BULE BRITÂNIA…

(Por José Gabriel, in Facebook, 06/06/2017)

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Só faltava esta: comentadores a defender que a queda eleitoral de Theresa May e correspondente subida de Jeremy Corbyn se deve aos atentados terroristas – alguns dos mesmos comentadores que os classificava, há poucos dias, como uma vantagem para os Conservadores. Parece que não conseguem interiorizar o simples facto de que os eleitores preferirem as mensagens e projectos de Corbyn por razões políticas. Independentemente do valor que se possa atribuir ao programa Trabalhista e aos comportamentos do seu líder e não havendo, em alguns tópicos, tanta distância como alguns de nós – e deles…- gostaríamos, há diferenças fundamentais e, o que mata os neurónios de muitos comentadores, Corbyn é um candidato muito mais à esquerda que a tralha blairista. Quer dizer, valha o que valer o seu programa, um bom resultado dos Trabalhistas com tal candidato tem um significado que ultrapassa em muito a conjuntura britânica. Theresa May, pelo seu lado, tem representado tudo o que há de repulsivo num político: catavento político e moral, capaz de defender tudo e o seu contrário desde que obtenha uma vantagem conjuntural, socialmente insensível e isolacionista em modo Trump.
Parece ser insuportável para muitos dos nossos opinantes esta situação. Assim, recorrem, como os jornalistas do Público e outras folhas de couve, à velha treta do modelo teórico da moda. As coisas são boas ou más consoante estão “a dar” ou não. É assim que pensa a nossa direita coelhista que, quanto mais reaccionária é, mais insiste em proclamar a sua “modernidade”.”Foram buscar Corbyn ao frigorífico”, “está fora do tempo”, e outras apreciações que tais. Não é novo este recurso argumentativo. É que uma análise procedente dá um trabalho dos diabos e o seu resultado pode não ser do agrado dos patrões. Assim, rasteja-se no senso comum.
Parece, para muitos, insuportável a visão da coerência e do carácter. Mas aqueles que de nós que têm memória, lembram-se que o “velho” Corbyn foi um dos 13 – entre 650! – que levantou a voz – e o voto! – e se opôs às aventuras criminosas na Líbia e à invasão do Iraque, fontes de muitos dos problemas que agora enfrentamos, entre os quais releva o da escalada terrorista. A maioria dos terroristólogos que por aí anda raramente lembra estes factos. As raízes do terrorismo são tão desconfortáveis…

Não se trata aqui de subscrever tudo o que Corbyn propõe e afirma, cujo conteúdo deve ser julgado pelos seus méritos, mas de saudar esta aragem de decência política. Renovadora, venha de onde vier no espaço e no tempo, porque, ao contrário do que pensam os tolos, não se trata de saber se as ideias são velhas ou novas, mas se são justas. Nos sentidos de justeza e de justiça.

2 pensamentos sobre “BULE BRITÂNIA…

  1. Meu caro José Gabriel – permita-me este trato e acredite que ouso, pela simples razão de concordar com este seu excelente texto, que subscrevo, assino por baixo e, com a sua licença e a devida vénia, vou partilhar -, claro que é como bem escreve, e qualquer pessoa séria e honesta sabe que assim é.
    Só que a direita intelectualoide que por aí vai evacuando as suas pretensas quanto descabeladas teses, perante tais evidências, não vai mudar um milímetro, pelo que, como me aconselhava o meu querido e saudoso velhote:
    《Ensaboar a cabeça a cabeça a burros pretos, é perder tempo e gastar dinheiro em água e sabão, na medida em que aquilo não é sujidade!…》.
    Miseráveis, de espírito, é o que eles (e elas) são, essa seita dos pafistas pafiosos!… ainda aziados….
    Não obstante, força, meu caro José Gabriel, vamos a eles… e, já agora, permita-me ainda um conselho: Quando voltar a escrever, tente misturar mais um pouco de vinagre na tinta!!!..
    Um forte abraço pela obra-prima, extensivo à Estatuadesal por nos facultar o acesso, do
    aci

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