Macron – Le Pen: escolher não ter de escolher. Uma segunda volta entre Orwell e Kafka

(Por Jérôme Leroy, in A Viagem dos Argonautas, 03/05/2017)

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E agora, o que é que irei fazer?“cantava Gilbert Bécaud. A vantagem da música ligeira é que eles levantam sempre problemas reais, tal como a literatura. Na primeira volta, tal como mais de sete milhões de eleitores, votei com entusiasmo pelo programa de Mélenchon, um pouco menos por aquele que o assumia….

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7 pensamentos sobre “Macron – Le Pen: escolher não ter de escolher. Uma segunda volta entre Orwell e Kafka

  1. Há algo em toda esta argumentação que é profundamente nojento. Primeiro, explica-se por que não se votará Le Pen, porque ela representa tudo o que se detesta. Depois, mete-se o neoliberal Macron no mesmo saco, como se não existisse diferença entre eles, e como se a razão da derrota de Mélenchon não se devesse simplesmente a que teve menos votos que Le Pen e que Fillon, note-se… Não, a razão é a imprensa do sistema, Hollande, o que se quiser, esquecendo que com essa atitude se menorizam os eleitores que não parecem levar tais fontes muito a sério, sobretudo o último. No fundo, a Esquerda da Esquerda despreza o resultado do voto, como sempre fez, só é bom quando ganhamos, que é nunca, porque a larga maioria rejeita a sua conceção social e económica. Se não alinharem na ‘Esquerda de transformação’, então não brincamos, mesmo correndo o risco de eleger uma neo-fascista. Cada pessoa tem naturalmente o direito de fazer com o seu direito de voto o que quiser, incluindo o direito de abdicar dele. Mas, imaginando ou esperando ao menos que esta Esquerda não alinha na política do ‘quanto pior, melhor’, se Le Pen for eleita no Domingo, esperemos que eles não venham manifestar-se na noite desse dia, antes se metam debaixo da cama e pintem a cara de preto. Não se chora na rua o que não se soube defender nas urnas…

    • O que para mim é nojento é o mainstream não ver, como você não vê, que quem cria os monstros são as acções e políticas do próprio mainstream. Hollande e Merkel criaram a Le Pen dos 40% de votos. Macron irá criar, sem espinhas, a Le Pen que daqui a 4 anos terá 60% de votos! É dificil olhar para o umbigo e assumir as culpas próprias. Claro que as culpas nunca são dos neoliberais, são sempre do povão que “vota mal”. Como no caso do Trump: a culpa foi dos russos, dos hackers, do FBI, bla, bla, bla. Quer raciocínio mais “nojento” e viciado que este? Parece que também é o seu. E por isso lhe digo: nojo com nojo se paga.

      • Então ficamos ambos a chafurdar na nojeira e que lhe faça muito bom proveito. Só que você parece que acha que não faz mal eleger já Le Pen e eu acho que cinco anos é muito tempo (eu quero é que ela tenha menos de 50% agora). Dê lá as voltas que quiser que a sua lógica não sai disto. Como alguém dizia, o raciocínio é semelhante a quem tem medo da chuva e por isso se atira à água.

        • Pois é. Gostei da sua metáfora. O seu problema é que fogem de apanhar chuva miúda, e depois quando a chuva engrossa ficam sem escapatória e molham-se até ao tutano. É o que vai suceder. E nem sequer aproveitam o tempo para arranjar guarda-chuvas e impermeáveis, não. Fazem a “dança da chuva” chamando-a para que venha mais forte. Sabe qual é o raciocínio, que aliás sempre foi usado? Se a democracia e os resultados eleitorais não nos permitirem “manejar” o sistema em nosso proveito, temos sempre, em último recurso, uma opção “musculada” e “fecha-se” a democracia para balanço. Sempre assim foi em todas as latitudes que o “estado de coisas” que você venera procedeu através dos seus “homens de mão”. E você está farto de saber isso. Assim sendo, a opção Macron é apenas uma opção “mais barata” para que tudo fique na mesma. Na verdade, o extremismo de direita nem de esquerda não assusta “quem pode e quem de facto manda”. Por muito que queiram assustar a plebe, para que continue a aceitar o inaceitável como se “normal” fosse.

  2. Sim, Jaime Santos, estou neste fio, hesitante, porque votei Mélenchon e que me repugna votar Macron que não vai alterar nada á política de Merkel and Co… No entanto, ontem a noite o “débat” me fiz mudar de ideia e feito entender que não quero para a França e pela Europa uma pessoa desta laia para presidir aos nossos destinos. não posso deixar passar Lepen com uma percentagem demasiado alta. Vou votar Macron.

    • Ainda bem, Danielle. Estou naturalmente a fazer um julgamento moral sobre quem se abstém porque considera os dois candidatos quase equivalentes, como parece quer fazê-lo a pessoa cuja crónica foi traduzida acima. Sei bem que nem todos veem as coisas a preto e branco e que há muitos, em particular jovens de Esquerda, que estão fartos e dilacerados por ver o seu voto tomado como garantido por políticos, como Hollande, que depois quebram as promessas. Mas o risco de ver eleita uma neo-fascista é demasiado elevado para se brincar com o fogo. E se ela for eleita, a Esquerda ficará desfeita e Mélenchon não terá um buraco onde se meter. Ele devia ter apoiado Macron logo na primeira hora, sem exigir condições (Macron é de Direita, tal como o era Chirac, que Mélenchon apoiou inequivocamente: ‘Quelle conscience de gauche peut accepter de compter sur le voisin pour sauvegarder l’essentiel parce que l’effort lui paraît indigne de soi ? Ne pas faire son devoir républicain en raison de la nausée que nous donne le moyen d’action, c’est prendre un risque collectif sans commune mesure avec l’inconvénient individuel.’ , dizia Mélenchon em 2002) mas também sem fazer promessas. Primeiro os Franceses devem encarregar-se de lidar com Le Pen, depois, aqueles à Esquerda devem preparar-se para lidar com Macron, seja no Governo seja na Oposição…

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