Coitado do Moscovici

(Por Estátua de Sal, 18/11/2016)

moscovici

O dia de hoje foi muito interessante em termos da agenda noticiosa das televisões, mormente da SICN. Nunca a D. Avoila dos sindicatos da função pública teve tanto tempo de antena nem a manifestação dos sindicatos da função pública exigindo aumentos de ordenados e descongelamento das carreiras teve tantos diretos. O repórter, de guarda-chuva em riste, coitado, lá ia marchando ao lado dos manifestantes. À D. Avoila, a pergunta mais escaldante e repetida era se a manifestação tinha sido encomendada pelo PCP.

A direita anda há meses a exigir que os sindicatos saiam para a rua para criar problemas à coligação que suporta o Governo. Como não tem, nem gente, nem capacidade de mobilização, nem jeito, nem apaniguados capazes de molhar as botas ou partir os saltos altos dos sapatos nas pedras da calçada, só lhes resta implorar ao PCP que exerça os seus bons encómios junto dos sindicatos que contam (os da CGTP) para que se manifestem. E hoje teve um pequeno brinde.

É claro, que os sindicatos já conhecem de ginjeira estes “cantos de sereia” dos próceres da direita, Montenegros, Coelhos e afins. Só saíram para a rua quando lhes conveio. Isto é, quando decidiram pressionar o Governo na fase final de negociação do Orçamento para 2017, na especialidade.

Em simultâneo, tivemos cá o comissário Moscovici, que veio de propósito de Bruxelas, para vir dizer, alto e bom som, que o Orçamento para 2017 é do melhor “vintage” da zona Euro, um tinto de truz, o deficit é da mais fina porcelana, não há sanções para o país, e os Fundos Estruturais vão jorrar em força dos odres cheios da Europa. E mais: que Portugal foi o melhor aluno na cadeira de Austeridade Aplicada, que frequentou durante os anos da troika, tendo saído do exame com um Muito Bom com distinção e louvor. Mas coitado do Moscovici. Ao lado da D. Avoila, a sua mensagem foi apenas um zumbido para as televisões. As boas notícias não agradam aos comentadores de serviço. O Gomes Ferreira não apareceu a opinar: deve também ter ido à manifestação e, como chovia e o guarda-chuva lhe deve ter empancado, constipou-se e ficou em casa a tomar antigripais.

Acresce que, no bom estilo da televisão do Correio da Manhã, outra notícia houve que mereceu grandes parangonas. Prenderam meia dúzia de militares que a Justiça responsabiliza pela morte dos dois comandos em Setembro último. Finalmente parece que há responsáveis e, temos que convir, apurados em tempo record, tendo em conta o que é normal nestas coisas de Justiça em Portugal.

 Este tema dos comandos também tirou o brilho ao Moscovici. Vem um homem de Bruxelas, esfalfa-se todo, evita falar por Skype, que é bem mais confortável e dá menos canseira, e ninguém lhe liga nenhuma. Achou ele que as notícias eram tão boas que mereciam ser dadas de viva voz, em conferência de imprensa, ao lado do Ministro das Finanças. Pois bem, a maior parte das questões que os jornaleiros de serviço acharam por bem colocar foram sobre a novela da CGD. É claro que, estão sempre como vampiros a virar as antenas para donde lhes cheira a sangue. Corja.

Em síntese e em termos de conclusão. Continuamos a ter uma comunicação social, especialmente a televisiva, a fazer descaradamente oposição ao governo. E nem sequer é tanto por aquilo que cala. É pela ênfase que dá a tudo aquilo que pode causar dificuldades à governação, sobretudo tudo aquilo que possa minar a coligação dos três partidos que apoiam o governo. Dividir para reinar é a máxima da direita, como o foi desde sempre, quer nas práticas de César, de Filipe II da Macedónia, de Napoleão, e nas estratégias propostas por Sun Tzu em A Arte da Guerra.

Que a Geringonça se mantenha coesa e vá navegando contra ventos e marés, e tornando o discurso da direita uma catilinária estéril para os súbditos reverentes e saudosos das práticas pafiosas. Que os partidos políticos á esquerda, que suportam este governo, saibam distinguir o acessório do essencial. E o essencial é manter a direita afastada do poder não por dois, não por quatro anos, mas de forma continuada e perene.

5 pensamentos sobre “Coitado do Moscovici

  1. Desculpe o preciosismo, mas Maquiavel escreveu ‘O Príncipe’. Deve estar a falar do Sun Tzu… Mas eu cá por mim acho que é uma excelente ideia que ninguém preste atenção a Moscovici, não vá o BE, PCP e Verdes darem cabo da Geringonça porque de repente se tornaram aos olhos da UE zelosos cumpridores dos compromissos europeus 😉 …

  2. Bom, meu caro Estatuadesal, mais Príncipe, menos Arte da Guerra, o essencial ficou escrito, bem escrito como é seu hábito, pelo que deve ser divulgado, para que, ainda que paulatinamente, a lusa direita da direita (porque os que oriundos da esquerda dessa mesma direita, porque mais inteligentes e menos arrivistas, já se vergaram às vitórias geringoncianas cada vez mais em evidência) pafiosa vá sendo fustigada e, deste modo, possa ser cumprido o seu/nosso vaticínio/desejo de se continuar, e de forma perene, o seu/nosso essencial!…
    Aquele abraço e a minha habitual solidariedade nestes momentos gloriosos para a lusa história democrática, renascidos a partir da formação da geringonça!…

Deixar uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.