Os Deuses não pagam impostos

(In Blog O Jumento, 14/06/2017)
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Parece que o fisco espanhol puxou a ponta da meada da futebol leaks e apanhou, ou julga ter dados suficientes para considerar, que apanhou o Cristiano Ronaldo com o pé na argola. Não é nada de novo, já outros futebolistas foram apanhados na malha do combate à evasão fiscal, a começar pelo próprio Messi que foi condenado a uma pena de prisão.
Por cá foi um ai Jesus, se fosse um qualquer político ou banqueiro, depois da justiça ter dito mata, já a populaça gritava esfola, mas tratando-se do nosso Ronaldo só se levantaram vozes em sua defesa, até porque o seu estágio não pode ser perturbado. Que Ronaldo fez tudo o que estava ao seu alcance para ser exemplar, que há dúvidas nas regras, que era para equilibrar a balança das perseguições fiscais entre o Real e o Barça, enfim, Ronaldo está inocente.
Pouco tempo depois de a notícia sair já estava Lobo Xavier a dar uma entrevista em defesa de Ronaldo, não se percebendo bem se trabalhava pró bono, se estava no seu horário de voluntariado ou se veio em defesa de uma causa nacional. O conhecido defensor de boas causa não só defendeu Ronaldo, como ainda achou que devia gozar com o fisco espanhol. Que Ronaldo queria saber como cumprir e ninguém saberia e que não faria sentido pagar em Espanha um imposto relativo a um anúncio no Japão.
Pois, Lobo Xavier deve achar que os rendimentos dos anúncios do Ronaldo devem ser pagos em cento e tal países, todos aqueles onde os spot publicitários forem exibidos. Se ganhar uma final no México os rendimentos dos prémios relativos a essa final devem ser tributados no México. E não vale a pena perguntar como fazer ao fisco espanhol porque os nuestro hermanos da Agencia Tributaria são imbecis, o melhor é perguntar ao Xavier.
O que ninguém explicou foi para que serviam as transferências de dinheiro entre off shores para depois ser depositado em contas secretas na Suíça. Não, no caso de Ronaldo as contas secretas na Suíça e as off shores são coisa de gente séria e cumpridora.

3 pensamentos sobre “Os Deuses não pagam impostos

  1. O futebol é o suprasumo das lobotomias cerebrais pois no nosso Ronaldo tudo isto é legitimo e aceitável.
    O melhor do mundo poderia também ser mais sério, não custava nada.

  2. E o “Jumento” olhou para a árvore, esquecendo-se de ver a floresta.
    Claro que Ronaldo é apelativo, pela grandeza que atingiu, pela figura pública fora da política que consegue ser, mas a verdade é que não conheço um futebolista dos grandes que se preocupe com impostos ou contratos. Isso é mister de outros que não eles, pois nem para as famílias têm tempo, quanto mais para se preocuparem com isso.
    Ao Pita, personagem típica na minha zona, com baixo nível académico, se um dia lhe saísse o Euromilhões seria uma festa de arromba. Mas seria justificado exigir-lhe que soubesse e se preocupasse com os impostos que iria pagar? Claro que não! Mas a Ronaldo, que não terá mais habilitações académicas que o Pita é-lhe exigido. Porquê? Porque é o Ronaldo? E assim se chega à exigência que fazemos a outras figuras, com níveis académicos superiores e, por isso, obrigados a terem outros cuidados com o pagamento de impostos, até porque não podem invocar desconhecimento da lei porque estudaram e licenciaram-se em Direito, Finanças ou Gestão, que os habilita especialmente para saber lidar com o fisco.
    Claro que um político ou banqueiro é olhado como se um de nós fosse, que ocupa o lugar por força da cunha e do associativismo partidário, trabalhando como nós e ganhando num ano o que não ganhamos na vida toda, sem que nos ofereçam motivos de alegria. Já Ronaldo é olhado como um artista, para o qual só alguns podem sonhar um dia ser, que ganha num mês o que não ganhamos em dezenas de anos de trabalho, mas que nos dá alegrias (nalguns casos também dá tristezas, como a mim e ao “Jumento”).
    É na forma como reagimos a estas diferenças e na classificação menor que fazemos na comparação entre o que cada um ganha (uns estudaram, queimaram as pestanas e ganham menos que um tipo por dar pontapés numa bola, sem estudos e sem trabalho) que conduz à negação em aceitar que alguém sem estudos ganhe mais que um licenciado, num País onde ter uma licenciatura é um posto (um vendedor de cautelas, pai de um colega, dizia: estuda meu filho, estuda. Se ti veres um curso podes ser uma grande besta, mas és o Senhor Doutor), que faz a diferença na desculpabilização de Ronaldo para uns, e culpabilização do político ou do banqueiro para outros.
    No fim de contas, é como se uns obtivessem vingança pela sua impotência para modificar a realidade de uns e outro.
    Quanto à figura ridícula de Lobo Xavier, é mesmo isso ridícula, nada que não estejamos já habituados, seja nos seus comentários partidários, seja na sua presença no excelente Governo Sombra.

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