ou menos. Outra diferente é defender que algumas coisas têm mesmo que ser do Estado e essas têm que ter o investimento adequado. A Defesa, a Segurança, a Justiça, a representação externa, os orgãos de soberania, a Regulação da Economia são algumas das áreas que nunca se questionaram. E esses têm que ser financiados. Não há nenhuma incoerência!
    Depois há outras áreas que há quem ache que podem não ser completamente tuteladas pelo Estado. É uma discussão diferente e, mesmo que se defenda que não estejam na esfera do Estado, não significa que não se seja “defensor do Estado”. O Nicolau Santos está a ser maniqueísta, como convém a quem quer impor uma das visões.

    • Quem não gosta,não come ou põe na borda do prato,simples assim….Em democracia, a vontade das minorias submete-se á vontade das maiorias e,os dissidentes devem conviver com essa problemática.Também podem ir para orgãos de gestão e tentar fazer prevalecer a própria ideologia…Da discussão nasce a luz..A direita precisa de luz no fim do túnel já que dá a impressão de estar a cair a pique.Este executivo está a ter um sucesso reconhecido nas áreas essenciais e,nem a meio da legislatura está…,Perfeito ? só Deus…”maniqueísta?…benze-te…

    • E a culpa é deste governo?, apenas com um pouco mais de um ano o que já fez é um milagre e não somos nós que o dizemos. Mesmo que no dia da tomada de posse do governo, este tivesse uma varinha mágica que disponibilizasse imediatamente fundos, teria algum efeito imediato no fogo de Pedrógão ou no roubo das armas de Tancos. Acaso estes malabaristas da linguagem que a utilizam consoante as conveniências sabem o que quer dizer a palavra TEMPO. Sim, tempo pois estas coisas não se fazem sem tempo e esse este governo ainda não o teve. Outros o tiveram e estiveram-se nas tintas para tudo isso que Nicolau Santos aqui afirma, Aliás toda a gente sabe disso, é um dado adquirido. Por isso não vejo onde há maniqueísmo por parte do autor do artigo.

  3. Sr Nicolau que topete o seu! Ninguém defende agora mais o Estado ineficiente onde, por exemplo, os tribunais que o actual governo repôs, que fazem 2 julgamentos por ano. Nem mais investimento na defesa. E “esta direita” não é encabeçada. Tem cabeça! Se a não tivesse e vivesse de enganar o eleitotado teria, também, o topete de falar em aumentos de salários e pensões onde eles não existem e quando existem são IRRELEVANTES! Estranho é que sendo o senhor um… jornalista (?) e perante a evidência do fracasso da utilização pela “direita” da desgraça de Pedrógão e da grave violação que Tancos consubstancia (conte à gente, foi mesmo roubo ou foi só encenação…), O senhor venha com todo esse afã travar não uma batalha mas, apenas, fazer o trabalho sujo dos que, peleja ganha, senhor já em repouso, vêem acabar com os moribundos e locupletar-se com o saque? Pobre cabeceira triste…

  4. Concordo a 1000% com a crónica de Nicolau Santos, In Expresso Diário, 07/07/2017, sobre as “desesperadas” tentativas da direita para conseguir assuntos mediáticos de discussão……será de lamentar se a maioria da percentagem do povo se vier a esquecer o que e como se viveu em Portugal, entre 2011 e 2015, assim como também, e muito importante, o que disseram os que são hoje lideres dos dois principais partidos de direita, felizmente, espero que por mais um longo tempo conveniente, na oposição. Aqui não se trata de “caçar com gato”, por não ter cão, trata-se antes de tudo de uma demasiada falta de respeito para com todo o povo que habita a nação, assim como também, todos os nacionais espalhados pelo mundo (como consequência dessas mesmas políticas entre 2011 e 2015), relembrando os comentários aos jornalistas sobre a massiva emigração, feitos pelo então primeiro Ministro Pedro Passos Coelho….realmente é pena a vergonha não existir nem ter, a existir, consequências fisicas em tais pessoas!!!

  5. Por mim, estou inteiramente ao lado do sr. Nicolau Santos nos termos e na forma que colocou na sua crónica. Apesar de ser daqueles que respeitam a opinião livremente expressa no livre exercício da cidadania, permito-me aconselhar, desculpem se não for ester termo o mais correto, a D. Maria do Carmo e da Domus para saírem da capa fanática / partidária e olhem para o país e para a obra deste executivo com olhos de ver e deixem-se de pieguices saudosistas que os não leva a lado nenhum.

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