Entrevista com Deus – balanço de 2016

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 30/12/2016)

quadros

Jornal de Negócios: Para fazer o habitual balanço do ano, que agora termina, temos connosco Deus. Olá, Deus. Como criador do universo, o que tem a dizer sobre o ano de 2016?
Deus: Se calhar, ainda é cedo para fazer balanços. Ainda faltam mais de 24 horas para acabar 2016, e ainda há tempo para levar mais uns quantos e causar mais uns estragos.
JN: Isso não é bom…

Deus: Pois não. 2016 é das minhas piores criações de sempre. Até me custa assinar esta obra. Correu tão mal que, por mim, desisto de fazer o próximo ano. Vou largar isto, de ser responsável pelo destino dos homens, e vou abrir uma loja no Chiado. Vai ser um pequeno paraíso no inferno que é a baixa de Lisboa.

JN: Mas… se Deus abandona o seu posto, quem é que fica responsável pelo universo?
Deus: Estava a pensar no Doutor António Costa.
JN: No nosso PM?!
Deus: Exactamente. A única coisa que correu bem este ano foi aquilo a que chamaram a Geringonça. Juntar PCP, BE e PS numa coligação é o equivalente ao big bang, e o homem deu conta daquilo. Além do mais, ele tem uma característica essencial para este trabalho: evitar que o Diabo apareça.
JN: Não fazia ideia que Deus estivesse tão atento ao que se passa no nosso país.
Deus: Isso é de uma ingratidão. Já se esqueceram que venceram o Euro 2016. Acha que aquilo aconteceu por acaso?
JN: Realmente, foi um milagre.
Deus: Pois. E não foi nada fácil. Deu mais trabalho fazer o Éder acertar aquele remate na baliza do que fazer a Luz.
JN: Hum…, desculpe a pergunta, mas se Deus pode fazer com que Portugal vença o Euro, porque não usou esse poder para evitar, por exemplo, a vitória de Trump?
Deus: Isso é uma pergunta complicada. Posso usar a ajuda do público?
JN: Não.
Deus: E ligar para um amigo?
JN: Também não.
Deus: Sabe que Deus escreve direito por linhas tortas. Mas tem de ser daqueles cadernos pautados, senão perco-me. Vou ser sincero. Nunca me passou pela cabeça que ele ganhasse. Eu guio-me muito pelas sondagens.
JN: Eu pensava que Deus era menos de sondagens e mais de “fia-te na Virgem”.
Deus: Também é preciso ter em conta que, quando eu criei o Trump, foi só porque queria experimentar o que se obtinha se misturasse um ser humano com uma delícia do mar. Quem diria que aquilo ia chegar a presidente dos EUA?! Eu já devia ter aprendido quando fiz a Margaret Thatcher e misturei uma costela de Adão com a parte de trás de um esquentador.
JN: Isso é tudo muito interessante, mas como justifica, por exemplo, a morte de David Bowie, Prince, Leonard Cohen e George Michael? Qual é a desculpa para uma brutalidade destas num ano?
Deus: Eu explico. Isso tem a ver com a tal ideia de abrir uma loja no Chiado. É uma loja de discos vinil. Estão de novo na moda e eu tenho todas as edições originais destes grandes artistas. E estou a guardar o falecimento do Mick Jagger para o dia da inauguração. Vai ser só facturar.


TOP 5

Fim de ano

1. Augusto Santos Silva, compara concertação social a feira de gado Filhos do embaixador do Iraque comparam Augusto Santos Silva a touro manso.

2. Presidência da República emite voto de pesar pela morte de George Michael Cavaco Silva já veio lamentar a morte de John Lennon.

3. Fernando Santos foi eleito o melhor seleccionador do mundo de 2016 pela IFFHS e festejou com o melhor bolo de chocolate do mundo e o melhor pastel de nata do mundo.

4. Críticos de Passos recolhem assinaturas para convocar congresso extraordinário. Já assinaram: Gaspar, Belchior e Baltazar.

5. Ministro dos Negócios estrangeiros pede desculpa por comparar concertação social a feira de gado: quem se mete com a CS (Concertação Social), leva.

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