O PSD ainda à procura

(Baptista Bastos, in Jornal de Negócios, 18/11/2016)

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Já se viu que Passos Coelho não serve, nem possui estatuto e compleição de combate para períodos desta natureza.


A espectacular descida nas intenções de voto do PSD parece ter desanimado muita gente, incluindo Pedro Passos Coelho. O homem é outro agora, e as suas intervenções públicas são marcadas pela evidência do desânimo. Passos nunca foi, de facto, um dirigente político operoso e com ideias. Um dia, disse ao país que o país tinha de empobrecer. O país estava nas lonas e estremeceu de susto. Ligeiro e breve, Passos aplicou, de imediato, uma série de leis e de princípios que deixaram os portugueses perplexos e mais pobres. Parece que os dirigentes de direita da União Europeia ficaram muito contentes e felizes. Foi uma debandada geral dos nossos mais jovens. Aqueles que tinham beneficiado de bónus e de favorecimentos do Estado escaparam para o estrangeiro, em busca de vida melhor. A maioria nunca mais voltará.

A queda do PSD, nas intenções de voto, deixou os seus dirigentes tão sufocados de ira e de espanto que logo alguns dos mais diligentes decidiram reunir-se para salvar o estado das coisas. Não têm muitas escolhas possíveis. E aquele com mais possibilidades de apoio entendeu-se ser Rui Rio. Assim seja. Mas Rui Rio é animado por um temperamento fogoso, por vezes agressivo, e não agrada a toda a gente do PSD. O problema é que o partido, repara-se agora, não dispõe de gente capaz de enfrentar o grave período actual. Já se viu que Passos Coelho não serve, nem possui estatuto e compleição de combate para períodos desta natureza. E o Governo repartido de António Costa vai singrando, acumulando êxitos e intenções. Mas torna-se cada vez mais claro que a situação não é muito clara.


Na morte de Miguel Veiga

Miguel Veiga, que faleceu com 80 anos, era um dos homens mais íntegros e generosos que conheci. Fundador com Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão e Magalhães Mota do PSD, então PPD, pautou a sua vida por uma dignidade e um comportamento vital que se não dobravam às imposições partidárias do momento. Já o sabia de honra e de integridade, mas a nossa afeição instantânea nasceu num dos encontros internacionais que Mário Soares promoveu no Palácio de Belém, e que reuniu gente como Jorge Semprún, entre muitos outros.

Foram almoços extremamente frutuosos, e muitos de nós registámos o afã gelatinoso de uma criatura de baixo nível e meã estatura, que se diz jornalista, a alterar os cartões que designavam a marcação dos nomes. Uma cena indecorosa, que caracteriza um comportamento e define uma moral.

Miguel Veiga estava afortunado com o talento do génio e o decoro de quem possuía da honra um conceito superlativo. Um dos seus parentes, o grande poeta Luís Veiga Leitão, tivera de fugir da polícia política e instalar-se, durante anos, no Brasil, com a família, entre a qual um filho, que pertenceu ao grupo de cantores de Ney Matogrosso.

A resistência portuguesa foi um grande momento da moral colectiva e um princípio ético sem precedentes, que envolveram parte substancial da população. Miguel Veiga não apreciava a ufanaria de cultivar o que se passara, mas gostava, e dava-se, com muitos daqueles para os quais a nobreza de carácter e a inteireza de princípios faziam parte dos grandes estatutos.

Mais tarde desfiliou-se do PSD, mantendo, no entanto, vivo o princípio ético da resistência. É um querido, grande e inesquecível amigo, que perdurará na minha e em outras memórias portuguesas.

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