Havia a princesa do povo. Nós temos o príncipe do povo.

(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 10/03/2017)

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Bom dia. Este é o seu Expresso Curto. O dia está lindo, o céu azul, o sol brilhante. O país vai bem para o primeiro-ministro e mal para o líder da oposição. E temos um Presidente da República que congrega multidões à sua volta sempre que sai à rua e que está como peixe na água entre os seus súbditos.

Ontem, para assinalar o primeiro ano do seu mandato, esteve no Liceu Pedro Nunes, onde centenas de alunos o ouviram durante duas horas e lhe fizeram numerosas perguntas. Depois foi vender a revista Cais – conseguiu passar 30 exemplares – e almoçou sandes e refrigerantes com os dois sem-abrigo que tinham essa função. E foi a uma farmácia. O aparato era tanto que um homem que passou fez a comparação definitiva: “É como a Princesa Diana. É o príncipe do povo”, conta a Raquel Albuquerque na excelente reportagem que fez para o Expresso Diário. E não se esqueceu de condecorar as duas anteriores primeiras damas, Maria José Rita e Maria Cavaco Silva.

Contudo, debaixo da sua imensa simpatia e afabilidade, esconde-se (e quem se lembra das suas análises dominicais na TVI sabe isso muito bem) um Hamlet: “Serei cruel mas não desnaturado. Que da minha boca saiam punhais, mas que as minhas mãos não empreguem nenhum”.

Nos últimos dias, da boca de Marcelo Rebelo de Sousa tem saído vários punhais. Para a direção do PSD que fala num país crispado, o Presidente diz que não há qualquer crispação. “As pessoas estão com confiança, com boa disposição, com espírito positivo”, disse. Para Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas, que afirmou que se podia falar quase num milagre em relação à evolução das contas públicas, respondeu dizendo que milagres só o de Fátima. Para os que desvalorizam os resultados económicos, prefere olhar para o copo meio cheio e falar dos indicadores positivos. Para os que queriam novas eleições, diz que o país precisa de estabilidade. São punhais atrás de punhais. E todos, ou quase todos, para a sua família política – ou, pelo menos, para a atual direção do PSD. Marcelo paga assim aquilo que Passos Coelho lhe fez quando, ao definir o candidato a Belém que o PSD apoiaria, excluiu quem se portasse como “um cata-vento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político“.

E como não dá ponto sem dó, o Presidente, que disse que não se candidatava e se candidatou, e que disse que só faria um mandato, anunciou ontem que no Verão de 2020 logo decide se se recandidata ou não: “Se eu sentir que tenho o mesmo dever de consciência de ser candidato que tive quando fui candidato há um ano e meio, eu sou candidato outra vez. Se eu sentir que não tenho esse dever de consciência, porque o país está numa situação tal em que há outras hipóteses tão boas ou melhores do que eu, não há o dever estrito de ser candidato, eu não sou candidato”.

Quem se desfaz em elogios é o primeiro-ministro, que felicitou o Presidente da República pelo seu primeiro ano de mandato, sublinhando que este foi “um ano exemplar de cooperação entre os órgãos de soberania”. Frisou ainda o contributo de Marcelo Rebelo de Sousa para o clima de paz social que se vive em Portugal, desejando-lhe “os maiores sucessos na continuação deste seu mandato”. Não contente, colocou uma imagem no tweeter, em que está a segurar um chapéu de chuva para Marcelo, nos arredores de Paris, enquanto este discurso na Festa da Rádio Alfa a 12 de junho, no âmbito do Dia de Portugal. Em contrapartida, o Presidente tem segurado várias vezes o chapéu de chuva para abrigar o Governo das críticas violentas da oposição de direita.

Conclusão: se há crispação não é entre o Presidente social-democrata e o primeiro-ministro socialista, por muito que isso custe a Pedro Passos Coelho, Luís Montenegro ou Luís Marques Guedes, que querem manifestamente fazer da “crispação” e da “asfixia democrática” um cavalo de batalha, embora sem grandes factos que sustentem a estratégia.

4 pensamentos sobre “Havia a princesa do povo. Nós temos o príncipe do povo.

  1. PASSOS E CRISTAS VÃO NÚS! 🙂
    Passos e Cristas têm seguido uma estratégia de ataque invertido, no sentido em que se fazem vítimas daquilo que eles próprios estão a fazer mas querendo passar á opinião pública que são os outros os culpados! Se a economia está no bom caminho do crescimento económico , do défice e da recuperação do emprego, espalham na opinião pública que isso é mentira do Governo e ao mesmo tempo atacam a legitimidade democrática do poder da maioria que governa fazendo crer que eles é que teriam direito a governar, …, em minoria! É aí que entra Marcelo o qual relembra com toda a calma a realidade real dos factos anulando o bleuf de Passos e Cristas , e desmascarando na opinião pública o bleuf do ataque invertido de Passos e Cristas na sua verdadeira dimensão: mero ressabiamento descontrolado de quem não sabe como travar o sucesso da governação do atual governo apoiado pela atual maioria!

  2. Mantenho a minha opinião sobre Marcelo Sousa:
    É um Aníbal Silva na versão simpática, pragmática e inteligente, não caldeado no fétido rancor do aborígene do barrocal algarvio.

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