Balanço dos líderes (4): Passos, à espera da gratidão e do fim

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 28/12/2016)

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                                  Daniel Oliveira

De poucas pessoas se pode dizer com tanta propriedade que são vítimas das suas circunstâncias. Não me refiro obviamente às responsabilidades que Passos teve enquanto primeiro-ministro. Foi dele a escolha de chumbar o PEC IV, acelerando uma crise política que obviamente foi determinante para o resgate. Foi dele a escolha de aproveitar a intervenção externa para impor um programa liberalizador que o país não aceitaria em circunstâncias normais, indo mesmo além da troika. Foi dele a escolha de não negociar com Bruxelas e usar Bruxelas como álibi para um processo de contrarreforma. Foi dele a escolha de fazer dos mais pobres as principais vítimas da austeridade e de juntar à austeridade insuportáveis sermões sobre a vida dos portugueses. É dele o liberalismo de lombada colado com cuspo e o voluntarismo revolucionário que não se importa de usar instituições internacionais e mercados como arma de chantagem sobre o país para impor as suas próprias convicções. Não lerão de mim uma palavra que menorize as suas responsabilidades. Nem de mim nem da maioria dos portugueses, que não só votaram noutros contra ele, tirando-lhe a maioria para governar, como têm no risco do seu regresso uma forte motivação para apoiar este governo. As circunstâncias de que falo são as atuais.

Aconteceu a Passos Coelho o que nunca acontecera a ninguém: liderar uma coligação que ficou em primeiro quando a maioria do Parlamento ficou no lado político oposto. Juntou-se a esta situação um líder do PS disponível para conversar com a esquerda – nesta parte, Passos tem a responsabilidade do seu radicalismo político ter unido a esquerda contra ele. O resultado é conhecido: pela primeira vez temos um líder da oposição que acabou de ser primeiro-ministro. E isto limita de forma determinante todo o comportamento de Passos Coelho.

Antes de tudo, há um fator psicológico que deve ser tido em conta: o cansaço do país. Uma parte substancial dos portugueses perdeu o emprego, passou enormes dificuldades e viu os seus filhos e familiares abandonar o país nos últimos anos. Sem culpa, por culpa própria ou por culpa partilhada, a figura de Passos Coelho está associada a este tempo. Ele achará que Portugal lhe deve gratidão. Eu não acho – pelo contrário, penso que Passos Coelho não teve qualquer sentido patriótico –, mas mesmo que achasse só me poderia espantar pela falta de lucidez de quem pensa que essa gratidão não precisa de distanciamento. E Passos está encalhado no seu próprio ressentimento. Julgando-se credor da gratidão do povo, não consegue sair de cena sem a ter recebido. E tem uma razão formal para não sair: não perdeu as eleições. Passos foi apanhado por acontecimentos extraordinários e não sabe como sair deste impasse.

Com a sua governação interrompida de forma pouco habitual, Passos Coelho precisa de um desfecho. E o desfecho que sonha é que se prove que ele tinha razão. De duas formas contraditórias, que ele vai verbalizando sem se aperceber do paradoxo: ou mostrando que este governo está a fazer o mesmo que ele fez, provando que não havia alternativa; ou mostrando que este governo está a fazer diferente e que isso nos levará para o abismo, provando que não havia alternativa. Já tentou casar as duas coisas, explicando que o Governo está a fazer o mesmo que ele mas que a falta de credibilidade o impedirá de ter os mesmos resultados, levando o país para o abismo e provando que não havia alternativa. Em qualquer um dos casos, Passos fica com um problema: o que tem para dizer é que as coisas vão correr mal. E que espera voltar ao Governo à custa da desgraça nacional. Com este guião, para além da figura de Passos estar associada a quatro anos de crise também está associada ao agoiro dessa crise agudizar. Alguém conhece um líder político capaz de mobilizar seja quem for andando com tão carregada nuvem negra sobre a sua cabeça?

Tudo em Passos é passado. Nada consegue dizer sobre o futuro porque ninguém o associa ao futuro. Mesmo os que o apreciam sabem que está a prazo e partirá brevemente. Uma despedida que terá hoje menos glória do que teria quando Costa tomou posse. Só que Passos cometeu o mesmo erro de cálculo da maioria dos analistas: achou que este governo duraria pouco.

Muitos avisaram: se a geringonça durasse mais do que um ano Passos Coelho não teria qualquer viabilidade como líder do PSD. Durou mais do que um ano e Passos tem os dias contados. Esperará pelas autárquicas, mas pela falta de empenho com que as está a preparar percebe-se que ele próprio sente que o seu tempo acabou. Este foi o ano da morte política de Pedro Passos Coelho. O próximo será o das exéquias.

5 pensamentos sobre “Balanço dos líderes (4): Passos, à espera da gratidão e do fim

  1. Ora aborde o assunto com uma certa seriedade.Imagine uma empresa falida,com dívidas por todos os lados,sem dinheiro ja para pagar aos seus empregados,sem fundos próprios nem possibilidade de recorrer a banca,se questiona como o gestor deve agir e que margens tem para prosseguir a sua função se é que pode fazer algo.Que trunfos ainda lhe restam?Os credores acreditam mesmo assim que a empresa é viável,que o gestor assim como o pessoal a trabalhar tem factores positivos,que os produtos fabricados tem procura e as suas margens de lucro poderá ser razoável..Se se apercebe que o factor de credeblidade externo lhe poderá ser razoável.Se os ordenados e salários forem reduzidos,será que consegue este gestor e o seu pessoal recuperar a mesma e em quanto tempo ,e que sacrifícios imputará ao pessoal.

  2. O comentário acima cai no erro crasso do costume: pensa que um País é semelhante a (e se gere da mesma forma que) uma empresa. Desde logo, uma empresa é uma ditadura benevolente, quando muito (a não ser que falemos de uma cooperativa industrial). O que não é sério é fazermos comparações espúrias… Quanto à suposta morte política de PPC, acredito nela quando o menino for recambiado para Massamá, onde depressa lhe arranjarão um tacho, talvez não tão glamoroso como o de Durão Barroso, mas ainda assim ninguém deverá sentir pena dele. Afinal, como dizia Gordon Brown, todas as carreiras políticas terminam em falhanço. Antes disso acontecer, não faço prognósticos…

    • O Tacho DO PASSOS JÁ ESTÁ PREPARADO VAI SER SOCO DO MIGUEL RELVAS NA EMPRESA DE CONSULTADORIA. O DIRCEU ESTÁ PRESO MAS TEM GRANDE PODER NA MASSA. Já estou a gozar a ver o governador do banco-de Portugal dar a licença ao Relvas para ser BANQUEIRO. , BANCO JÁ ELE TEM É O EFISA E MILHÕES TAMBÉM DEU-LHE O PASSOS QUANDO ERA 1º MINISTRO PARA CAPITALIZAR O BANCO. E depois com aquele ar de Anjinho, as pessoas pensam que ele é bom menino.
      O OVO DA SERPENTE dai nasceu PASSOS..

  3. “Foi dele a escolha de chumbar o PEC IV, acelerando uma crise política que obviamente foi determinante para o resgate.”
    Só uma nota para dar a minha versão acerca de quem foi o “pai” da deliberação do chumbo do PEC IV; o pai foi cavaco, guiado pelo ódio e ressentimento vingativo de baixíssima índole patriótica e só depois foi o “afilhado” passos pelo oportunismo de que todo o idiota joga a mão e sem o qual nunca vai além de ajudante de fiel de armazém quanto mais de primeiro ministro.
    E depois, lembrar, o grande pensador do que também ele teve algum contributo, objectivo e sobretudo subjectivo, para o final triste do PEC IV e que é agora, cada vez maior e mais vizível, como um “quisto maligno” histórico que nem a aliança actual da geringonça, que afinal o tenta exorcisar mas não o desculpa nem o faz esquecer.

  4. SIM FOI DE CAVACO, COM A AJUDA DO CATROGA E DO TEIXEIRA DOS SANTOS, andava a comer a funcionaria Publica aquém dava os documentos do Ministério, para a sessão nocturna_ CAVACO- CATROGA -TEIXEIRA DOS SANTOS. O PASSOS É UM TONTO, SOFRE DE ESQUIZOFRENIA DE RAPIDS. É COMO OS BONECOS ANTIGOS A QUEM SE DAVA CORDA PARA ANDAR.A PRINCIPAL PERSONAGEM FOI A FUNCIONARIA PUBLICA DO MINISTÉRIO DAS FINANÇAS. CHERCHEZ LA FEMME..

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