(Por Estátua de Sal, 04/03/2017)
Depois de uma semana inteira em que meteu férias e ninguém o viu em frente às câmaras a botar opinião sobre qualquer tema da agenda mediática e muito menos sobre o caso dos dez mil milhões voadores, Passos Coelho decidiu hoje sair da toca, qual bom láparo que é a precisar de caules tenros. E lá saiu. E ao que parece – que grande coincidência -, só o fez porque Rui Rio saiu a terreiro a lamentar que Passos deixe o PSD ser arrastado para um caso em que o CDS e Núncio são os actores principais. (Ver artigo aqui)
O mais caricato é que saiu, não para criticar o governo em funções, não para acicatar Costa ou para morder em Centeno. Não, saiu para criticar o governo do qual foi chefe, e a decisão do seu secretário de Estado, Paulo Núncio, de não publicar a lista de transferências para offshores. Haja desfaçatez. Ou seja, Passos fala da decisão de Núncio, como se este estivesse em auto-gestão na sua secretaria e que ele, Coelho, não tivesse nada a ver com o assunto.
Se calhar até era verdade. Assim sendo, ficámos a saber que no tempo da governação pafiosa, os ministérios e as secretarias de Estado eram uma espécie de coutadas independentes que se distribuíram entre a comandita do PSD e do CDS e que mantinham perfeita e completa autonomia decisória. Tudo em nome da irrevogabilidade. Quer dizer, o PSD tinha o governo da Educação, o CDS o da Agricultura. O PSD tinha o Governo das finanças externas para negociar com o Schauble, o CDS tinha as finanças internas, o governo dos impostos, quer no que toca aos que cobrava quer àqueles que decidia deixar fugir e a que entidades a quem os podia isentar ou minorar. E se o Passos não quisesse que fosse assim e se armasse em macho, o Portas, qual donzela esquiva, amuaria e bateria com a porta.
Passos vem agora criticar Núncio, e dizer que a decisão dele foi errada e que é a favor de toda a transparência. Mas este tipo não tem vergonha? Se defende tanta transparência porque não impôs que Núncio publicasse as estatísticas no tempo em que o podia fazer, sendo chefe do Governo? Porque não respondeu ou fez responder a Ministra das Finanças aos pedidos de informação sobre as saídas para offshores, que os deputados do PCP pediram por seis vezes, sem nunca terem tido resposta? Nessa altura não era a favor da transparência?
E mais. Vem defender que se altere a lei para que a publicação das estatísticas seja obrigatória e não dependente dos secretários de estado ou dos ministros de cada ocasião. Quer dizer, para Passos, o mal esteve em não haver uma lei que obrigasse Núncio a publicar, porque ele, Passos, enquanto chefe do governo, e chefe de Núncio, não tinha poder para o fazer!
Portanto, se ainda não sabíamos o que foi o governo pafioso e como funcionava, ficámos depois destas declarações sobejamente esclarecidos. Era uma espécie de liga de clubes de futebol, degladiando-se cada um dos associados pela captura das receitas de publicidade das camisolas do vizinho do lado, e onde o chairman, o Passos, treinador sem equipa, era apenas o porta-voz para a imprensa.
Agora só falta que o seja de novo candidato a PM. O descontrole que nos deixou é abismal se acrescermos a CGD e outros.
A alteração de paradigma ainda não foi digerida… Alteração no melhor sentido…
Mas ele estava lá para governar, ni bom sentido do termo????
Algum capitalista ou defensor do capitalismo governa bem?
Onde?
Quando?
Quem?
Onde é que há paz social continuada?
Onde é que não há miséria, pobreza, fome e desemprego?
Onde é que os mecanismos económicos funcionam sem ser na dependência dos famigerados mercados?
Onde é que há políticos sérios e honestos?
Onde é que os media não estão vendidos e ao serviço do capital?
Onde é que o Povo se sente verdadeiramente representado e elege quem defende os seus interesses e necessidades básicas?
Onde é que há segurança no emprego?
Enfim, onde é que o homem vive à imagem da sua racionalidade enquanto o único ser vivo no planeta Terra dotado de inteligência???
Dão-se alvíssaras a quem responder….
🙂