Houve quem antecipasse o resultado

(José Luís S. Curado, in Facebook, 10/11/2016)

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Variadas vezes, no debate público aberto com a campanha eleitoral nos EUA, contra a corrente geral, manifestei a ideia de que Trump tinha grandes possibilidades de ganhar.
Não tenho poderes divinatórios, mas creio que não ia a crédito da instituição democrática a acção conhecida e suspeitada da senadora Clinton. Quer como Secretária de Estado, quando fez cair (com a submissa cumplicidade de certa NATO) sobre esta Europa uma vaga de refugiados provenientes de todos os lugares onde fomentou a guerra e a destruição, quer como concorrente à indigitação pela DNC (Convenção Nacional Democrática) onde usou de todos os expedientes – incluindo essa imprensa que se transmutou em máquina de propaganda disfarçada – para afastar da corrida quem, obviamente, tinha capacidade e crédito humano e político para mobilizar os eleitores, pela esperança na mudança, Bernie Sanders.
Hoje, ante todas as manifestações de surpresa que já li e temores pela “democracia”, escrevi:

Foi este funcionamento desta democracia que gerou Trump e vai gerar fenómenos semelhantes.

Quem podia acreditar numa H. Clinton que se servira de todos os meios para tomar o lugar que pertenceria naturalmente a B. Sanders? Para quem a sistemática mentira desacreditava dia após dia um sistema de empobrecimento colectivo e enriquecimento selectivo?

Quem não podia deixar de temer a porta-estandarte do partido da guerra global, do sangue espalhado por todo o lado no mundo?
Trump?
Vamos a ver. Os Estados Unidos têm um sistema político complexo em que os poderes do presidente têm limitações genéricas (Congresso, Supremo Tribunal) e específicas (Constituições dos estados federados).
Eu, como cidadão não americano, sinto um certo alívio. Atento, mas não tão preocupado como estaria com a vitória dos que fizeram a América tão desesperada da democracia.

É uma advertência séria para os que pensam alegremente que democracia é simplesmente o funcionamento mecânico das instituições, indiferentes à sorte dos que chamam para validar as políticas que empobrecem, embrutecem, desesperam.
É um produto da filosofia neoconservadora.

Talvez essa paz podre dê lugar a um mundo mais seguro, mais pacífico, já que os próceres do aparelho militar-industrial e de Wall Street tiveram uma derrota pelo menos parcial.

2 pensamentos sobre “Houve quem antecipasse o resultado

  1. Infelizmente concordando com as premissas não concordo com as conclusões. O facto de ser verdade que ambos os candidatos eram maus e que as explicações para a vitória do Trump são certas não torna a situação melhor. Haverá dúvidas de que se trata dum bronco, racista misógino e imprevisível nas suas decisões? E que confiança isso pode dar?

    • Maria, não esqueça que o Obama prometeu, por exemplo, encerar Guantánamo! Mas não encerrou! Sabe porquê?
      Então aplicando a mesma “razão de ser” – afinal quem manda não é o presidente – admita que, tal como diz o Zépovinho “muita parra, pouca uva”, o Trump não vai fazer o que quer, mas sim,o que o Congresso deixar!
      O problema é outro, mas que ninguém (dos apoiantes, claro) fala/escreve: O CAPITALISMO, esse hediondo sistema que há mais de 400 anos invade, ocupa, explora, rouba, escraviza, mata, dízima, divide países, faz guerras e com a globalização idolatrou o dinheiro e fez com que 1% tenha tanta riqueza como os 99% restantes! Pense nisso, porque ainda pode ir a tempo. Mas, lembrando, o Titanic também era enorme e inafundável! Faz-me lembrar o CAPITALISMO! Quem sabe se o Trimp não será o ICEBERG a desprender-se!
      Confesso que gostava de cá estar para ver, pois parece-me que nesta viagem, ao contrário do Titanic, o capitalismo financeiro, com a ânsia/ganância com que partiu, nem boias nem botes de salvação se lembrou de levar!…

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