Direito de resistência

(Isabel Moreira, in Expresso Diário, 20/05/2017)

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Na última quarta-feira, o Correio da Manhã (CM) cometeu um crime ignóbil sobre outro crime. Publicou um vídeo demonstrando uma agressão sexual sobre uma mulher reconhecível perante terceiros e perante a própria. Após muita indignação veio aquele pasquim tentar justificar-se com desculpas que não cabem no léxico do jornalismo.

Ao contrário do que alega o CM, é mesmo preciso matar o mensageiro. Como foi comentado num post no meu Facebook, foi cometido um crime e é há que apreender a arma do crime.

Para além das duas queixas-crime já anunciadas pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, e de outras iniciativas institucionais que possam ter lugar, talvez seja hora de definitivamente apelar-se à consciência cívica de todas e de todos.

Já escrevi aqui e noutras sedes que a proteção dos nossos direitos de personalidade estão num processo de decadência em curso, para o qual em muito contribui o CM e a CMTV, o poder imenso do grupo Cofina, o corredor de encontros entre Cofina e Ministério Público e a fraca reação por parte de quem deve garantir o Estado de direito.

Já vimos quase tudo e o CM continua a vender, já vimos quase tudo e o medo continua a existir, toda uma gente disposta a escrever no pasquim, a comentar no canal televiso, a responder a perguntas daqueles “órgãos de comunicação social” como se fossem, efetivamente, coisa dessa natureza.

Já assistimos à transmissão de imagens do funeral de uma criança, já assistimos à filmagem de cadáveres nos atentados de Nice, já assistimos à violação dos direitos de personalidade de várias pessoas, já assistimos a perseguições pessoais com a ajuda abjeta e enviesada de meios processuais penais e, na quarta-feira, assistimos ao CM publicando um vídeo com uma agressão sexual.

Como já referi noutro texto, os escribas e comentadores atrás referidos são todas e todos cúmplices até deixarem de ser. Fica a esperança que essas pessoas percebam que estão a ajudar uma máquina criminosa a vender e a ter audiências à custa do desprezo pelo Estado de direito.

Como cidadã, continuarei a não comprar, a não ler e a não responder a perguntas daquela casa.

Que sejamos muitas e muitos a fazer o que mais há de elementar numa democracia: chama-se direito de resistência.

6 pensamentos sobre “Direito de resistência

  1. Sim. Completamente de acordo. Aquele pasquim travestido por jornal porque há jornalistas que com ele colaboram. Para o ganha pão não vale tudo.
    Temos direito à indignação!…

  2. O mais descarado, mais corrupto e vendido é um tam que já foi secretário de Estado da Cultura! Da cultura, precisamente e que passa por escritor.
    Sim o tal do “Crivelli” que contra tudo e todos os pareceres deixou expatriar o quadro há vários anos proibido de sair do país e desse modo o antigo patrão (o da tvi, dos livros e dos carros) fazer um negócio da China.Feita a negociata o secretário demitiu-se da cultura e foi trabalhar novamente nos livros com o mesmo patrão. Foi uma esp´cie de intervalo: vou ali com o passos, finjo que deixei de trabalha contigo, fazemos o negócio com o “Crivelli” e depois volamos aos livros novamente juntos.
    Este “escritor” que faz crítica dos grandes nomes da literatura e fala tu cá tu lá com eles vende diariamente uma crónica no ‘cm’ e uma citação em caixa no interior da crónica. E quem cita o nosso ‘escritor’ diariamente? Pois nem mais nem menos que um cabecilha do cabeçalho de direcção do ‘cm’. Sim, ele cita diariamente um “pensamento” de um dos “intelectuais” da direcção do jornal do esgoto.
    Este senhor consegue ainda ser mais esgoto do que o ex-ministro de Sócrates que esse, ao menos, está lá a avalizar o esgoto mas fala das leis e consegue não dizer o que o esgoto queria que ele dissese. São ambos corruptos perante o cheque gordo mensal mas o “escritor” ex-secretário de Estado é corrupto lambe-cus dos chefes do pasquim.
    E não admira se o próprio pacheco pereira também já foi autor corrupto quando fez o elogio do ‘cm e do seu jornalismo subserviente face ao cheque chorudo que recebe da ‘Sábado’.
    Também são corruptos por que temem ser perseguidos e terem escarrapachados na 1ª pag. do pasquim as suas fantasias secretas ou facadas na moralzinha beata para destruição de caracter.
    Os do ‘cm’ devem gozar que nem uns perdidos com a manipulação que fazem dos podres secretos de tanta gente sem coragem que não seja a subserviência.

  3. Seria uma boa empreitada uma campanha do público contra o CM e como é que um cidadão pode combater estes
    Poderes com tanto poder ?

    • Só vejo uma forma, dado os poderes instalados e os medos políticos e dos jornalistas, que é não nos calarmos de forma cobarde. A dignidade terá que vencer os interesses económicos instalados. Não ao “jornalismo” (isto é, a indignidade) vomitada diariamente pela Cofina através dos seus instrumentos CM e CMTV. Viva o jornalismo! Viva a democracia! Viva a liberdade!

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