Serviço da Dívida: Pagamos o Dobro da Grécia

(Por Luís Salgado de Matos, in Blog O Economista Português)

«Para os bretões trabalhar, trabalhar», continua a ser o lema do Zé

A Grécia conseguiu  que os seus credores europeus reduzissem a 2,5% do seu PIB os juros e reembolso da dívida pública, ao passo que o nosso país paga entre 4,5% e 6%.

Na última crise da Grécia com os credores, O Economista Português anunciou que Atenas tinha conseguido dos credores o perdão de boa parte da dívida.  A nossa classe política jurou em alta grita que isso não aconteceria, os credores nunca cederiam. Nessa altura, antes  da cambalhota com os imigrantes sírios, a Sr.ª Merkel ainda era inteligente como Atena e firme como Vénus.  Nunca cederia, disse a nossa classe política, que assim justificava a sua política de cobrador de fraque.

Os credores juraram que não cediam e na realidade cederammas às ocultas. A principal cedência consistiu em o Banco Central Europeu (BCE) devolver à Grécia os juros que ela lhe pagou, se Atenas cumprir o programa de reformas.  Esta condição é apenas formal: se os gregos não cumprirem, serão escorraçados da União Europeia (UE). Outra cedência de tomo foi alargar os prazos da de reembolso da dívida grega. Tudo isto foi facilitado pois os credores da dívida grega são quase em exclusivo instituições estatais.

O problema é de atualidade. Apesar (ou por causa) destas benemerências, a Grécia está de novo à beira da bancarrota – e os seus próximos queixumes darão nova aparência de razão à inépcia e à vaidade da nossa classe política.

O governo não publica dados sobre o serviço da dívida. As estimativas acima resultam do exame dos confusos dados publicados pela Direção Geral do Orçamento, em sede de execução orçamental e referem-se apenas à dívida pública. O leitor viu ontem o debate quinzenal em S. Bento e sabe por isso como a nossa classe política está interessada em revelar estes dados aos portugueses e em equacionar os problemas reais.

Serão só os políticos a ocultarem este problema? Ninguém se lembrará de acusar a nossa corporação  dos economistas de esbanjar tempo e talento com este problema. Aquela ingenuidade e estdesinteresse são ingredientes na nossa incapacidade negocial face aos nossos credores.

Que ganhamos com a nossa subserviência? O nosso ganho é pagarmos de IRS cerca de um terço a mais do necessário se concluíssemos um acordo semelhante ao dos gregos. Que perderíamos com esse acordo? Os ortodoxos dirão: perderíamos crédito internacional e pagaríamos juros mais altos. Esta tese é pura ilusão: ainda ontem voltaram a subir os juros da nossa dívida a prazos mais longos. A nossa única perda seria os nossos políticos deixarem de ter o pêlo afagado pelos nossos credores. Por exemplo: teríamos perdido a visita do Ministro da Economia e Finanças francês, o Sr. Michel Sapin, que se deslocou a Lisboa para adular o Dr. António Costa, convidando-nos para o imaginário «pelotão da frente» de uma UE em crise de sobrevivência, e na realidade das coisas para autorizar-nos a pagar de serviço da dívida o dobro dos gregos. Em breve veremos o Sr. Jerónimo Sousa e o Doutor Francisco Louçã a ser enaltecido pela Chancelarina Merkel  por serem devedores muito sérios e honestos, substituindo nesse papel o Dr. Passos coelho. O Economista Português reconhece que tudo isto é e será uma subida honra para o nosso país. Valerá a pena?

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Dados específicos sobre os pagamentos gregos (que alguns conspiracionistas qualificam de acordo secreto) aqui.


Fonte: Serviço da Dívida: Pagamos o Dobro da Grécia | O Economista Português

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