Agora só o pensamento racional pode salvar o mundo!

(Por Andre Vitchek, in GlobalResearch.ca, 14/04/2017, Tradução Estátua de Sal)

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Este texto é um texto de desconforto e desassossego. O planeta está desmoronar-se e nada vemos, o mundo oscila à beira do abismo, preso mais por humores do que por arames.  A fragilidade por destino. E continuamos alheios e encerrados no pequeno mundo que nos coube em sorte. Confortáveis uns, outros menos. Contudo, todos no mesmo barco. É um texto longo mas vale a pena lê-lo. Até ao fim. Mesmo que a amargura nos assalte.

Estátua de Sal, 14/04/2017


CENÁRIO UM: Imagine que está a bordo de um navio a afundar-se lentamente. Não há terra à vista e o seu transmissor de rádio não está a funcionar. Há várias pessoas a bordo e quer mesmo salvá-las. Você não quer que seja o fim de “tudo”.

O que é que faz?

A) Reserva para si uma boa porção de arroz frito com camarões.

B) Liga a televisão, que ainda está a funcionar milagrosamente, e vê as notícias sobre o futuro referendo escocês ou sobre o BREXIT.

C) Salta de imediato para a água, tenta identificar o dano, e tenta fazer algo impensável com suas capacidades e ferramentas simples: salvar o navio.

Imagine outro cenário:

CENÁRIO DOIS: Por engano, a sua esposa ingere dois tubos inteiros de comprimidos para dormir, supostamente confundindo-os com uma nova linha de doces. Quando a encontra no chão, ela parece estar inconsciente e seu rosto está azulado.

Qual seria a sua reação?

A) Depois de perceber que os saltos altos não combinam com a cor da meia-calça dela, você corre para o armário à procura de um par de sapatos mais condizentes.

B) Leva-a sem demora para o quarto de banho, bombeia-lhe o estômago e tenta ressuscitá-la, ao mesmo tempo que chama o 112 usando a função de alta voz do seu telemóvel.

C) Você recorda-se do momento em que se conheceram, sente-se nostálgico e dirige-se apressadamente para a biblioteca da sala de estar, à procura de um livro de sonetos de amor de Pablo Neruda, que recita para ela, emocionado, ajoelhado no tapete.

Agora prepare-se para ter uma grande surpresa. Se não escolher C) no cenário UM, e B) no cenário DOIS, ainda assim você poderá ser realmente considerado absolutamente “normal” de acordo com os padrões dominantes, quer nos EUA quer na Europa.

E se optar por C) ou B), respetivamente, pode facilmente passar por extremista, um fanático ideológico e um esquerdista radical.

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O Ocidente conduziu o mundo para perto do colapso total, mas os cidadãos, mesmo os intelectuais, continuam teimosamente a recusar-se a entender essa evidência. Como avestruzes, muitos estão a esconder a cabeça na areia. Outros, estão a portar-se como um cirurgião que opta por tratar o doente de um pequeno corte no dedo, ignorando que ele está realmente a morrer, devido a um terrível ferimento causado por uma bala no peito.

Parece haver uma ausência enorme de pensamento racional e, especialmente, da capacidade das pessoas compreenderem, em toda a sua dimensão, as ocorrências e eventos de âmbito mundial. Há anos que venho a defender que a destruição da capacidade de comparar e ver as coisas a partir de uma perspetiva universal tem sido uma das diligências mais bem-sucedidas levadas a cabo pelas instituições de doutrinação ocidentais (através da educação, média/desinformação e “cultura”). Elas têm efetivamente influenciado e pacificado tanto as pessoas no Ocidente como as que vivem nas suas colónias, atuais e antigas, (particularmente as “elites” locais e os seus descendentes).

Parece não haver nenhuma capacidade de comparar e analisar consistentemente, por exemplo, as ações certamente desagradáveis, mas principalmente defensivas tomadas pelos governos e países revolucionários, com os crimes mais horríveis e terríveis cometidos pelos regimes colonialistas do Ocidente em toda a Ásia, América, Médio Oriente e África, que ocorreram quase na mesma época histórica.

Não é só a história que é vista no Ocidente através de lentes totalmente distorcidas e “fora de foco”, é também o presente, que tem sido percebido e “analisado” de uma maneira fora do contexto e sem se aplicar praticamente nenhuma comparação racional. Os países rebeldes e independentes da Ásia, da América Latina, da África e do Médio Oriente (a maioria deles foram realmente forçados a defender-se de ataques extremamente brutais e a opor-se a campanhas de subversão impulsionadas pelo Ocidente) foram criticados, mesmo nos chamados círculos “progressistas” do Ocidente, usando padrões muito mais severos do que aqueles que são aplicados tanto à Europa como à América do Norte, duas partes do mundo que têm espalhado continuamente o terror, e infligido a destruição e sofrimentos inimagináveis a pessoas de todos os cantos do mundo.

A maioria dos crimes cometidos pelas revoluções de esquerda foram cometidos em resposta direta a invasões, subversões, provocações e outros ataques vindos do Ocidente. Quase todos os crimes mais terríveis cometidos pelo Ocidente foram cometidos no exterior e foram dirigidos contra pessoas escravizadas, exploradas, completamente saqueadas e indefesas em quase todas as partes do mundo.

Agora, de acordo com muitos, o “fim do jogo” está a aproximar-se. Os oceanos em ascensão estão a engolir países inteiros, como testemunhei em várias partes da Oceânia. É uma visão horrível, indescritível!

Milhões de pessoas, em numerosos países governados por regimes pró-Ocidente, estão a sair dos seus países, enquanto algumas nações estão basicamente deixando de existir, como a Papua ou Caxemira, para dar apenas dois exemplos óbvios.

O meio ambiente está completamente arruinado nas zonas onde,  há apenas algumas décadas atrás, os “pulmões” do mundo costumavam funcionar, mantendo o planeta saudável.

Dezenas de milhões de pessoas estão agora em movimento, já que os seus países foram completamente arruinados pelos jogos geopolíticos ocidentais. Em vez de influenciar e ajudar a guiar a Humanidade, culturas tão antigas como as do Iraque, Afeganistão e Síria são agora forçadas a produzir milhões de refugiados desesperados. Estão  apenas a tentar sobreviver, humilhadas e pouco relevantes.

Os grupos religiosos extremistas (de todas as religiões e, definitivamente, não apenas pertencentes à religião muçulmana) estão a ser preparados pelos ideólogos e estrategas maquiavélicos ocidentais, e estão espalhados por todos os cantos do globo: Ásia do Sul, Médio Oriente, China, América Latina, África e até na Oceânia.

O imperialismo conseguiu reduzir nossa Humanidade a uma desgraça total.

A maior parte do mundo está realmente a tentar funcionar “normalmente”, “democraticamente”, seguindo seus instintos naturais, que são baseados no simples humanismo. Mas acaba repetidamente por descarrilar, atacado e atormentado pela brutal, monstruosa e impiedosa hidra – o expansionismo ocidental e a sua “cultura” ou niilismo, ganância, cinismo e escravidão.

É óbvio para onde estamos a caminhar enquanto raça humana.

Nós queremos voar, queremos liberdade, otimismo e beleza para governar as nossas vidas. Queremos sonhar e criar algo profundo, significativo, feliz e amável. Mas há aqueles pesos horríveis que nos penduram nos pés. Há correntes que restringem as nossas ações. Há um medo constante, que nos está  a levar a trair todos os nossos ideais, assim como a trair-nos uns aos outros,  uma e outra vez; medo que nos faz, a nós seres humanos, agir como covardes e egoístas sem vergonha. Como resultado, não voamos, estamos apenas a rastejar, e nem mesmo para a frente, mas em elipses e círculos bizarros, irracionais.

Ainda assim, não acredito que o “fim do jogo” seja inevitável!

Há muitos anos que faço advertências, tenho escrito, mostrado e apresentado milhares de terríveis imagens de destruição, do colapso irreversível, da barbárie.

Praticamente, não guardei nada para mim. Utilizei os frutos do meu trabalho, dos meus filmes e livros, em novas viagens para os abismos mais escuros do nosso mundo. Não recebi quase nenhum apoio de terceiros. Mas não posso parar: o que tenho testemunhado, o perigo para o planeta e a devastação total, forçam-me a nunca desistir da luta. Sempre que foi necessário, e na maioria das vezes, eu estive sozinho. Passei muito tempo na América Latina; não posso desistir. Aprendi muito com Cuba e em tantos outros lugares maravilhosos; senti que não tinha o direito de me render.

Sempre que os horrores de que nosso planeta está sofrendo me sobrecarregam, posso ‘colapsar’, como aconteceu no ano passado. Então enterro-me em algum lugar por um curto período de tempo, reúno-me comigo mesmo, levanto-me e continuo o meu trabalho e a minha luta. Nunca deixei de confiar nas pessoas. Alguns vêm cheios de entusiasmo inicial, oferecem muito, depois traem-me e saem. Ainda assim, nunca perdi a fé nos seres humanos. Este ano, em vez de desacelerar, eu ‘adotei’ mais um lugar, que está em agonia – o Afeganistão.

O meu único pedido, a minha única exigência foi, que o mundo escutasse, que visse, que tentasse compreender, antes que seja tarde demais. Este meu pedido provou ser, percebo-o agora, tido também como “exigente”, e “radical”.

Às vezes pergunto: consegui muito? Abri os olhos a muita gente? Consegui construir muitas pontes entre as diferentes partes do mundo em luta? Como um internacionalista tenho de questionar as minhas próprias ações, a minha eficácia.

Tenho que admitir, honestamente: não sei as respostas para minhas próprias perguntas. Mas continuo a trabalhar e a lutar.

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O mundo parece diferente se observado e analisado a partir de um pub na Europa ou na América do Norte, ou se alguém estiver de pé num daqueles atóis no meio do Pacífico Sul (Oceânia) que estão sob o assalto constante da maré das ondas, pontilhadas com raízes das palmeiras mortas que apontavam de forma acusadora para o céu. Essas ilhotas estão na vanguarda da batalha pela sobrevivência do nosso planeta, e estão obviamente a ser derrotadas.

Tudo também parece ser muito mais urgente, mas também “real”, quando observado a partir das planícies negras e desoladas das ilhas indonésias, desesperadamente alagadas, de Bornéu/Kalimantan e Sumatra.

Eu costumava relatar nos meus ensaios, apenas para os leitores ficarem a saber, como ficavam as aldeias nalguns lugares, como em Goma na República Democrática do Congo (RDC), e como se sentiam as pessoas, após os assassinatos perpetrados por assassinos pró-Ruanda e, portanto, pró-Ocidente. Milícias. Era importante para mim explicar como as coisas são “no meio delas”, no terreno. Eu costumava escrever sobre estupros e mutilações em massa, sobre a carne queimada, a tortura terrível…Parei há algum tempo. Ou se testemunha tudo isso pelo menos uma vez ou simplesmente não se testemunha. Se se testemunha, sabe-se o que é, o que se sente e a que cheira…ou então nunca se poderá imaginar, por muitos livros e relatórios que se leia, por muitas imagens que se vejam.

Tenho tentado falar sobre tudo isto com as pessoas no Ocidente, em conferências, universidades, ou mesmo através dos meus filmes e livros. Elas escutam, principalmente com respeito. Elas mostram-se educadamente indignadas e ‘horrorizadas’, elas ficam (como é “esperado” que fiquem). Alguns dizem: ‘Eu quero fazer alguma coisa’. A maioria não faz absolutamente nada, mas mesmo quando decidem agir, é geralmente para si mesmos, apenas para se sentirem bem, para se sentirem melhor, para convencerem a própria consciência de que realmente “fizeram pelo menos algo pela Humanidade”.

Eu costumava culpá-los. Já não o faço. É assim que o mundo está organizado. No entanto, tenho reduzido drasticamente as visitas de trabalho tanto à América do Norte como à Europa. Eu não sinto empatia com as pessoas nesses lugares. Não pensamos da mesma maneira, não sentimos o mesmo, e mesmo a nossa lógica e razão são diametralmente diferentes.

A minha recente estadia de três semanas na Europa revelou-me claramente o quão pouco há de comum entre o estado mental do Ocidente e a realidade em que a grande maioria do mundo tem vivido.

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No passado, antes que os impérios ocidentais e o único “Império”, tivessem esvaziado os povos da maior parte da sua determinação e do seu entusiasmo, os seres humanos mais talentosos não faziam distinção entre as vidas pessoais, a sua criatividade e o seu implacável trabalho e dever para com a Humanidade.

Em vários lugares, incluindo Cuba, é assim que muitas pessoas ainda vivem.

No Ocidente, todos e tudo está agora fragmentado e a própria vida tornou-se objetivamente sem sentido: há um tempo distinto para trabalhar (satisfazer a carreira pessoal, garantir a sobrevivência, avançar “prestígio” e ego), um tempo para brincar e a vida familiar… e ocasionalmente há tempo para pensar sobre a Humanidade ou, muito raramente, sobre a sobrevivência do nosso planeta.

Escusado será dizer que, essa abordagem egoísta falhou na ajuda necessária para fazer avançar o mundo. E também fracassou diretamente quando se tratou de parar, pelo menos algumas, das monstruosidades cometidas pelo imperialismo ocidental.

Quando vou à ópera ou a algum grande concerto de música clássica, é para obter uma inspiração profunda, para me entusiasmar com o meu trabalho, para reciclar a beleza que exprimo nos meus romances e filmes, peças de teatro e até relatórios políticos. Nunca vou para ficar simplesmente “entretido”. Nunca é, pelas minhas próprias necessidades, somente.

Também é essencial para mim trabalhar em estreita colaboração com as pessoas que amo, incluindo a minha mãe, que já tem 82 anos.

É porque eu sei que não há absolutamente nenhum tempo para desperdiçar. E também porque tudo é, e deve estar entrelaçado na vida: amor, trabalho, dever, luta pela sobrevivência e progresso do nosso mundo.

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Posso ser rotulado como fanático, mas estou decididamente a escolher as opções C) e B) dos “dilemas” que descrevi acima.

Estou a escolher a racionalidade, agora que a “armada” dos EUA repleta de armas nucleares está a navegar em direção à China e à Coreia do Norte, agora que os mísseis Tomahawk caíram sobre a Síria, agora que o Ocidente vai enviar mais milhares de mercenários para um dos países mais devastados da Terra – o Afeganistão.

Sobrevivência e, em seguida, o avanço do mundo deve ser o nosso maior objetivo. Eu acredito nisso e fico de pé. Em tempos de crises absolutas, que estamos vivenciando agora, é irresponsável, quase grotesco, simplesmente ‘continuarmos a viver a nossa vida diária’.

O imperialismo tem que ser travado de uma vez por todas, por todos os meios. No momento em que a sobrevivência da Humanidade está em jogo, o fim justifica todos os meios. Ou, como reza o lema do Chile: “Por razão ou por força”.

Naturalmente, se aqueles “que sabem” não agirem, se forem covardes e oportunisticamente não fizerem nada, de uma perspetiva universal, nada de muito significativo acontecerá: um pequeno planeta numa de tantas galáxias simplesmente deixará de existir. Há muitos planetas habitados no universo, muitas civilizações.

No entanto, eu adoro este mundo e este Planeta particular. Eu conheço-o bem, desde a ponta mais ao sul, todo o caminho para o norte. Eu conheço os seus desertos e vales, montanhas e oceanos, as suas criaturas maravilhosas e tocantes, as suas grandes cidades e aldeias abandonadas. Conheço os seus povos. Eles têm muitas falhas; pelas quais em muito os podemos condenar, e muito deve ainda melhorar. Mas acredito que, no entanto, ainda são mais merecedores de admiração do que de denúncia.

Agora é hora de pensar, racional e rapidamente, e então agir. Nenhum remendo pequeno será suficiente, nada de ações para “sentir-se bem”. Apenas uma recomposição total, revisão. Chame-lhe a Revolução, se você quiser, ou simplesmente C) e B). Não importa como você o defina, mas algo terá que vir rapidamente, muito rapidamente, ou em breve não haverá mais nada para amar, defender e trabalhar, nunca mais.


Andre Vltchek é um filósofo, romancista, cineasta e jornalista de investigação. Cobriu guerras e conflitos em dezenas de países. Três de seus últimos livros são o romance revolucionário “Aurora”, e dois bestsellers, obras de não-ficção política: Expondo as mentiras do Império e Luta contra o imperialismo ocidental. Veja outros livros aqui. André está fazendo filmes para teleSUR e Al-Mayadeen. Assista a Ruanda Gambit, seu documentário inovador sobre o Ruanda e a República Democrática do Congo. Depois de ter vivido na América Latina, África e Oceânia, Vltchek atualmente reside na Ásia Oriental e no Médio Oriente, e continua a trabalhar em todo o mundo. Ele pode ser contactado através do seu website e pelo Twitter.


Original aqui

 

18 pensamentos sobre “Agora só o pensamento racional pode salvar o mundo!

  1. Pois é, meu caro amigo Estátua, é assim que está o planeta Terra: à beira do colapso!
    E porquê?
    O meu amigo não sabe?…
    E os escribas da côrte não sabem?…sei lá quantos e quantas, e quais, mas lembro alguns nomes que também por aqui, na Estatuadesal, têm “passado”:
    O Pacheco, o Daniel, a Clara, o Louçã, o Nicolau, e tantos outros…
    … e dos comentadores de serviço que por aí vão ganhando a vida, também eles e elas ao serviço do capitalismo (o tal sistema que parece não existir e onde só se fala/evacua de “liberdade” e de “democracia”, se dizem e defendem os mais abjectos raciocínios para iludir/alienar o Zépovinho votante que, de 4 em 4 anos é chamado a votar e vota em gentalha como passos coelho e paulo portas, ou em cavaco silva, tal como votou em eanes, soares e quejandos, os quais, a sós ou em coligações, sempre foram garantindo o “arco da governabilidade” e, a partir do 25.11.1975, travaram a Revolução de ABRIL que o Povo vinha impondo na prática, nas ruas, nas escolas, nos campos, nas fábricas, nos quartéis, nos Governos Provisórios do Vasco Gonçalves, designadamente depois de descoberta a careca do alucinado spínola na intentona do 28 de Setembro e mais tarde no 11.03.1975), destacando-se na rádio pública (a única que ainda vou abrindo para saber das previsões meteorológicas) figuras como um tal raul vaz, uma helena garrido, uma helena matos, um rui ramos, etc., quase todos doutores e até investigadores e professores e etc. porque isto dos títulos académicos ainda vai dando junto do Zé!…
    Que outro corolário se podeeria ou pode esperar, meu caro amigo Estátua?…
    Quantas vezes é preciso repetir que tudo isto é fruto e o corolário lógico e natural da existência deste hediondo sistema capitalista, que há mais de 400 anos invadiu, ocupou, explorou, desrespeitou, roubou, escravizou, deportou, vexou, matou, dizimou, fez duas guerras mundiais e tantas outras regionais matando milhões de inocentes, provocou duas grandes crises económicas onde morreram milhões de fome e miséria, tendo saído da de 1929 graças ao Keynes mas da de 2007/2008 ainda não saiu nem sabe quando sairá se é que vai sair, e tudo isto para que, como já quase todos sabemos, 1% da população terrena detenha tanta riqueza fruto do trabalho, quanta a detida pelos outros 99%, ou que as 7 (sete) famílias mais ricas controlam 50% da riqueza criada!…
    Quantas vezes eu já aqui referi estas amargas verdades?…
    Quantas vezes eu já citei a Rosa Luxemburgo na sua tão acertiva quanto simples conclusão de que: SOCIALISMO OU BARBÁRIE!?!?!…
    Mas, quem sou eu, não é verdade?!?!…meu caro amigo Estátua?!?!…
    Naturalmente que não sou um Andre Vltchek, infelizmente para mim, pois não passo de um pobre e orgulhoso anticapitalista INCORRIGÍVEL de que muito me prezo!…
    Porém, não fico minimamente admirado com este tipo de textos. E muito menos sinto, ao lê-los, o seu [desconforto e desassossego].
    É verdade que, como o amigo Estátua diz:
    [O planeta está desmoronar-se e nada vemos, o mundo oscila à beira do abismo, preso mais por humores do que por arames. A fragilidade por destino. E continuamos alheios e encerrados no pequeno mundo que nos coube em sorte. Confortáveis uns, outros menos. Contudo, todos no mesmo barco.],
    se bem que eu vejo e sinto tudo isso mas não continuo alheio e se mais “não saio deste pequeno mundo” será porque não disponho de outros instrumentos (tal como o Andre Vltchek dispõe, por exemplo) para além da escrita e da fala!…
    Mas, com a devida vénia, permita-me que discorde das suas expressões:
    “A fragilidade por destino.” e o mundo
    “…que nos coube em sorte”!
    É que eu, felizmente, não sou fatalista! Apraz-me mais procurar lidar com as probabilidades que a vida no dia-a-dia me disponibiliza e, dentro do possível, jogar com elas, tendo sempre presente os outros seres humanos, e cada vez mais me sinto isolado na luta contra a miséria, a pobreza e a fome que são, para além de injustas e irracionais, infelizmente a causa de morte de milhões de crianças (e de adultos naturalmente), pois continuo a basear o meu espírito de fidelidade aos outros seres humanos, ou à humanidade para citar Andre Vltchek, em deveres e sentimentos e JAMAIS em interesses materiais ou ideias.
    Por isso, também, meu caro amigo Estátua, depois de ler o texto por duas vezes (e vou partilhar até que a voz me doa), NÃO ME ASSALTOU A AMARGURA!…sou pragmático o qb para lidar com a realidade e estou SEMPRE disponível para aquele sábio ensinamento de que:
    “…o que é necessário é modificar/transformar o mundo” e não apenas interpretá-lo ou descrevê-lo!…

    PÁSCOA FELIZ com muitas amêndoas e ovos, mas com mais artigos destes…
    Aquele abraço.

    • OK. Plenamente de acordo. Vamos transformar e não apenas diagnosticar. Talvez seja altura de pensar como, de que maneira(s), em que direcção, para chegar aonde…? Os anti-sistema têm de sentar-se à mesa e discutir isto. E ainda não o fizeram. Estamos à espera de quê? Soluções precisam-se.
      A maioria dos contributos procuram tentar (inutilmente) salvar o sistema dele próprio, dos seus eventuais excessos, como se esses “excessos” não constituissem o cerne do próprio sistema.
      Se não formos nós a trabalhar as soluções, quem o fará? Os economistas mainstream?
      Não esbanjámos……….Não pagamos!!!!!!!!!!!!!

      • Meu caro joseliveira,
        Vamos a isso, e creia que é muito fácil, na medida em que basta recapitular porque já tudo foi dito, enunciado e esclarecido, é desde há dezenas de anos, porque Marx, como ninguém, se entregou ao estudo, análise e profundas investigações e, porque não era nenhum débil mental, enunciou as principais leis do funcionamento do capitalismo e retirou fundamentadas conclusões que, pelo menos para mim – como, por ventura teria sido já para o Jesus de Nazaré (mais conhecido por Cristo), e também para o actual Chefe da Igreja Católica Apostólica Romana – são a prova provada de que o imperialismo, enquanto fase suprema do capitalismo, levou à idolatria do deus dinheiro valendo tudo, até tirar vidas quanto mais olhos. Vejamos, então, por exemplo, o que diz o Papa Francisco:
        Por prudência, começa por chamar-lhe outra coisa – «sistema mundial a nível económico» -, mas lá vai denunciando que é um «sistema económico que … já não se sustém». E também constata ser um sistema que:
        – «para se manter e equilibrar, tem de fazer uma guerra»,
        – «descarta as crianças, descarta os velhos, descarta os jovens»;
        – só na Europa já fez «75 milhões de desempregados com menos de 25 anos»;
        – fala ainda em EGOÍSTAS, quando se refere às »…pessoas que, podendo fazê-lo, não se empenham na política em prol do bem comum»;
        – mas, com todas as letras, afirma que «… as pessoas que usam a política “para proveito próprio” são CORRUPTAS».
        Perante tudo isto, meu caro joseliveira, é capaz de adivinhar a que sistema económico o referido Pontífice se refere numa entrevista que, em 24/12/2014, deu a uma estação de TV lusa que, logo por coincidência, é comandada por um outro Francisco – que, por sinal, também já foi um político militante, ou seja, é uma daquelas pessoas que, “podendo fazê-lo”, quem sabe, “não se empenhou na política em prol do bem comum”, ou, mais grave ainda, quem sabe também, teria “usado a política para proveito próprio?!?!?!???…
        Mas, meu caro joseliveira, e parafraseando o meu pré claro ilustre amigo Estatuadesal – »…mas só excepcionalmente David ganha a Golias. E a nossa fisga é mesmo pequena – para abreviar as (suas9 «Soluções precisam-se.», bem como para o também seu «Talvez seja altura de pensar como, de que maneira(s), em que direcção, para chegar aonde…? Os anti-sistema têm de sentar-se à mesa e discutir isto. E ainda não o fizeram. Estamos à espera de quê?», permita-me que apresente uma (tão modesta como eu) solução/sugestão que, ouso supor, não carece de muita análise nem muito trabalho e tempo, mas pode responder cabalmente ao que o meu amigo parece estar disponível para ajudar a empreender, visando o tão famoso quanto necessário e desejado desiderato para salvar a humanidade:
        QUE SE RESTAURE INTEGRALMENTE A CONSTITUIÃO DA REPÚBLICA PORTUGURESA PROMULGADA EM 1976, E SE PONHAM EM PRÁTICA TODOS OS ARTIGOS NELA CONSAGRADOS!!!!!….
        Mas, obviamente, com uma condição: MORTE AOS TRAIDORES, sem contemplações!….
        O que acha da ideia, prezado joseliveira??????….

      • Como se depreende, concordo inteiramente consigo, amigo anti-capitalista. Mas não me parece que a simples limpeza de uns tantos aparatchiks resolveria seja o que for, embora muito desejável. Creio que o problema não pode ser encarado de modo pessoal, porque é muito mais profundo e sistemático do que mudar certas pessoas. Como bem disse o Papa, o sistema é que temos de mudar, o paradigma, o objectivo da sociedade. Marx já então assinalava que a “mercadoria” era a célula-base do sistema e considerava até que essa constatação seria a sua maior descoberta. As categorias associadas do “dinheiro, valor e trabalho” completam os pilares da arquitectura que precisamos reestruturar inteiramente.
        Quanto à Constituição, tb penso que deve ser mais aperfeiçoada e com mais ênfase na cidadania e nos Direitos Humanos.
        O programa do candidato francês Melenchon em 10 pontos, parece-me ser um excelente ponto de partida e está a ter um crescente apoio eleitoral…dizem.
        Abraço

  2. Haverá aí muita gente – espero eu que sou um optimista – que dirá «nestas circunstâncias e considerando “tudo e mais alguma coisa”, “pensamento racional” é uma análise sistémica de inspiração marxista»… É verdade que os engenheiros romanos – mas não só – fizeram pontes e aquedutos sem cuidarem muito de uma teoria da gravitação universal…

  3. O pretensiosismo do autor lembra-me aquela citação a propósito de alguém, penso que Sartre, de quem se dizia que amava a humanidade, mas que não mostrava grande amor pelos homens. Estamos conversados no que diz respeito ao uso de todos os meios. É precisamente este o raciocínio que se utiliza para justificar a repressão dos direitos dos indivíduos, entre outros lugares em Cuba, sempre em nome da liberdade coletiva face ao ‘imperialismo’. Eu gosto muito do capitalismo liberal ocidental porque ainda não conheci nenhum outro sistema que me garante que não morro ou desapareço só porque escrevo estas linhas. Chamem-me egoísta… Como sempre, os Marxistas de turno, face à mais recente crise, rapam da cartilha e toca de nos quererem salvar a todos. Meus senhores, façam-nos um favor, olhem para a falência das vossas experiências históricas passadas e mostrem pelo menos um pouco de modéstia quando desejam criticar. E, a propósito de racionalidade, dizia alguém que a sua negação é aplicar consistentemente a mesma receita e esperar resultados diferentes…

    • O Jaime diz gostar muito do capitalismo neoliberal ocidental. Está no seu direito. Creio que se vivesse no Médio Oriente, talvez pensasse de outro modo. Mas já que gosta tanto do monstro e detesta tanto o Karl, talvez porque como ninguém o desmontou ponto por ponto, pedia-lhe que nos esclarecesse ” sem pretensiosismo” qual a solução que o seu querido sistema tem para os problemas do mundo de hoje: guerra imperialista, desigualdade, destruição ambiental, crises…etc.
      Vá, amigo Jaime. Rape lá da sua cartilha, tipo Consenso de Washington, e esclareça a nossa obscuridade.

    • O grande «drama» do capitalismo (liberal ou autoritário) é que não pode deixar de crescer… Se usarmos a metáfora da Biologia, é um pouco como as «crias» (humanas ou de outras espécies); «está no código genético».
      O problema é que quando se cresce também se alteram as «coisas»… E se é verdade que a adolescência e idade jovem do capitalismo (liberal ou outro…) foi (ou tem sido) esplendoroso (trouxe-nos onde nos trouxe…) a partir de certa altura do seu crescimento – como acontece com outros sistemas orgânicos – as coisas começam a degradar-se… É assim como uma espécie de Alzheimer, (ou melhor ainda, dizem os entendidos, o cancro da próstata no caso do homens…) – mais tarde ou mais cedo ninguém escapa. Mas há quem pense que isso da degradação do sistema só acontece aos outros.
      Quanto a «soluções» (ou «curas para a degradação»…) confeso que deixo ao critério dos cidadãos esclarecidos… Mas aconselho todos a estudar… Estudar sempre…

    • Meu caro. A nossa janela de vida sobre a História é muito curta. Na Idade Média também houve muitos (e eruditos do tempo) que falavam do feudalismo da mesma forma que você fala hoje do capitalismo “liberal”, e que é cada vez menos “liberal” se é que alguma vez o foi. Nada é eterno, nem os diamantes, e o “mundo é composto de mudança”…. Podemos adiar a morte recorrendo a cuidados paliativos, como sabe. Mas há um momento, a partir do qual, não há paliativos que nos salvem. Nunca sabemos qual é esse momento. Mas nem os crentes mais crentes acham que ele não virá nunca.

    • Porque tenho o Karl Marx como meu 3° e ultimo filósofo inspirador,
      [o 1° foi o meu querido Afonso, saudoso velhote e meu pai, que nasceu em 1900, analfabeto, rude, provinciano, ribatejano de gema que também me ensinou a chamar os bois pelos nomes (jamais se refugiando nos “dizia alguém”, por exemplo), trabalhador agrícola por conta d’outrém, que ajudou na minha concepção e depois me criou e formou enquanto o seu sexto filho (e último, porque a minha querida Maria, saudosa velhota e minha mãe, nascida em 1906, depois de me ter parido em 1944, logo entrou na menopausa), mas que foi um homem impoluto, sério, honesto, honrado e trabalhador; e o 2° foi o Jesus, o Jesus de Nazaré, a quem, oportunisticmente, apelidaram de Cristo (tantos anos depois de ele ter nascido e até depois de as elites exploradoras – os capitalistas de então – o terem mandado matar, quando, como muitos sabemos e os interessados podem confirmar, ao tempo, não se usavam apelidos), de quem bebi, sofregamente, a essência da sua doutrina e que sempre me esforço por praticar todos os dias, seguindo os ensinamentos e, tal qual ele, colocando-me ao lado dos mais fracos/explorados, os trabalhadores, e sempre contra os fortes/exploradores, os capitalistas e seus lacaios, de qualquer ponto cardeal],
      cumpre-me dizer ao Sr. Jaime Santos que sim, eu enfio a carapuça de me reclamar do marxismo, sem maiúscula, se bem que não sou de qualquer “turno”, como, desbocada e maliciosamente, V. Exa. pretende insinuar (se é que a mim se dirigia com esse piropo), muito menos tenho cartilhas para “rapar”, e não tenho qualquer intenção de “salvar a todos”, pelo que, fique sabendo, se, e quando, esse momento chegar, ambos ainda por aqui andarmos, não deve contar comigo, pois, tenho a certeza, estaremos em lados opostos na “barricada”. E tudo isto é assim porque, felizmente, ainda penso pela minha cabeça, como sempre pensei desde que estudei Marx, assim como tenho por hábito transmitir o que, livremente, me vai no pensamento, quer em tempo de crises ou fora delas!
      Deste modo, também não resisto a dizer a V. Exa. que, associar o marxismo, enquanto teoria política e económica, ao que se passou naquilo a que, descabeladamente, V. Exa. designa por “falência das vossas experiências históricas passadas”, é cair no ridículo, é usar de má-fé (ou, eventualmente, de ignorância – antes fosse – se bem que, também como aprendi com Marx, 《a ignorância não é argumento》, muito embora, como também aprendi na Universidade, com um professor brasileiro, 《todo o mundo tem direito a dizer besteira》) e é, como qualquer capitalista/liberal (ocidental ou outro, na medida em que esse hediondo sistema é igual em todo o lado como o demonstram os mais de 400 anos de formação e vigência macabras), vender, na forma tentada, gato por lebre, tentando alienar o Zépovinho votante e pagante.
      Finalmente, agora a outro nivel, dizer-lhe, Sr. Jaime, que gostei dessa sua “coisa” das “experiências históricas passadas”. É que, para lá do que já escrevi antes, é uma frase bué da fixe, tem muita pinta e, por consequência, é bastante reveladora da “praia” em em que V. Exa. se:
      banha;
      sente bem; e
      masturba intelectualmente!…
      … à boa maneira dos capitalistas liberais ocidentais em que se podem rever um outro qualquer dos da família dos cavacos&passos&portas&gaspares&relvas&macedos&de albuquerques&montenegros&cia, enfim, em síntese: a lusa família dos pafistas pafiosos e saudosistas, ainda ressabiados!…

      • Acresce a tudo isso que, no comentário do anticapitalista em resposta às interrogações do José Oliveira, a solução sugerida para Portugal, era tão só e apenas, cito:

        《QUE SE RESTAURE INTEGRALMENTE A CONSTITUIÃO DA REPÚBLICA PORTUGURESA PROMULGADA EM 1976, E SE PONHAM EM PRÁTICA TODOS OS ARTIGOS NELA CONSAGRADOS!!!!!….
        Mas, obviamente, com uma condição: MORTE AOS TRAIDORES, sem contemplações!….
        O que acha da ideia, prezado joseliveira??????….》
        Será isto rapar da cartilha marxista????….

        • Naturalmente que a constituição pode ser um excelente ponto de referência, mas creio ser fundamental ir bem mais longe, até porque aquele documento está datado e corresponde a uma realidade entretanto substancialmente alterada. As questões que hoje se colocam têm de ser equacionadas de um ponto de vista muito mais global do que então, isto sem descurar evidentemente os níveis local e nacional. O inimigo sabe disso muito bem e procede desse modo. Logo, a nossa resposta e posicionamento tem de ser o de elevar a fasquia e a luta ao mais elevado nível global. É exactamente isso que já está a acontecer neste momento (Treaty Innicitive, MIC, etc.), mas precisa ser potenciado.
          José Oliveira

  4. Amigo Stater, as suas sábias palavras são sempre um guia precioso. Deixe-me só acrescentar um detalhe que me parece essencial. O crescimento infinito só pode ser um suicídio, pois nada há de infinito neste mundo, nem o espaço, nem os recursos, nem o clima, nem nada. Exactamente por terem consciência disso, as elites tentam sempre criar mecanismos tendentes a manter o rumo, a inviabilizar ou impedir alternativas e a cristalizar as situações. Aí, os tratados internacionais, desde o TTIP ao CETA e TISA, passando pelos tratados de fundação da UE cumprem exemplarmente esse papel. Creio que é aí que temos de bater….
    Abraço

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