Os Eucaliptos do Pinheiral…

(Joaquim Vassalo Abreu, 30/06/2017)

pinheiro

Que é feito do Pinheiral? Ardeu? Desapareceu? Nada disso: foi para França e já há muitos anos que não o vejo. Emigrou, eu fui para outras vidas, e não mais o vi. Mas lembro-me bem dele e de quando em pequenos, eu e outros mais, o acompanhávamos para apanhar leitugas para os coelhos e lenha e ramos secos para os fornos e lareiras…Lembras-te Joaquim Antero?

O Pinheiral era um mestre na arte de subir ou trepar árvores, principalmente as das espécies que o seu nome levavam. É que aquelas cascas ajudavam e muito e os resíduos resinosos faziam o resto, para além de se fixarem aos seus calejados pés que não conheciam sapato.

E o Pinheiral nunca caiu de um pinheiro abaixo! Mas uma vez vimo-lo cair de um eucalipto. Pensávamos que tinha morrido e até fugimos de susto. Mas deve ter caído com a sua melhor parte e tal não passou de uns simples “ais”…

Nunca mais o Pinheiral subiu um eucalipto e, apesar das fragâncias mentoladas que as suas folhas exalavam e que nos faziam encher ainda mais os pulmões, ficamos a detestar os eucaliptos. Eucaliptos não subo mais, dizia o Pinheiral…

Mas ainda bem que depois apareceram os mentolíptos em forma de rebuçado e isso ajudou-nos a esquecer os filhos da mãe dos eucaliptos.

Se ardiam? Não me lembro! Eu acho que isso dos incêndios, tirando aquele de Roma e que não foi por culpa dos pinheiros nem sequer dos eucaliptos, mas sim daquele maluco do Nero (e ainda há quem ponha este nome a cães…), é uma coisa pós-moderna!

Das “queimadas” lembro-me, mas isso eram fogos controlados, com que se limpavam campos e matas…juntavam-se os resíduos dos matos secos e coisas assim, fazia-se uma espécie de pilha e queimavam-se…mas sempre com o pessoal por perto.

Nunca do eucalipto tive saudades, portanto, mas tenho-as do pinheiro manso! Principalmente da sua sombra! Haverá no mundo sombra melhor que a dum pinheiro manso? Quantos eucaliptos seriam precisos para fazer uma sombra de um pinheiro manso? Falo cá do norte, porque do sul…nem as azinheiras, apesar de também fazerem sombra e também não saberem a idade…

Mas lá está, é manso, cresce lentamente, ocupa muito espaço, nunca mais morre…não dá lucro nem mais valia imediata, é o que é…

As beiras das estradas deviam estar todas repletas de pinheiros mansos e devíamos poder voltar aos piqueniques, como antigamente fazíamos nas matas do Ofir, da Apúlia, de Moledo ou mesmo nas do Anjo, aqui na Póvoa. Aquilo é que eram tardes…e aquilo é que eram sombras!

Foram proibidos! Todas as famílias tinham arsenais de mesas, cadeiras e fogões portáteis. Estendiam-se as mantas, erguiam-se as tendas e atavam-se as espreguiçadeiras. Levava-se de tudo, até assados e, lembro-me, até “pica no chão” o mulherame lá fazia…A canalha brincava naquele ar puro e ainda impregnado do iodo ali próximo e os adultos dormiam e ressonavam, de tão comidos e bebidos…Era o tempo em que todos nós, como diz uma sobrinha minha, eramos “pobretes, mas alegretes”!

Uma ASAE qualquer daqueles tempos proibiu-os pois dizia que podiam provocar incêndios e conspurcavam as matas…

Acabaram, começaram os incêndios e as matas viraram cinzeiros…!

Então aí chegou o progresso…e eu não falei de “política”…

PS – Quim: tu podes comentar e mesmo acrescentar, mas não podes renegar a história do Pinheiral…olha a minha credibilidade, pá! É que, de repente, não tenho a certeza se foi mesmo para França que emigrou…


Fonte aqui

2 pensamentos sobre “Os Eucaliptos do Pinheiral…

  1. Que saudades !?…
    Também as tenho, meu caro Vassalo!
    Permita que o trate assim. Porque assim, em matéria de vassalagem, seremos colegas/companheiros/camaradas, consoante o mais adequado, porque também ando por aqui desde 1944, subi pinheitos e eucaliptos, fiz queimadas, participei em piqueniques à beira das estradas, depois cresci, entrei no chamado comboio do progresso (um colega comentador aqui na Estatuadesal chamar-lhe-ia entrar na “História da Civilização” contribuindo para que prosseguisse), entrei na “norma”, cresci, também em conhecimento e na vida, atingi alguns patamares do sucesso pequeno burguês, tomei consciência e aprendi como o capitalismo explora as pessoas de forma vampiresca, mas não esqueci as origens e quis viver prestando vassalagem ao Zépovinho LUSO, que eu adoro, servindo-o, à minha maneira, e mantendo-me ao seu lado intransigentemente, danfo-lhe força e ânimo até que tome o poder. Daí o Vassalo saber-me melhor, meu prezado Joaquim.

    É bom ler os seus textos. Ajudam-me na convicção, reforçando-a, de que não estou sozinho na luta pela IGUALDADE, FRATERNIDADE e SOLIDARIEDADE entre os homens e para os de boa vontade. Alimentam-me naquela sanha de esganar a burguesia capitalista. E trazem-me à memória aqueles versos do saudoso ZECA:

    Ao lado dos explorados,
    no combate à opressão,
    não me importa que me matem,
    outros amigos virão!

    Um abraço, extensivo à Estatuadesal por partilhar, do
    aci

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