Agarrem-me senão eu mato-o

(Por Estátua de Sal, 10/04/2017)

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Quando o paspalho do EuroGrupo, o tal holandês Dijsselbloem, nos veio acusar de vivermos na estroina à custa dos países do norte da Europa, esbanjando os euros em copos e mulheres, houve um clamor nacional a percorrer o país, que passou e fez eco na Assembleia da República, na Presidência da República, tendo o Primeiro-Ministro, António Costa apontado por várias vezes ao personagem a porta da demissão.

Esperava-se, portanto, que Portugal, aquando da primeira reunião pós declarações do cavalheiro, pedisse formalmente a demissão do dito, no sítio próprio. Ora, o que se passou foi uma caricatura de mau gosto que só nos pode envergonhar enquanto país. O secretário das Finanças, Marinho Félix, dirigiu-se ao holandês exigindo-lhe a apresentação de desculpas. O holandês, sobranceiro e arrogante, retorquiu que nós é que lhe devíamos um pedido de desculpas! E a coisa ficou-se por aí. Entretanto, o ministro alemão, Schauble, veio dizer não ter visto razão para que alguém se sentisse ofendido, ele não viu ofensa em lado algum, os trabalhos deveriam continuar a tratar de coisas sérias e ponto final.

Meu caro António Costa, entradas de leão, saídas de sendeiro. Se era para Portugal fazer a figura de corno manso, mais valia teres assobiado para o ar quando o holandês falou e ficado calado, ou pelo menos desvalorizado a afronta. Era mais que sabido que o Schauble não ia permitir que o seu pupilo fosse afastado de funções por ter sido porta-voz daquilo que o mestre e senhor pensa mas não pode dizer com tanta ligeireza. Foste demasiado precipitado, levaste o país a fazer uma figura ridícula e pouco credível.

Mas, o mais grave até nem é isso. Este caso é paradigmático e exemplar. Se nem num dossier folclórico – ainda que importante porque da esfera do nosso brio e amor-próprio enquanto Nação -, o país é capaz de bater o pé à Europa e fazer valer a unanimidade nacional que se gerou contra o biltre do Dijsselbloem, como é que em dossiers mais decisivos, e sem um consenso tão alargado como neste caso, o poderemos alguma vez vir a fazer? Afinal, que consequências haveria se, firme e formalmente, pedíssemos, no EuroGrupo a demissão do biltre? O pior que nos poderia acontecer seria o tipo manter-se no lugar por ficarmos isolados na exigência e perdermos a votação por 18-1. Ainda que eu ache que a derrota não seria tão expressiva já que contaríamos, pelo menos, com a abstenção da Espanha e da Itália, também atingidas pelas declarações do paspalho.

Mas perder uma votação não seria perder a honra nacional, o que eu acho que acabou por acontecer, de tal forma que o paspalho, ufano e sobranceiro, acaba por vir hoje dar outra entrevista em que se dá ao luxo de vir dizer que Portugal não queria “realmente” a demissão dele. (Ver aqui).

A situação do país, a discussão das regras do Euro, a questão da nossa dívida e dos limites para o déficit alguma vez terão que ser discutidas e colocadas sobre a mesa, quer internamente, quer na Europa.

Meu caro António Costa, sei que só consideras ser possível essa discussão no quadro europeu, e quando existirem condições políticas alargadas que o permitam e, nesse sentido, tanto poderemos ser esperançosos e otimistas como lúgubres e céticos. Eu sou mais deste último pelotão. Poderemos estar à espera de condições políticas que só surgirão num prazo tão longo que, entrementes, o doente morreu devido ao excesso de cuidados paliativos.

E mais te digo. Quando desembainhares a espada deve ser para a usar e não só para lhe polires o gume. É que, espada que não é usada acaba sempre por enferrujar. Por muito polimento que se lhe dê.

 

Um pensamento sobre “Agarrem-me senão eu mato-o

  1. Esperem uns dias , Em França vai-se a votos, se Mélenchon gahnar, vão ter um apoio firme deste lado e muitas coisas poderão mudar!

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