Lalanda na Le Lé Land

(Por Valupi, in Blog Aspirina B)

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No dia 15 de Dezembro, Lalanda de Castro foi detido na Alemanha na sequência de ter sido emitido um Mandado de Detenção Europeu pelas autoridades portuguesas. Uma semana depois da detenção, as autoridades judiciais alemãs libertaram-no por considerarem sem fundamento legítimo esse mesmo mandado.

No dia 23 de Dezembro, Lalanda aterrou em Lisboa e fez saber que estaria disposto a prestar declarações logo no dia seguinte, ou qualquer outro, assim a Procuradoria-Geral da República o decidisse. Desde esse momento, Lalanda desapareceu do mapa mediático e ao dia de hoje, a esta hora, não se encontra qualquer notícia que permita saber quando irá ser interrogado. A urgência para ouvi-lo é muito menor do que a urgência de o deter e meter no calabouço.

Quem puder, e quiser, que tire as suas conclusões sobre o que o episódio revela a respeito dos abusos da Justiça portuguesa.Este Lalanda, mesmo que saia inocentado (ele há milagres), jamais deixará de ser culpado. Já está ferrado. E, desconheço-o em absoluto, pode realmente ter cometido pelo menos uma ilegalidade, ou uma infinidade delas, dado tratar-se de um ser humano (na sua aparência física). Contudo, quando não se sabe se alguém cometeu algum crime, o mais seguro é partir do princípio de que está inocente até prova em contrário. Nos últimos anos, esta segurança que demorou muitos milhares de anos a conquistar foi substituída pela cultura da calúnia alimentada pela indústria da calúnia. Quem prefere as calúnias à decência e à honra não espera pelas provas, avança a correr para a condenação. No caso, quem melhor fez transitar essa sentença em julgado foi o Henrique Monteiro, no documento judicial intitulado Sangue – o crime brutal. É uma exposição onde o autor começa por assumir-se ignorante acerca da matéria em causa para melhor defender uma perspectiva de Testemunha de Jeová sobre o processo: o sangue é sagrado e não se admitem transfusões de penas relativas. Monteiro aproveita o entusiasmo proselitista para nos voltar a falar de Sócrates, essoutra figura diabólica que igualmente lhe faz ferver o sangue. E consegue ligar os dois casos com aquele tipo de cuspo a que no léxico técnico da rua se chama escarreta. Termina o libelo alegando que não grafa os nomes dos principais suspeitos da Operação O Negativo porque podem estar inocentes ou podem vir a ser considerados culpados. Este é um raciocínio brilhante que se espera venha a fazer escola no jornalismo português. Um rasgo que estou certo nunca ninguém antes, em qualquer parte do mundo, concebeu vígil ou a sonhar. Por fim, na última frase, revela ao que vem: há que decapitar, de lâmina, esses criminosos do sangue (e também Sócrates, para aproveitar a despesa com a montagem do instrumento).À volta deste espectáculo, o Presidente da República, o primeiro-ministro e o Parlamento permanecem esfíngicos. Isto é, fabulosamente irresponsáveis.

Fonte: Lalanda na Le Lé Land | Aspirina B

Um pensamento sobre “Lalanda na Le Lé Land

  1. Qualquer mente minimamente lúcida e informada percebeu que o objectivo não era o Lalanda mas o Sócrates. O tal ex-primeiro ministro que foi preso para se “arrecadarem” provas. Uma inversão absoluta dos princípios civilizacionais do Direito e da Lei, mas muito congruentes com trezentos e tantos anos de Tribunal da Santa Inquisição. Não conheço o Sócrates, não simpatizo com a figura pública, mas simpatizo demasiado com a justiça, para não ficar angustiado. Passados estes longos meses, é claro que os competentíssimos Magistrados continuam aos papéis (literalmente), e precisam que a Imprensa de 5ª classe, e respectivas rascas vozes, os ajudem a agitar o sangue e o Lalande. Essa gente toma todos os portugueses atentos por parvos?

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