Algumas das minhas dúvidas ou certezas?) sobre o BES

(In Blog O Jumento, 11/01/2017)
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Talvez um dia o país saiba tudo sobre o BES. O que se passou na família Espírito Santo, as relações entre alguns membros da família e o primeiro-ministro, o papel do então primeiro-ministro na luta pelo poder entre Ricardo e Ricciardi, a resposta da Troika quando a situação do BES lhe foi colocada, o papel de Carlos Costa, um amigo da banca nomeado para um BdP, que vigiava a banca, por um amigo seu e da banca, o ministro das Finanças de Sócrates.
Talvez um dia saibamos o que perdeu o país para que o BES fosse destruído, o que se perdeu com a perda das empresas do GES, o que perdeu com a intervenção no BES, o que perdeu com os prejuízos que foram infligidos a muitos clientes do BES e parceiros das empresas do GES, o que perdeu com o desaparecimento de um banco que financiava muitas das PME.
Talvez um dia fiquemos a saber de quantos políticos chegaram ao poder com a ajuda financeira do BES, de quantos governantes e altos cargos do Estado empregaram os seus familiares e afilhados no universo empresarial do GES.
Sem sabermos de tudo isto nunca saberemos porque caiu um grande grupo empresarial português, nunca conseguiremos saber quanto custou ao país a forma descontraída com que Passos Coelho andou de chanatas na Praia da Manta Rota. Saberemos porque em vez de se equacionar uma solução para a sua sobrevivência, se optou por se perder muito mais para o destruir. Saberemos porque motivo Ricardo Salgado foi o mau, e Ricciardi não só foi o bom como foi premiado.
Tenho muitas dúvidas de que o governo não podia ter resolvido o problema do BES muito antes de deixar de haver solução. Tenho muitas dúvidas se o grupo teria sido destruído se José Maria Ricciardi, amigo do então primeiro-ministro, tivesse conquistado o poder no grupo. Tenho muitas dúvidas de que o governador do Banco de Portugal ou os banqueiros que o apoiam alguma vez tiveram como preocupação a continuação e sobrevivência do BES, por mais bom que seja ou tenha ficado depois da “desintoxicação”.salgado_rici
Quem ganhou ou vai ganhar com esta solução?
Vão ganhar os banqueiros que se livram daquele que era o mais dinâmico banco do nosso sistema financeiro, aqueles que por ocasião da resolução tudo fizeram para desnatar o banco, ficando-lhe com os melhores depositantes e os melhores clientes, aqueles bancos que estavam tão mal ou pior do que o BES e se salvaram escondendo-se atrás dele. Daqui a algum tempo os banqueiros do costume vão fazer eleger um primeiro-ministro amigo que em boa hora vai transferir os custos da banca com o processo para os contribuintes.
A banca tem muito a ganhar com uma solução em que o comprador fica com os negócios imobiliários e os bancos desastrados de Portugal dividem entre si os restos do cadáver, como se fossem hienas em torno de uma vítima. Os compradores ficam com o imobiliário, vendem as carteiras de encomendas à banca portuguesa e transferem o prejuízo para o Estado através das garantias. Mais tarde o Estado junta a este prejuízo o do Fundo de Resolução.
Foi para isto que o ex-membro do governo recebeu um balúrdio como caixeiro-viajante do Banco de Portugal, para vender o BES a qualquer preço, sem quaisquer garantias de futuro e, ainda por cima, com a garantia financeira do Estado?

3 pensamentos sobre “Algumas das minhas dúvidas ou certezas?) sobre o BES

  1. Quando ouvi o Governador do BdP na noite de 2 de agosto de 2014 a especificar o processo de resolução só uma ideia me veio à cabeça: nem o Vasco Gonçalves fez aquilo! Espero ainda ver aquilo que este artigo refere

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