Síndrome do sobrevivente – A culpa de continuar a existir

(Por José Gabriel, in Facebook, 21/06/2017)

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Alguns amigos discordam do tom cáustico que muitos de nós têm usado na crítica à cobertura televisiva da tragédia de Pedrogão Grande. Por mim, admito que algumas das abordagens que aqui tenho feito têm sido algo duras, já que considero esta questão fundamental, e de um alcance que está longe de se limitar a estes eventos.

Nesse sentido, julgo, até, ter sido contido. Para além de a maioria dos repórteres fazer um trabalho de manipulação das consciências na mais grosseira linha tablóide – enquanto nos estúdios se trata das tarefas de manipulação mais tecnicamente política – quase todos jogam um jogo muito perigoso ao insistir em remexer nas emoções e feridas emocionais das vítimas com, por vezes, o entusiasmo de um torturador.

Os sinais de dificuldade em assumir a própria sobrevivência e o sentimento de culpa que se vai instalando no espírito de muitas destas pessoas pode ter consequências a longo prazo gravíssimas. O chamado “síndroma do sobrevivente”, amplamente estudado, sobretudo no pós-guerra e a propósito dos sintomas psíquicos apresentados por muitos dos sobreviventes – o caso das vítimas do Holocausto é o mais notório -, pode gerar nos que sobrevivem a uma calamidade, uma guerra ou, até, um despedimento colectivo a que se escapa, um quadro que leva à auto-culpabilização, com sintomas físicos, psíquicos, comportamentais cujas consequências podem ser funestas.

Não aceito nem acredito que os repórteres não saibam disso. Por isso, não há perdão para muitas das técnicas de interrogatório – meço as palavras – que utilizam quando cercam as vítimas, de microfone em riste. O título que chegou a figurar na capa do Público a propósito de uma tragédia familiar de um homem que perdeu a mulher e duas filhas mas salvou-se e salvou outros familiares num outro carro – “Mário mandou mulher e filhas para a morte” – penso dar a medida do que estou a tentar transmitir e explica porque, apesar de tudo, considero, como muitos dos meus amigos, ter sido contido e sóbrio nos termos usados.

É que a desorientação, a inconsciência, a boçalidade que têm perpassado por muitos dos trabalhos de reportagem – designadamente a repetição até à náusea de entrevistas às vítimas mais desesperadas – , não são só tendenciosos e profissionalmente indigentes. São perigosos. Muito perigosos.

3 pensamentos sobre “Síndrome do sobrevivente – A culpa de continuar a existir

  1. Sim. Concordo.
    Mas de quem é a culpa?
    Quem destruiu a reforma agrária a partir de 25.11.1975, pela mão de um tal barreto elevado (por gentalha da igualha dos actuais actores aqui neste artigo justamente criticados / censurados), a “ilustre sociólogo de reconhecido mérito nacional”, nao foi o burguezote capitalista, gordo e anafado, do defunto charlatão também por esta mesma gentalha, e nao só, elevado a “pai da democracia portuguesa”, ou até – aqui pela pena de um jornalista sério como é o Nicolau Santos, mas que tem como avatar do seu estômago e do estômago da sua família, o burguezote e pedante do ilustre n° 1 da matilha alcateada sediada ali prós lados da S. Caetano – a “o nosso Winston Churchil” (meu caro Nicolau Santos, do seu “nosso”, se o Nicolau estiver interessado em ter mais do que uma parte, eu cedo-lhe a parte que me destinou, não por um prato de lentilhas, nem, sequer, um pires, mas por 2 ou 3 tremoços que poderemos celebrar com duas cervejas – de preferência sagres, por serem a sede quevse deseja – e, com todo o gosto, saiba wue as cervejas são por minha conta!…
    E depois não veio um outro barreto, figura (de figurão) sinistra do sinistro e hediondo capitalismo, de fachada democrática, continuar a destruição do resto da agricultura, sansionando, promovendo e apoiando o repovoamento do território com eucaliptos? Quem não se lembra de um tal mira – outra figura destacada dos “do arco” reputado engenheiro quanto democrata de pacotilha – que anunciava aos 4 ventos, deixando escapar uns quantos gafanhotos de saliva para cima fos microfones dos mídia já então a caminho de se travestirem em defensores do capitalismo, que o eucalipto era ou ia ser onnosso petróleo verde????
    E quem esquece que todas as machadadas na economia lusa foram dadas, inspiradas, impulsionadas e apoiadas por essa outra figura sinistra e pidesca que girou durante mais de 10 anos como presidente do conselho de minisros e depois mais 10 como inquilino de Belém onde, outras coisas caricatas e reveladoras da mesquinhez, incultura, prepotência e provincianismo, arranjou um sótão para uma marionete sua escrever, durante mais de 5 anos, as suas memórias enquanto “facturava” chorudo salário de assessor pago pelo Zépovinho, que destruiu agricultura, pescas e indústria, promoveu e assinou o famoso tratado de Lisboa volovsmdo Portugal e os portugueses de mão estendida pedinchando esmola enquanto os salgados, oliveiras e costa e quejandos transferiam para os paraísos fiscais os milhões e milhões de euros que agora o Zépovinho anda a suportar???
    Então não há culpados????
    Há sim. E muitos ainda estão vivos e “andam por aí “!….

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