Os DDT (deuses disto tudo)

(In Blog O Jumento, 31/03/2017)
banqueiros
Até há uma década os modelos de virtudes eram os administradores dos bancos que em Portugal os jornalistas gostam de designar por “banqueiros”. Ainda hoje vemos alguns banqueiros pavonearem-se pelos corredores, como se fossem espécimes especiais; recentemente um tal Domingues, licenciado na escola do MRPP, exibia um ar de quem está alguns palmos acima do cidadão comum.
As empresas mais modernas eram os Bancos, o setor que mais motivos de orgulho dava ao país era o bancário, as grandes vedetas de jornais como o Expresso eram os banqueiros; até o Oliveira e Costa teve direito a capa da revista do Expresso, os administradores mais bem pagos e com prémios mais chorudos eram os dos Bancos, as empresas que mais valorizavam na bolsa eram os bancos, as personalidades mais ouvidas pelos políticos eram os administradores dos bancos.
Os nossos “banqueiros” até tinham tiques que lhes eram comuns; andavam com ar pesaroso, falavam devagarinho como se todos andássemos na terceira classe, faziam afirmações como se fossem definitivas, falavam das soluções para os problemas do país como se fossem sábios insubstituíveis. Os jornalistas entrevistavam-nos com ar de caniches bajuladores, os políticos questionavam-nos sobre nomes para ministérios, os ministros das Finanças comportavam-se como o preto da Casa Africana.
De um dia ara o outro o país viu que, afinal, o mundo da banca estava falido, que os magos da gestão não passavam de oportunistas e que os tais banqueiros não passavam de gestores de honestidade duvidosa. O preço está à vista, o BES faliu, o BPI borregou, o BANIF desapareceu, e a CGD ia indo pelo mesmo caminho. Quis o destino que fosse o último banco a ficar na corda bamba.
O facto de a próxima vítima ser o Montepio tem muito de simbólico, se dantes as vedetas da nação, os Ronaldos e Amálias da economia eram os tais “banqueiros”, agora promovidos a predadores incompetentes, as novas vedetas do país são os senhores da “economia social”. Se na banca era o Ricardo Salgado o DDT e por isso escolhia ministros, no mundo da economia social temos um franciscano que, graças ao seu poder divino, escolhe primeiros-ministros e presidentes da República. O destino tem destas coisas, de entre os muitos cargos dignos do seu hábito castanho um deles foi o de presidente do Montepio.
Os banqueiros escolhiam políticos e governantes e nesse papel têm vindo a ser substituídos pelos discretos patrões da economia social. Os primeiros financiavam os partidos, os segundos coagem centenas de milhares de velhinhos a votarem nos seus políticos preferidos. É por isso que alguns políticos fazem metade das suas campanhas eleitorais em lares da economia social. Veja-se, por exemplo, onde anda a Assunção Cristas a fazer comícios e a distribuir beijinhos.
Os banqueiros eram gente acima de qualquer suspeita, eram sempre competentes e tinham um regulador a vigiá-los. Os da economia social estão igualmente acima de qualquer suspeitas, são voluntários, muitos fazem votos de franciscanismo, são exemplos de bondade e caridade e respondem perante Deus, uma entidade que ao contrário de Carlos Costa, não dorme, está sempre de olhos abertos e é muito dado a castigar todos os pecadores.
Esperemos que a próxima grande crise não seja provocada por estas almas caridosas e que os próximos políticos corruptos não sejam escolhidos pelos novos DDT, os deuses disto tudo.

Um pensamento sobre “Os DDT (deuses disto tudo)

  1. Pois é. E agora…que fazer perante esta salganhada de grupos de (des)interesses?
    Mundo de merda este. Não é de nossa exclusividade!….É igual no mundo todo

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